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Torcida do Coritiba no Couto Pereira (Crédito: Geraldo Bubniak)

O Conselho Administrativo do Coritiba divulgou nesta sexta-feira (15) uma carta em que explica os últimos três anos de gestão, quando a atual diretoria assumiu, no começo de 2021. Na carta, o clube fala sobre a transformação pela qual passou nos últimos três anos, sobre a falta de dinheiro e sobre o novo rebaixamento – o clube havia caído parta a Série B quando a chapa do então presidente Renato Follador assumiu. De forma geral, a diretoria fala em reconstrução, mas admite falhas que culminaram com o rebaixamento.

A atual gestão do Conselho Administrativo sai do clube ao fim de 2023. Em tese, o Coritiba deveria ter eleições neste ano. Contudo, a eleição foi adiada para que haja alterações no estatuto, necessárias após a chegada da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Em maio deste ano, o clube vendeu 90% da SAF para a Trecoorp, por R$ 1,1 bilhão. Sem eleição antes da virada do ano, a mesa do Conselho Deliberativo assume provisoriamente, através de Jamil Ibrahim Tawil Filho. O Coritiba precisa aprovar o novo estatuto para depois definir a data do pleito para o período 2024-26.

A íntegra da carta:

“Os últimos 3 anos marcaram uma profunda transformação do Coritiba. Um renascimento na teoria e na prática. Com o encerramento desta gestão do Coritiba Foot Ball Club (“Associação”), gostaríamos de colocar no papel uma retrospectiva de onde o clube estava e para onde passou a ir, para que os sócios e torcedores que participaram de alguma forma deste momento se sintam, tanto quanto nós, satisfeitos com o projeto que ajudaram a construir, bem como carreguem consigo os aprendizados que este período deixou.

Em dezembro de 2020, o Coritiba encerrava o décimo segundo ano seguido de prejuízo, seguindo uma dinâmica insustentável de custeio de investimentos no futebol por meio de dívidas e passivos trabalhistas. O destino de outros clubes que seguiram trajetória semelhante deixava claro qual seria a consequência.

Pela frente, um 2021 praticamente sem receitas, com o desafio de estruturar o clube dentro e fora de campo e encontrar uma solução para o endividamento que, sozinho, consumia muitas vezes a capacidade de geração de caixa do clube. Foi esse o ponto de partida a partir do qual, nos três anos seguintes, com apoio de torcedores, sócios, funcionários, prestadores de serviços, atletas e comissões técnicas, uma Revolução começou.

O Coritiba renegociou 100% de suas dívidas, sejam fiscais, cíveis ou trabalhistas, conseguindo não apenas renegociar valores, mas especialmente condições de pagamento, que permitiram ao clube, pela primeira vez, ter um cronograma de pagamentos claro e alinhado com todos, dando fim a uma sequência de ações judiciais, bloqueios e penhoras que impediam a gestão diária do clube.

O Coritiba voltou a ser um clube que paga em dia. Tão importante quanto renegociar centenas de milhões de obrigações do passado foi não aumentar este passivo com novos inadimplementos. O mercado passou a reconhecer o Coritiba como uma organização que cumpre suas obrigações, capaz de atrair profissionais qualificados, dentro e fora do campo.

O Coritiba revitalizou os planos de sócios e ultrapassou a marca de 40 mil sócios adimplentes ao longo deste período. A união entre as alas políticas do clube e a simbiose entre clube e torcida foi fundamental no resgate do orgulho de ser Coxa Branca e na convicção de que o caminho do clube podia, devia e merecia ser diferente, com uma gestão profissional e perspectivas positivas de longo prazo.

O Coritiba voltou a valorizar o seu ativo, aumentando de modo significativo a receita com patrocínios e aluguel do Couto Pereira para shows, consolidando nosso estádio como referência de eventos no sul do Brasil.

O Coritiba participou ativamente da concepção, negociação e estruturação da Liga Forte. Um trabalho de anos que se materializou ao longo de 2023 com a assinatura do contrato, fundamental para as pretensões financeiras do clube e para a confirmação do Coritiba entre os grandes do país, estando em posição de destaque em termos de valores recebidos entre os clubes signatários.

O Coritiba voltou a subir no Ranking da CBF, fundamental para a gestão das categorias de base, cujas principais competições são disputadas apenas pelos 20 melhores do ranking. O clube saiu da vigésima sexta posição em 2021 para a vigésima primeira posição em 2023, estando no caminho para voltar aos 20 melhores nos próximos anos. Enquanto isso, disputou e venceu pela primeira vez a Copa do Brasil sub-20 e voltou a revelar talentos, que devem se tornar uma fonte de receita ainda mais importante nos próximos anos. Há muito não tínhamos tantos atletas convocados para as categorias de base da seleção brasileira quanto tivemos neste triênio.

O Coritiba desenvolveu e avançou com a aprovação de dois projetos de suma importância para a sua infraestrutura: o novo Centro de Treinamento em Campina Grande e a revitalização do Couto Pereira. A execução de ambos está prevista no contrato assinado com os fundos de investimento geridos pela Treecorp na negociação da SAF e deve ocorrer ao longo dos próximos anos.

O Coritiba quebrou a sequência interminável e insustentável de prejuízos e gerou lucro líquido contábil de 2021 a 2023. De forma inédita em sua história, a situação financeira do clube foi equilibrada, dentro de uma governança sólida e auditada por empresa de auditoria de primeira linha. Embora saibamos que no curto prazo a disponibilidade de recursos não garante o sucesso dentro de campo, também sabemos que, no longo prazo, a correlação entre os dois é elevada. Com a continuidade deste cenário, resultados positivos são a consequência natural ao longo do tempo.

Estas conquistas e melhorias não foram fáceis. O tempo não volta para vermos para onde o clube teria ido se nestes três anos o caminho tivesse sido diferente, dando sequência ao que se observou nos muitos anos anteriores. Contudo, não é difícil imaginar que a SAF, hoje uma realidade com investimentos previstos de mais de 1,3 bilhão de reais em 10 anos, teria sido negociada em condições bastante diferentes, não apenas em termos de valores, mas também em relação aos direitos, garantias e perspectivas que o clube hoje resguardou. Vemos esta negociação, portanto, como um marco a ser celebrado e a semente de frutos que de outra forma não teriam sido possíveis.

A própria Série B, que por óbvio lamentamos disputar em 2024, já será um desafio bastante diferente. Em 2021, sem fontes disponíveis de capital, o acesso foi conquistado em uma disputa em que clubes como Vasco e Cruzeiro não conseguiram o mesmo êxito. Em 2024, o Coritiba terá condições de planejar um bom ano, retornar à Série A e solidificar a base do que virão a ser as conquistas do futuro.

Aproveitamos essa constatação para também reconhecer que falhamos. Felizmente, em grande parte das vezes, aprendemos e corrigimos rapidamente. O futebol não é diferente do mundo corporativo, em que os erros precedem o sucesso, desde que identificados em tempo e seguidos das devidas lições aprendidas.

O sucesso financeiro desta gestão da Associação, porém, teria sido ainda maior se determinadas contratações tivessem dado o retorno que esperávamos. Isso poderia também ter viabilizado um desempenho esportivo melhor, especialmente em 2023. Da mesma forma, a transição para a SAF ter sido realizada ao longo do ano, com as competições em andamento, trouxe desafios adicionais. Não apenas pelo tempo necessário para que aqueles que chegaram pudessem construir suas relações e colocar em prática as suas ideias, mas também pelo fato de que os recursos viabilizados ao clube, com a operação da SAF e da Liga Forte, estiveram disponíveis apenas após as principais janelas de contratações. Tal descasamento de prazos afastou do Coritiba atletas com quem negociamos mas que optaram por seguir em outros clubes e contribuiu para um percentual de sucesso abaixo do esperado em contratações.

Para 2024, esperamos um clube profissional e organizado, em condições de planejar com antecedência e de materializar as ambições alinhadas com a Treecorp na operação da SAF.

Esperamos que os valores que marcaram essa gestão da Associação – ética, responsabilidade financeira e cumprimento integral de obrigações – marquem também a gestão da SAF.

Esperamos a gestão do futebol como negócio, com o torcedor do Coritiba no centro, capaz de gerar resultado aos acionistas e alegria aos milhões de torcedores. Com estes valores em prática, estamos certos que o futuro do Coritiba será do tamanho que a sua torcida merece.

Obrigado a todos que ajudaram nesta reconstrução, que, com o carinho e a saudade que sentimos pelo Presidente Renato Follador, mentor intelectual do que vivemos, nos permitimos batizar de Revolução. O renascimento financeiro do clube, viabilizado em apenas três anos com absoluto respeito à nossa história, sem qualquer benesse política ou uso de recursos públicos, foi apenas o primeiro passo. O Coritiba está vivo e pronto para fazer história na nova era do futebol profissional.

Assinam esta nota os membros do Conselho Administrativo e os Diretores Institucionais da Associação, os quais apoiaram o clube ao longo da gestão e contribuíram com estes avanços dentro de suas áreas de competência.

Conselho Administrativo

Juarez Moraes e Silva
Glenn Stenger
Osiris Pontoni Klamas
Jair José de Souza
Mauricio Gulin

Diretores Institucionais

Vilson Ribeiro de Andrade
Leonardo Boguszewski
Nadir Elache Filho