Há um mês, Walid Regragui era um nome conhecido apenas dos marroquinos. Francês, mas com sólida carreira no Marrocos, onde levou o Wydad, de Casablanca, a títulos importantes na África, como a Liga dos Campeões da África, o técnico de 47 anos foi a solução de emergência para substituir o franco-bósnio Vahid Halilhodzic há oito semanas do início do Mundial do Catar.

Apesar de ter classificado a seleção marroquina para a Copa do Mundo, Halilhodzic pediu demissão após jogadores mais badalados do time, como Hakim Ziyech e Achraf Hakimi, terem anunciado estarem insatisfeitos e cogitarem recusar a convocação, caso fossem chamados a defender o seu país.

Sobrou para Regragui, a poucos dias do início do Mundial, a missão de fazer com que o Marrocos tentasse evitar um vexame no Catar. Mas ele está conseguindo muito mais do que isso: depois de fazer uma campanha surpreendente na fase de grupos (classificou a sua equipe em primeiro lugar, empatando com a Croácia e vencendo Canadá e Bélgica), colocou a seleção marroquina entre as oito melhores do mundo, ao vencer a Espanha nos pênaltis, depois de resistir 120 minutos, contra um rival tecnicamente superior.

Na noite da maior vitória da sua vida, ele recebeu um telefonema do rei Mohamed VI, do Marrocos, para cumprimenta-lo pela sua proeza e foi reverenciado na entrevista coletiva após o jogo até pelos jornalistas marroquinos: em vez de perguntarem, derramaram-se em elogios ao treinador.

Mas agora ele quer mais. “Digo sempre para os jogadores, que não devemos parar. Já que chegamos aqui, nas quartas de final do Mundial, devemos fazer o nosso máximo para ir o mais longe possível”, disse ele, nesta sexta, véspera da partida contra Portugal, valendo vaga na semifinal.

O segredo de Regragui? Conseguir unir um grupo heterogêneo. Fluente em árabe, espanhol, francês e inglês, ele convenceu seus jogadores que, não importa de onde viessem ou tinham nascido, deveriam dar tudo pelo Marrocos. “Qualquer jogador apto a vestir a nossa camisa tem a obrigação de dar tudo, quando está jogando por ela”, disse. Segundo conta, ele dava seu próprio exemplo. Nascido em Corbeille-Éssonnes, nos arredores de Paris, Regragui fez quase toda a sua carreira como jogador em times de segunda linha da França, como Toulouse, Ajaccio e Dijon.

Era um esforçado zagueiro, mas depois que se converteu em treinador passou a interessar-se por estratégias. Claro que também não faltam a ele conhecimento tático. Ciente das limitações técnicas e físicas de sua equipe, a estratégia de Regragui tem sido encurtar ao máximo os espaços dos adversários e, na primeira oportunidade, tentar surpreendê-los com contra-ataques fulminantes.

“Desde que tenham oportunidade, os técnicos africanos podem demonstrar que têm conhecimento”, disse ele. “Não importa o lugar em que nasceram, mas a capacidade.”

Admirador de Pep Guardiola e José Mourinho, Regragui disputará a vaga na semifinal contra o português Fernando Santos, um profundo conhecedor dos esquemas do futebol e que tem um grupo de jogadores considerado mais qualificado do que o dele. “Nossos jogadores vão fazer o que fizeram contra a Espanha: correr muito”, disse ele. “Temos um plano para vencer a partida contra Portugal e quando o assunto é vontade, os jogadores do Marrocos terão mais. Estamos aqui para fazer história”.