O estádio Atílio Gionédis, em Campo Largo, casa do Hope Internacional (Crédito: Valquir Aureliano)

Um novo clube de futebol surge na Grande Curitiba. Novas ideias e uma nova metodologia de trabalho entram em campo no esporte paranaense. Tudo comandado por figuras já conhecidas do mundo da bola.

Esse é o Hope Internacional Futebol Clube, fundado em maio de 2022, com sede em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba.

Mesmo jovem, o clube já começa sua história registrando um recorde no futebol brasileiro. E promete bater mais uma marca nacional em breve.

O primeiro recorde está ligado ao foco principal do projeto: dar espaço para novatos. O Hope montou em 2022 o time profissional mais jovem do Brasil, com média de idade de 17,8 anos. Para 2023, a ideia é manter a mesma linha, com uma equipe formada por revelações das categorias de base e com apenas dois veteranos.

Um desses veteranos, aliás, está prestes a registrar um recorde no futebol brasileiro. Marcelo Lipatin, que pendurou as chuteiras em 2010, decidiu entrar em campo novamente, aos 46 anos. Será o mais velho em atividade no país nessa modalidade.

Lipatin fundou o Hope junto com Ygor Feltrim e Matheus Saroli. O trio, que tem muita história dentro do futebol, abriu as portas do clube para a reportagem do Bem Paraná conhecer detalhes desse audacioso projeto.

Matheus Saroli, Milton do Ó e Marcelo Lipatin (Crédito: Valquir Aureliano)

Hope aposta nos jovens, chega a 290 jogadores e se opõe à pressa dos grandes clubes

O meia Tcheco tinha 22 anos quando foi dispensado pelo Paraná Clube. Formado no próprio clube e com histórico de craque do futsal, foi tratado como um ‘subproduto’ por ‘gestores’ do Tricolor naquela época. Saiu pela porta dos fundos, mas acabou provando sua qualidade logo em seguida, no Malutrom, clube de Curitiba que se especializou em dar espaço aos jogadores mal aproveitados por Athletico, Coritiba e Paraná. Depois, Tcheco ganhou o status de maestro do meio-campo e brilhou por Coritiba, Grêmio, Santos e Corinthians.

Marcelo Lipatin foi outra vítima da pressa e do ‘resultadismo’ que imperava na Vila Capanema. Craque do futsal e com boa história na base, acabou dispensado pelo Paraná Clube aos 18 anos. Em seguida, assinou com o Paris Saint Germain. “Como que eu não servia para o Paraná Clube, mas servia para o PSG?”, questiona o jogador, hoje com 46 anos e CEO do Hope Internacional.

O projeto do novo clube de Campo Largo é mudar essa mentalidade imediatista e ter paciência na formação de jogadores. “Às vezes não se dá o tempo que o jogador precisa, não se tem paciência com o atleta. Athletico e Coritiba não podem esperar, mas nós podemos”, afirma Lipatin.

Apesar de histórias como as de Lipatin e Tcheco servirem de inspiração para o Hope, a origem do clube é outra. “Eu tinha vários atletas jovens, só que não tinha encaminhamento deles para clubes maiores. Fiz a parceria com o Marcelo (Lipatin). Ele fez a proposta para trazer os meninos para os cuidados dele e daí já nasceu o Hope”, conta Ygor Feltrim, hoje presidente do clube de Campo Largo e que antes comandava o projeto do Renovicente, clube amador de Curitiba com foco em jogadores sub-15.

“O trabalho do Ygor no Renovicente não ficava atrás dos grandes clubes”, conta Lipatin. “Só que, quando o atleta chegava aos 15 anos e não era captado por outros clubes, a carreira dele morria no meio do caminho. Queria trazer esperança para esses meninos, algo real, palpável, para que não ficasse nos 15. Ampliamos a ‘hope’ deles, a esperança”, explica o CEO.

Enquanto os clubes tradicionais criam redes de ‘olheiros’, mapeando garotos em toda América do Sul, o Hope aposta na Região Metropolitana de Curitiba. “Não precisamos ir até o Nordeste buscar essas joias. Tem muitos atletas bons na região, que se forem trabalhados fisica, técnica e emocionalmente, que é o nosso diferencial, eles conseguem atingir o seu nível de performance mais alto. E ampliar a ‘hope’ deles, a esperança para uma carreira futura”, diz Lipatin.

Com esse foco, o Hope virou um clube profissional em maio de 2022. E disputou a terceira divisão do Campeonato Paranaense do ano passado – terminou em 11º lugar entre os 13 clubes, usando o time profissional mais jovem do Brasil, com média de 17,8 anos. Todos os jogadores oriundos do projeto de base.

No total, o clube de Campo Largo tem 290 atletas no futebol de campo, somando todas as categorias, que começam no sub-13 e vão até o profissional. E não é só isso. A base do Hope inicia no futsal, com equipes desde o sub-6 até o sub-14. A ideia é formar nas quadras gerações como as de Lipatin, Tcheco, Alex, Lúcio Flávio, Marcelinho, Ricardinho e Castorzinho, que surgiram no futsal paranaense e brilharam nos gramados.

E, mesmo com pouco tempo, o Hope já tem títulos e atletas de destaque. O clube já foi campeão brasileiro de futsal na categoria sub-9. E revelou o meia Jhon Jhon, de 20 anos, hoje no Palmeiras. Outras revelações são Kaike, Lima e Kahue, do Operário, Wilker e Brandão, do Londrina, Azaf, do sub-20 do Coritiba, e Darlysson, do Botafogo-SP. Além deles, outros 14 jogadores formados pela equipe de Campo Largo estão na base de clubes tradicionais.

O projeto do futsal do Hope é comandado por Sandro Mendes, com o suporte de Isaac Brito Jr. “São profissionais com muita experiência e extremamente vitoriosos no futsal”, afirma Matheus Saroli.

SAF
O Hope Internacional já tem planos para virar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) em 2024 e atrair investidores. No futebol paranaense, o principal exemplo, por enquanto, é o Coritiba, que teve 90% da sua SAF comprada em 2023 pela Treecorp, grupo que promete investir R$ 1,3 bilhão em dez anos.