Em raro clima de euforia e união, argentinos acreditam no título da Copa do Mundo

Estadão Conteúdo

Quem chegou à Argentina durante esta Copa do Mundo encontrou um país unido em torno do futebol e apaixonado, sem questionamentos, pela sua seleção. Diante do clima de euforia e de coesão social que reina nestes dias, um estrangeiro desavisado pensará, inclusive, que na Argentina não existe polarização política nem crispação social. Uma miragem gerada pelo bom desempenho no Catar.

“Não tenho lembrança de outro momento assim na história dos Mundiais. Desde que tenho memória, a seleção argentina sempre foi uma máquina de triturar jogadores e técnicos”, compara ao Estadão Nicolás Adi, de 28 anos, quem se descreve em “permanente estado de euforia”.

Nicolás tornou-se uma referência da torcida que lota o principal Fan Fest do país que recebe, a cada jogo da Argentina, entre 30 e 50 mil torcedores, o equivalente a um estádio. Hoje, diante da Croácia, não será diferente. “Noto que esta seleção é uma luz de alegria entre tanta desgraça que há na nossa vida cotidiana. É um alívio que ameniza o que temos vivido”, observa Nicolás, referência à inflação de 100% anual, à desvalorização de 380% do peso argentino em três anos e à violência urbana, fruto dessa desigualdade.

A cada jogo, Yanina Sicilia, de 32 anos, cruza as mãos em forma de oração. Tenta controlar a ansiedade e concentrar-se apenas na euforia.

“Tem sido dias de festa. Vivo com muita alegria, com muita paixão, mas com muitos nervos. O país está feliz. Sinceramente, não pensei que haveria este ambiente de euforia no país neste Mundial. Trazer a taça será como uma carícia n’alma argentina. É como disse o ‘Dibu’ Martínez”, explica Yanina ao Estadão, em referência às palavras do goleiro da seleção, Emiliano Martínez, apelidado de “Dibu”.

Depois de defender dois gols na cobrança de pênaltis contra a Holanda, Martínez dedicou a vitória ao povo argentino. “Sei que o povo está passando um mal momento econômico. Fico feliz de dar-lhe esta alegria”, dedicou.

“É verdade. Estamos passando por uma situação muito difícil na Argentina tanto no campo econômico quanto no político. Então, esta seria uma alegria para o país, algo que amenize esta nossa situação”, concorda Yanina.

CONFIANÇA
A Argentina começou a Copa com uma surpreendente derrota para a Arábia Saudita por 2 a 0, mas recuperou a confiança da torcida a cada nova exibição no caminho até a semifinal. Os jogadores têm crescido de produção em sintonia com os torcedores que, paulatinamente, começam a acreditar cada vez mais numa taça que a seleção não conquista desde 1986.

“A minha expectativa é de que a Argentina possa ganhar sem muitas complicações, mas sempre terminamos sofrendo nos minutos finais. De qualquer forma não há vitória valorizada se não for sofrida. Parece que agora vai”, reflete Derek Baker, de 32 anos.

“Com o Brasil eliminado, aumentam as esperanças da Argentina ganhar o jogo desta semifinal porque o Brasil é sempre um rival muito forte para a Argentina. O que eu sinto neste momento é muita paixão pela Argentina, por esta equipe que se entrega totalmente em campo”, sintetiza Pablo Cavaleiro, de 41 anos.