A questão de hoje é suscitada por uma pergunta da leitora Sandra Regina Martins, de Florianópolis/SC, já que “não achei nas consultas que fiz a expressão no momento que. Escrevo dessa forma ou no momento em que?”


Em primeiro lugar, a elipse da preposição é uma liberalidade da língua nos adjuntos adverbiais de tempo, sobretudo na fala. Podemos dizer de uma ou de outra man! eira:


Neste ano / Este ano mudaremos de casa.


Chegarei no sábado / Chegarei sábado.


No dia 10 / Dia 10 teremos Lua Cheia.


Domingo próximo / No próximo domingo voltaremos.


O resultado sai esta semana / nesta semana.


Na terça-feira /  Terça-feira o programa se repete.


 


Da mesma forma, a preposição EM também pode ser omitida antes do pronome relativo QUE! quando este introduz uma oração temporal. São exemplos clássicos:


 


Neste tempo que as âncoras levamos… (Camões)


 


No instante que sucedeu o que vos citei… (A. Garret)


 


No tempo em que o lobo e o cordeiro… (Bernardes)


 


No momento em que se quis erguer… (A. Herculano)


 


Como se vê, o uso da preposição em frases desse tipo não é questão de certo/errado, mas sim de escolha por conveniência ou bom ouvido. Na dúvida, ou num texto formal, é sempre melhor usar a preposição. Exemplos atuais:


 


No tempo (em) que Sarney era presidente, a inflação corria solta.


Todos se levantaram na hora (em) que o imperador Hiroito falou.


No momento (em) que os discípulos se aquietaram, o mestre desapareceu.


No/O dia (em) que eu souber de uma falha sua, ficarei desapontado.


 


Fora desses casos, a preposição diante do pronome relativo é obrigatória na linguagem culta formal  (V. Não Tropece na Língua 009).


 


Certo (de) que
 


Também a preposição DE é facultativa ao introduzir uma oração: (1) completiva nominal ou (2) objetiva indireta. Vale! dizer que depois de adjetivos como certo/seguro/ansioso ou  substantivos como esperança/receio/medo (no caso 1), ou de verbos transitivos indiretos que regem a preposição DE, como duvidar/lembrar/convencer-se (no caso 2), muitas vezes a preposição DE é omitida, especialmente na linguagem falada. Exemplos:


 



Caso 1- Estou certo (de) que seremos bem-sucedidos.


 


Estamos convencidos (de) que ele virá.


 


Estava ansioso (de/para) que ele viesse.


 


Tenho esperança (de) que meus colegas concordem.


 


Temos certeza (de) que nosso time vencerá.


 


Temos receio (de) que ela não passe no vestibular.


 


Tenho conhecimento (de) que ela foi aprovada.


 


De Machado de Assis, sem a preposição: Já achava o Elisiário à minha espera, à porta, ansioso que eu chegasse.


 


 


Caso 2 – Convenceu-se (de) que a situação vai melhorar.


 


  Lembre-se (de) que nada é perfeito.


 


  Esqueceu-se (de) que já havia comentado o caso.


 


  Assegurei-me (de) que nada faltaria.


 


  Duvido (de) que eles reatem o namoro.


 


  Torço (para) que ele volte.



 
* Maria Tereza de Queiroz Piacentini – Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros ‘Só Vírgula’, ‘Só Palavras Compostas’ e ‘Língua Brasil – Crase, pronomes & curiosidades’ – www.linguabrasil.com.br