Juliana em treino do Imperial (Crédito: Valquir Aureliano)

Juliana Cristina da Luz, 36 anos, é o retrato do futebol feminino no Paraná. Começou a jogar com sete anos e nunca ganhou dinheiro com o esporte. Recebeu a chamada “ajuda de custo” de alguns clubes, mas teve que lutar a cada dia para manter vivo o sonho de praticar o esporte. Viveu aventuras e ganhou títulos. Trabalhou como diarista para pagar as contas e sustentar os dois filhos, ambos praticantes de futebol. Hoje leva a vida jogando pelo Imperial, que tem parceria com o Coritiba, e trabalhando na oficina mecânica do irmão.

“Nunca ganhei dinheiro com o futebol”, conta Juliana. “Se um dia fosse escrever um livro, seria que nunca ganhei um centavo, mas fui muito feliz”, diz. “Ganhei ajuda de custo, passagem de ônibus, chuteira. Algo que precisava, os clubes ajudavam. Às vezes, ganhava dinheiro por gols, algo assim”, comenta. “Várias vezes tive que tirar dinheiro de dentro de casa para poder continuar”, lembra.

No início, como quase todas as jogadoras brasileiras, teve que jogar com os meninos, pela falta de equipes femininas. Dos 7 aos 10 anos, praticou o esporte na escola, no meio dos garotos. Aos 10, passou a treinar com os meninos do Ypiranga, clube amador de Curitiba.

Além da bola, Juliana também se dedicou aos estudos e completou o ensino médio. No entanto, teve que parar duas vezes. “Até comecei a faculdade depois do meu segundo filho. Consegui uma bolsa para fazer Educação Física, mas parei na pandemia. E não voltei mais”, conta.

Os dois filhos são apaixonados por futebol, praticam o esporte e contam com o apoio da mãe. Da mesma forma que Juliana recebeu o apoio dos pais. “Meu pai tem sete filhos, quatro homens. E sempre foi apaixonado por futebol. Jogou e quase foi profissional. E nenhum filho gostava de futebol. Eu tinha as pernas tortas e ele tinha esperança que eu gostaria. Até ganhei tratamento para as pernas aos oito anos. E ele não quis fazer, porque disse que eu ia jogar. Ele e minha mãe iam aos jogos. Sempre me apoiaram. Não financeiramente. Eles não tinham condições”, conta Juliana, explicando que recebia doações de chuteiras e material esportivo para conseguir praticar o esporte.

Na categoria adulto, Juliana foi tetracampeã estadual pelo Novo Mundo, de Curitiba, mas perdeu um momento histórico. Em 2009, o clube recebeu o Santos, de Marta e Cristiane, no Couto Pereira, pela Copa Brasil. O estádio recebeu 8.517 torcedores para ver a goleada por 4 a 0 do time paulista. Ela ficou de fora da partida por ainda estar se recuperando da gravidez.

Naquela época, a jogadora fez de tudo um pouco em campo. “Joguei em todas as posições no Novo Mundo. Até de goleira uma vez que a nossa titular se atrasou”, conta. “O auge foi de atacante. Fiz muitos gols num campeonato paranaense. Mas a posição que mais joguei lá foi de lateral direita ou esquerda”, lembra.

Pouco tempo depois, o projeto de futebol feminino do Novo Mundo acabou. “Parei por mais uma gravidez e fiquei algum tempo sem jogar. Depois joguei Fut 7. Até que me chamaram para o Imperial”, explica. Em 2022, o Coritiba fechou uma parceria com o clube amador para ter uma equipe feminina. “Quando fizemos a parceria com o Coxa, meus filhos foram ao auge da felicidade. Falam pra todo mundo que jogo no Coxa, que já usei a 10 do Coxa”, afirma.

Se tem o apoio irrestrito dos filhos, Juliana ainda se incomoda com o machismo em certos espaços. “Qualquer postagem sobre o futebol feminino, os comentários machistas são horríveis. É difícil ver. Dói saber o que pensam e falam sobre nossa história. A diferença está apenas em ser homem e mulher. A paixão pelo futebol e a luta da mulherada é muito grande. E dentro de campo é muito bonito de se ver também. E seria muito mais se tivéssemos apoio, tanto financeiro como nas arquibancadas”, desabafa.