“Deve-se dizer tenho QUE ir ou tenho de ir?”, muitos leitores perguntam. A resposta é: tanto faz. As duas frases abaixo, por exemplo, estão corretamente redigidas:

– Os autores tiveram que se desfazer do negócio.

– Os autores tiveram de se desfazer do negócio.

A forma original – como ensina longamente Napoleão Mendes de Almeida – é TER DE, no sentido de “obrigação, necessidade”: temos de fechar o negócio agora; ele teve de sair; as crianças têm de dormir cedo. TER QUE seria reservado para expressar “coisas que, algo”, como por exemplo: Tenho muito que fazer, isto é, tenho muitas coisas que fazer (por fazer). Porém houve uma evolução do “que” na direção da obrigatoriedade. Ao falante atual a diferença está mais na repercussão sonora e na força expressiva do que no aspecto histórico. Se ter de soa mais culto, ter que é a forma mais viva, da linguagem corrente.

Aceitando-se que as duas formas estejam corretas, o que sugiro em frases mais longas é usar o “de” quando já existam outros “ques”, e usar “que” num contexto de muitos “des”. Exemplos:

– É intolerável que o povo tenha de pagar o pato. [Em vez de: É intolerável que o povo tenha que pagar o pato]

– Depois de fazer as contas, temos que proceder aos pagamentos devidos. [Melhor do que: Depois de fazer as contas, temos de proceder aos pagamentos devidos]

– A necessidade de ter que lutar a fim de garantir um trabalho permeia a vida de todos.

– É vergonhoso que os pais tenham de se submeter a tantas dificuldades para ver os filhos na escola.

No mais, deixando a gramatiquice de lado, a escolha é pessoal.

Vistos etc. – pontuação et cetera

Advogados e juízes estão sempre às voltas com o termo ETC. Um deles assim se manifesta: “Em sentença judicial, substituiu-se a expressão Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, decido por Vistos etc. Aí temos encontrado as mais variadas pontuações.” E arrola seis, querendo saber qual é a certa.

Posso afirmar que há dois modos corretos: Vistos etc. e Vistos, etc.

1ª observação: A vírgula antes do etc. é facultativa. O moderno é não usá-la, pois além de contribuir para a não-poluição do texto, a vírgula ali não tem muita lógica, já que “et cetera”  (do latim et coetera), aportuguesado “etcétera” em Celso Luft, quer dizer “e outras coisas, e os outros (de uma dada seqüência); e assim por diante”. Contudo, o Formulário Ortográfico de 1943 emprega a pontuação antes de etc. Usa  mesmo o ponto-e-vírgula quando fecha uma enumeração separada por esse sinal gráfico. Por exemplo: “A letra H (…) se conserva no princípio de várias palavras e no fim de algumas interjeições: haver, hélice, hidrogênio, hóstia, humildade; hã!, hem?, puh!; etc.”

2ª observação: O ponto depois de etc. é abreviativo. Quando o ponto abreviativo coincide com o ponto-final, basta um ponto (isso vale também para outras abreviações). Do mesmo modo, não há por que usar três ou quatro pontinhos: etc… etc…. Reticências depois de etc. só para marcar uma ironia, o que é caso raro.

Exemplos de uso e pontuação:

Visitou todos os Estados (Rio, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Goiás, etc.).     

Visitamos o Rio, São Paulo, Minas, Santa Catarina etc.

     
Os ministérios da Fazenda, do Planejamento, da Saúde, de Minas e Energia, da Educação etc. foram contemplados com recursos extras no fim do ano.

* Maria Tereza de Queiroz Piacentini – Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros “Só Vírgula”, “Só Palavras Compostas” e “Língua Brasil – Crase, pronomes & curiosidades” – www.linguabrasil.com.br