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Divulgação / Adriano Rattmann

Caio Júnior, ex-atacante e ex-treinador, marcou época no futebol paranaense. Nascido em Cascavel (oeste do Paraná), encerrou a carreira no Iraty, em 1998, mas antes foi protagonista na conquista do título estadual de 1997 com o Paraná Clube. Em 2006, levou o mesmo Paraná Clube ao 5º lugar no Brasileirão, o que rendeu uma classificação inédita para a Copa Libertadores da América em 2007.

Infelizmente, Caio Júnior foi uma das vítimas do acidente de avião que envolveu o time da Chapecoense, em 29 de novembro de 2016. Ele foi uma das 65 pessoas que perderam a vida naquela tragédia aérea em solo colombiano.

A trajetória de Caio Júnior foi registrada no livro ‘Caio Jr: o ídolo, o ser humano e sua inesquecível jornada’, escrito pelo jornalista Adriano Rattmann, que conheceu Caio em 2001 e a partir de 2002 tornou-se assessor de imprensa pessoal do ex-jogador e ex-treinador. A obra será lançada nesta quinta-feira (14), das 17 às 20 horas, na Biblioteca Pública do Paraná. A pré-venda está disponível desde o dia 29 de novembro, dia em que se completa sete anos da tragédia, no site: www.caiojunior.com.br, ao preço de R$ 60,00. Sobre o livro e sobre Caio Júnior, Rattmann deu a seguinte entrevista ao Bem Paraná.

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Adriano Rattmann e Caio Júnior (foto: arquivo pessoal / Adriano Rattman)

Bem Paraná: De onde vieram as ideias para o livro?

Adriano Rattmann: O Caio sempre teve vontade de ter um livro. Chegamos a nos reunir algumas vezes e gravamos longas entrevistas falando do trabalho dele. Como montar uma equipe, pré-temporada, comissão técnica, gerenciamento de equipe, relacionamento com a imprensa, diretoria e torcida, enfim, vários aspectos inerentes à função de treinador. Um mês antes do trágico acidente, o Thiago Pereira, que trabalhava comigo, me fez uma surpresa com um vídeo de vários amigos e o Caio enviou uma mensagem de parabéns que no final dizia: “Guri, ainda vamos escrever meu livro juntos”. Então, eu estava com essa dívida com ele e na pandemia, quando não se podia sair de casa, resolvi mergulhar nessa história. Fiz mais de cem entrevistas que, aliadas a um manuscrito deixado pelo Caio, os 13 anos de assessor de imprensa e a ajuda fundamental da família, me deram condições de escrever essa biografia.

Bem Paraná: Quando você começou a ter mais contato com Caio Júnior?

Rattmann: Ele foi contratado como coordenador técnico do Coritiba em 2001 e eu era o assessor de imprensa do clube. Nós nos aproximados, dividíamos quarto nas viagens e iniciamos uma amizade. Mas em 2002, quando assumiu o Cianorte eu me tornei seu assessor de imprensa pessoal. E assim pude conhecer vários países e estive presente nos principais momentos de sua carreira. 

Bem Paraná: O nome de Caio Júnior era Luiz Carlos Saroli. Quando e como ele se tornou Caio Júnior?

Rattmann: Era comum na família as crianças terem nomes diferentes. O irmão Chico, por exemplo, se chama Celso, o outro irmão, o Tinho, se chama Wlademir… Já o Júnior surgiu porque em seu primeiro jogo como profissional pelo Grêmio, aos 18 anos, quando saiu a escalação, os setoristas das rádios Gaúcha e Guaíba resolveram chamá-lo de Caio do Júnior, porque já havia um jogador chamado Caio no profissional do time. Com o tempo, virou Caio Júnior.

Bem Paraná: Como jogador, qual o clube que Caio se sentiu mais identificado?

Rattmann: No Grêmio, porque foi lá se foi formado, foi campeão na base, jogou três temporadas como profissional e foi artilheiro do Campeonato Gaúcho aos 20 anos, em 1985. Mas no Paraná Clube ele teve um momento muito bacana. Depois de quase parar de jogar por conta de lesão, ressurgiu para o futebol com a camisa tricolor e fez dois gols no jogo em que o Paraná conquistou o pentacampeonato.

Bem Paraná: Das aventuras de Caio Júnior como jogador, qual você considera a mais marcante?

Rattmann: Acho que foi um jogo na antiga Tchecoslováquia pela Copa da UEFA (atual Liga Europa da UEFA) com 10 graus negativos. Na noite da véspera do jogo, nevou muito na cidade e os adversários, estrategicamente, não colocaram proteção contra a neve no gramado, deixando o campo com um gelo duro. Sem chuteira adequada para jogar naquelas condições, a comissão técnica comprou parafusos, que foram colocados embaixo das chuteiras e camuflados com borrachas que tampavam as pontas. No intervalo, muitos jogadores estavam com os pés sangrando porque os parafusos, que foram colocados para evitar que deslizassem no gelo, acabaram furando as palmilhas e machucavam os pés. O time foi desclassificado nos pênaltis após perder por 2 a 0.

Bem Paraná: Caio Júnior chegou a ser dirigente por um tempo. Mas a carreira nesse ramo não durou muito. O que ele diz sobre isso?

Rattmann: Foi uma boa experiência, serviu como aprendizado. Mas teve dificuldade principalmente na hora de demitir jogadores. A responsabilidade era dele em comunicar os que não permaneceriam para a temporada seguinte. Mas era necessário para poder montar um novo elenco, já que essa era a parte que mais gostava.

Bem Paraná: Houve algum treinador no qual Caio Júnior se espelhou?

Rattmann: Sim. O Paulo Autuori, que foi seu treinador no Vitória de Guimarães, sempre foi uma referência. Outro com o qual tinha uma relação quase de pai e filho era o português João Alves com quem ele jogou no mesmo Vitória de Guimarães, mas também no Belenenses e no Estrela Amadora.

Bem Paraná: Das aventuras de Caio Júnior como técnico no exterior, qual você considera a mais marcante?

Rattmann: Foi um jogo incrível que aconteceu pela Champions League da Ásia. Seu time, o Al Gharafa, do Qatar, havia perdido o primeiro jogo das quartas-de-final por 3 a 0 na Arábia Saudita para o Al-Hilal, que tinha o curitibano Thiago Neves. Quase ninguém acreditava na reversão do placar, principalmente porque o time não contaria com seu principal jogador, Juninho Pernambucano, que estava suspenso. Mas o Caio acreditava. E o time fez 3 a 0 no primeiro tempo em Doha. O placar se manteve no segundo tempo e na prorrogação o Al Gharafa fez 4 a 0. O árbitro disse que sentiu uma contusão e foi substituído. Em seguida, o novo árbitro não deu um pênalti claro para o Al Gharafa, revoltando Caio Júnior. E para piorar a situação, o adversário marcou dois seguidos acabando com o sonho de vencer a competição mais importante da Ásia. Ao final da partida, Caio Júnior tentava invadir o campo e era segurado por um homem de burca. Ele se arrastava de joelho levando o homem com ele. A cena ficou marcada no futebol árabe.

Bem Paraná: Como os filhos de Caio Júnior têm levado o legado do pai?

Rattmann: Além dos ensinamentos de pai para filho, eles cresceram com a vivência do futebol, em vestiários, estádios, enfim, ambientes comuns a quem sempre viveu da bola. Isso, de certa forma os incentivou e também facilitou a capacitação deles para trabalharem com futebol. Ambos estão no Hope Internacional. O Matheus é diretor de futebol e o Gabriel é técnico do sub-16 e auxiliar técnico do profissional.