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Equipe campeã: busca de parceiros para ajudar no sonho (Franklin de Freitas)

No último mês de junho foi disputado em Curitiba o Campeonato Paranaense de Kung Fu, ocasião em que a equipe da TAO Artes Marciais acabou sendo um dos grandes destaques. Consagrada a melhor academia da Capital e a segunda melhor do Paraná, a academia classificou 15 atletas para o Campeonato Brasileiro da modalidade, que será disputado em Brasília (DF) entre os dias 30 de outubro e 4 de novembro. E agora, busca ajuda e parceiros para viabilizar a empreitada.

Fundada há 12 anos, a TAO Artes Marciais oferece aulas de Kung Fu tradicional (o Shaolin do Jorte), de Shuai jiao (o wrestling chinês, considerada a luta mais antiga do mundo), de Tai Chi Chuan, de Jiu-Jitsu e de Pilates. Alunos de todas as idades, dos três aos 94 anos, são atendidos pela academia, que também faz um importante trabalho de inclusão, atendendo tanto alunos típicos como atípicos – entre eles, pessoas com autismo, TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), TOD (transtorno opositor desafiador) e também síndrome de down.

Para o Campeonato Brasileiro de Kung Fu, por exemplo, a academia conseguiu classificar 15 atletas, dentre eles dois com espectro autista. Tudo fruto de um trabalho intenso, que envolve não só muito suor, mas também muito amor e dedicação.

“Fizemos um treinamento acirrado de dois meses, capacitando todos os alunos que foram indicados ou manifestaram interesse em estar lá [no Campeonato Paranaense]. E tivemos um aproveitamento ótimo, conquistamos muitas medalhas”, celebra Grasiele Canalli de Lima, líder da academia. “15 atletas da nossa academia foram convocados [a participar do Brasileiro representando a Federação Paranaense] e estamos vendo com as famílias pra ver quem realmente vai conseguir ir pra lá”, conta ainda ela.

Para viabilizar a empreitada em nível nacional, a TAO está em busca de parceiros que consigam ajudar no custeio da viagem. Além de parceria com empresas e doações de pessoas físicas, a academia também deve começar a lançar em breve rifas e até realizar eventos para conseguir arrecadar fundos.

“Estamos em busca de apoio para viabilizar, porque é caro [a viagem]. Adulto até pode ir sozinho, mas uma criança tem que ir com o pai, a mãe, e isso tudo envolve investimento. Nós não temos uma verba específica pra isso, então estamos nos mobilizando”, comenta Grasiele, convidando quem puder ajudar de alguma forma a entrar em contato com a academia através do WhatsApp, pelo número (41) 3019-6642.

“Por ali a gente pode passar nosso PIX e, em troca da ajuda, fazemos a divulgação dessa empresa, vamos levar ela ao subir no pódio com um banner que traz a logo marca… e as rifas, os eventos, vamos divulgar nas redes sociais. Hoje mesmo recebemos a doação de um teclado eletrônico, um teclado novo, e vamos fazer uma rifa daí”, explica ainda ela.

Uma história de superação e um trabalho que transforma vidas

A TAO Artes Marciais foi fundada em 2012, por Grasiele e seu ex-marido, Dorvalino Sezino de Lima. Ele, que na época já era professor de Kung Fu, sempre insistiu para que a esposa também começasse a treinar. E ela, que desde o início ajudava em questões burocráticas e administrativas, resistiu aos convites por um tempo. “Eu não dava muita bola. Mas quando eu tive o meu primeiro o filho, o Ângelo, que tem autismo, eu vi o resultado que essa atividade proporcionou na vida dele, incluindo ele, deixando ele melhor, mais ágil. E daí eu disse ‘opa, também quero ser melhor’. E aí comecei a treinar também”, conta ela.

Em 2017, no entanto, um acidente acabou transformando tudo. É que Dorvalino acabou caindo um dia do telhado da academia e ficou paraplégico. Grasiele, então, se viu na seguinte situação: ou ela assumia a academia sozinha, ou então a história da TAO Artes Marciais chegava precocemente ao fim. “Na época a gente tinha 130 crianças, muitas delas de projeto de inclusão, de um centro social. Aí chamei os mestres e ralei para conseguir estar onde estou hoje, tendo a assessoria dos melhores para poder, também, ficar melhor.”

Com sua história de vida, o trabalho de inclusão acabou se tornando um dos pontos fortes da academia, característica que é mantida até hoje. Um trabalho, explica o professor de Jiu-jitsu Odair Justino da Costa, que transforma a vida dos próprios professores, dos alunos e também de suas famílias.

“A arte marcial é rica em um monte de de itens do lado do bem. Então, você aprende respeito, você aprende disciplina, você aprende organização, você aprende como tratar as pessoas melhor, você aprende hierarquia. São diversos os benefícios que a arte marcial traz, sabe?! E isso é uma filosofia que a gente leva pra vida, não fica só aqui no tatame”, afirma ele.

O poder transformador do Kung Fu e das artes marciais

Sthefani Peruncelli, de 36 anos, é um exemplo vivo do poder transformador das artes marciais. Além de autista, ela também tem TDAH e sofre com dificuldade de aprendizado, situação que a fazia enfrentar muitas dificuldades na hora de socializar e também de tentar aprender alguma coisa. Isso até que há um ano ela começou a treinar, incentivada por seu marido, que também estava em busca de alguma atividade física.

“Quando eu cheguei aqui, não abraçava, não tocava, não encostava em ninguém. Cumprimentava meio à distância e ficava muito desconfortável com as pessoas. E aqui eu fui abraçada, sabe? Os professores tiveram paciência comigo, nunca desistiram de mim, mesmo quando eu achava que ia desistir. E isso fez com que eu melhorasse muito, e em tudo: eu comecei a abraçar as pessoas, a não ficar desconfortável perto das pessoas. Eu até comecei a fazer o Shuai Jiao, que é uma arte de contato. Foi uma evolução, um impacto muito grande na minha vida”, exalta ela, que conquistou duas medalhas de ouro no Campeonato Paranaense (nas modalidades Shaolin do Norte e no Shuai jiaio) e se classificou para o nacional.

Já Miguel Afonso Bressan também é autista e começou as aulas de Kung Fu há dois anos, após se encantar por filmes como Kung Fu Panda. No Campeonato Paranaense, ganhou uma medalhas de ouro, na modalidade Shaolin do Norte, e pretende seguir se preparando para mostrar para todo mundo – especialmente para sua família e amigos – que ele poderia se salvar caso fosse apanhado.

“Estou aprendendo a me defender, porque eu tenho um coração de guerreiro e estou tentando impressionar os professores. E no futuro eu vou mostrar pra minha família que eu sei me defender lutando com os ninjas malvados ou com um vilão por aí e que eu vou sempre proteger a minha família quando estão em perigo”, diz ele.