SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O segundo maior surto de ebola da história se espalha rapidamente pelas cidades do leste da República Democrática do Congo, e especialistas temem que o estoque de vacina não será suficiente para conter a epidemia.

Butembo, cidade com mais de 1 milhão de moradores perto da fronteira com Uganda, registrou na semana passada seus primeiros casos de morte pelo ebola. Segundo a organização Médicos Sem Fronteiras, o número de novos casos cresce justamente nos subúrbios do leste do país e nos distritos rurais mais isolados.

O novo surto de ebola foi declarado no dia 1º de agosto, cerca de uma semana depois de o país anunciar o fim de uma epidemia de dez semanas, que deixou 33 mortos.

Ele já é o segundo maior surto da doença da história, com 494 casos registrados, dos quais 446 foram confirmados, incluindo 235 mortes, segundo balanço do Ministério da Saúde divulgado na segunda-feira (10).

Perde apenas para a epidemia de ebola que atingiu a região da África Ocidental, que inclui Guiné, Libéria e Serra Leoa, de 2014 a 2016 e deixou mais de 28 mil infectados, entre eles 11,3 mil mortos.

Os primeiros casos do novo surto foram registrados na região de Beni, a cerca de 60 km de Butembo e bastião de uma milícia islâmica ligada a Uganda chamada Forças Democráticas Aliadas (ADF).

A contenção da doença é dificultada pelos ataques da ADF. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos deixou de atuar na região por falta de segurança.

Para conter a doença, a República Democrática do Congo conta com uma vacina experimental. Sem ela, alega o Ministério da Saúde, o número de casos de ebola no país teria ultrapassado os 10 mil.

Mesmo com a vacina, há preocupações com a capacidade das autoridades congolesas de imunizarem as pessoas a tempo com a chegada do vírus às regiões mais populosas. A fabricante Merck disse ter um estoque de 300 mil vacinas e que um novo lote demoraria meses para ficar pronto.

Por enquanto, recebem imunização apenas funcionários de saúde e pessoas que tiveram contato direto com vítimas ou que morem em uma área próxima a um caso confirmado, estratégia para tentar conter a contaminação.

O chefe da OMS (Organização Mundial da Saúde), Peter Salama, alerta que a tática não funciona quando se trata de uma epidemia em cidades do porte de Butembo, mas o país não tem recursos para expandir a vacinação para um número mais significativo da população, cerca de 81 milhões de pessoas.

Atrapalha também a dificuldade de acesso à informação e o receio do diagnóstico, que na prática significa entrar em total isolamento, incluindo se afastar da própria família.

Uma das doenças mais temidas do mundo, o ebola é uma febre hemorrágica causada por vírus que, em casos extremos, causa sangramento fatal em órgãos internos. A taxa de mortalidade média é de cerca de 50%, variando de 25% a 90%, segundo a OMS.