Dissemos, no artigo anterior, que a língua portuguesa no Brasil é proclítica. Tanto é assim que o Manual Geral de Redação da Folha de S. Paulo resume sua orientação alertando para este ponto: “Atualmente o pronome é colocado antes do verbo haja ou não uma palavra que o atraia (pronome relativo, negações etc.). Mas em pelo menos um caso usa-se o pronome depois do verbo: início de oração”.


 


Proibições – Há apenas duas situações inviáveis:


 


1) a ênclise com os tempos futuros; em outros termos: colocar o pronome átono depois dos verbos no futuro do presente e do pretérito do indicativo e no futuro do subjuntivo:


     L *fazerei-me / faria-nos / diriam-se / se disser-te / quando puse-las / se trouxe-las etc.


 


2) o pronome átono depois do particípio: L *Eu já teria aposentado-me se ganhasse bem.


 


Se aplicar a orientação de sempre usar o pronome na frente do verbo, você já não corre o risco de cometer esse erro de ênclise. Como corrigir essas situações, então? Usar a próclise colocando um sujeito explícito antes do verbo, para não deixar o pronome no início da frase:


     J Eu me benzerei; ele nos faria um favor; se te dis! ser; quando (eu) as puser no lugar; eles se diriam magoados. Ficarei feliz se (você) as trouxer junto.


     J Eu já teria me aposentado se ganhasse bem.


 


 


Começo de frase
 


Ainda não aceita na linguagem culta formal, a colocação do pronome átono em início de frase é permitida na linguagem informal e nos diálogos – pode ser “proibida”, mas não é inviável. Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1985:307), observam que essa possibilidade – especialmente com a forma me – é característica do português do Brasil e também do português falado nas repúblicas africanas. E citam exemplos de Erico Veríssimo e Luandino Vieira, respectivamente: Me desculpe se falei demais. / Me arrepio todo…


 


E já escrevia Mário de Andrade, em “Turista Aprendiz”: Se sente que o dia vai sair por detrás do mato. Em todo caso, deve-se evitar o uso do pronome “se” no começo da frase porque ele pode induzir o leitor a pensar que se trata da conjunção condicional se.


 


 


Locução verbal
 


Relembrando: locução verbal é a reunião de dois ou mais verbos para exprimir uma só ação. O primeiro verbo é chamado auxiliar; o último é o principal e está sempre no infinitivo, no gerúndio ou no particípio. Há mais de uma possibilidade de colocação pronominal na locução verbal. No Brasil é mais comum o pronome proclítico ao verbo principal, ou seja, o pronome fica solto (sem hífen) por se ligar ao infinitivo, gerúndio ou particípio como semi-átono. Exemplos:


 


 


           1)  Auxiliar + Infinitivo


               Quero lhe fazer uma surpresa.


               Quero-lhe fazer uma surpresa.


               Quero fazer-lhe uma surpresa.


               Eu lhe quero fazer uma surpresa.


 


         2) Auxiliar + Infinitivo com preposição


              Começamos a nos preparar para o vestibular.


              Começamos a preparar-nos para o vestibular.


 


         3) Auxiliar + Gerúndio


              Eles foram se afastando.


              Eles foram-se afastando.


              Eles foram afastando-se.


              Eles se foram afastando.


 


         4) Auxiliar + Particípio                        


             O povo havia se retirado quando chegamos.


             O povo havia-se retirado quando chegamos.


             O povo se havia retirado quando chegamos.


 


 



 
* Maria Tereza de Queiroz Piacentini Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros ‘Só Vírgula’, ‘Só Palavras Compostas’ e ‘Língua Brasil – Crase, pronomes & curiosidades’ – www.linguabrasil.com.br