É correto dizer: “sobrou 1,86 milhão” (no singular)? Igualmente, é correta a frase: “foi processado 1,284 milhão de declarações” (também no singular)? Moacyr Medeiros, São Paulo/SP


 


 


Comecemos pelo numeral 1, o único que é singular: dizemos que 1 caiu, mas 2, 3, 10 caíram; sobrou um, sobraram dois ou três. Já o numeral MILHÃO comporta-se como substantivo masculino, e quando o número antes da vírgula é 1, o verbo fica no singular, concordando com o núcleo do sujeito:


 


 


Sobrou 1,86 milhão. [um milhão, oitocentos e sessenta mil]


 


Se aí acrescentarmos um substantivo para especificar a quantidade, poderemos então optar pela concordância ou com o número (a) ou com o nome (b). Mas quando o verbo está antes do número, recomenda-se fazer a concordância com o número. Assim:



 


 


a) Sobrou 1,86 milhão de dólares. [= Sobrou um milhão, oitocentos e sessenta mil dólares]


 


b) Um milhão, oitocentos e sessenta mil dólares sobraram.


 


c) Foi processado 1,284 milhão de declarações.


 


d) Um milhão, duzentos e oitenta e quatro mil declarações foram processadas.


 


 


Observemos outras frases corretas que encontrei e anotei:


 


 


Foi gasto 1,5 milhão de cruzados na reconstrução da cidade.


Aproximadamente 1,5 milhão de reais foram gastos na recuperação do esgoto.


Estima-se que um milhão e trezentas mil pessoas foram atingidas pela seca.


Foi atendido um milhão de pessoas nas áreas de risco.


Foram atendidas 1 milhão e 800 mil pessoas.


Mais de um milhão de pessoas foram atendidas.


Constatou-se que um milhão de tomates seriam jogados fora.


Um milhão de árvores foram prejudicadas pelo furacão – exagerou o repórter.


Para se ter uma idéia, foi feito um milhão de novas contratações somente no período de 1980 a 1984 no setor público.


Um milhão de laranjas foi exportado para a Flórida naquele ano.


Um milhão de laranjas foram exportadas.


Dois milhões e seiscentas mil laranjas foram exportadas.


 


Com a quantidade de MIL, a concordância verbal e nominal é feita com o nome que o acompanha:


 


Foram encontrados mil marcos antigos.


Mil pessoas foram salvas.


Foram respondidas ao todo duas mil e duzentas cartas.


Os dois mil ducados vistos no bolso do marquês eram fruto da corrupção.


 


 


Regência do verbo preferir


 


Preferimos os lugares mais à frente.


Prefiro chá a café.


O atleta disse que sempre preferiu sauna seca a banho turco.


Acho que prefiro sair a sentar tão longe. [formal escrito, coloquial tenso]


Acho que prefiro sair do que sentar tão longe. [informal, coloquial distenso]


 


O verbo PREFERIR repele qualquer expressão que indique intensidade, como mais, muito, antes, mil vezes (“prefiro mais isso”, p. ex.).


Por analogia com a construção “Gosto mais de tênis do que de futebol”, costuma-se falar “Prefiro jogar tênis do que jogar vôlei”, que é um modo mais eficaz de se comunicar e se fazer entender; contudo, essa é uma regência condenável do ponto de vista da gramática normativa. 



 
* Maria Tereza de Queiroz Piacentini Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros ‘Só Vírgula’, ‘Só Palavras Compostas’ e ‘Língua Brasil – Crase, pronomes & curiosidades’ – www.linguabrasil.com.br