Frankin de Freitas – César Silvestri Filho (PSDB): alternativa à polarização

O ex-prefeito de Guarapuava, César Silvestri Filho, trocou em janeiro a presidência do Podemos do Paraná para concorrer ao governo do Estado pelo PSDB. Ele diz que tomou a decisão de mudar de partido depois de perceber que a sua antiga legenda deixou de priorizar a eleição para o Palácio Iguaçu em favor da pré-candidatura à reeleição do senador Alvaro Dias.

Silvestri Filho acredita que há espaço para uma “terceira via” na disputa estadual que quebre a polarização entre o governador e pré-candidato à reeleição, Ratinho Júnior (PSD) e o ex-governador Roberto Requião (PT). Até porque, aponta, ao contrário do que acontece na eleição presidencial, no Paraná, a “terceira via” não está congestionada por candidaturas pulverizadas.

Em entrevista ao Bem Paraná, o ex-prefeito explica porque considera que o governo Ratinho Jr envelheceu precocemente, e porque acredita que seu nome pode atrair o eleitorado que busca uma alternativa ao atual governador e ao pré-candidato do PT.

Bem Paraná O senhor deixou o Podemos em janeiro e se filiou ao PSDB. Porque deixou o partido e porque escolheu o PSDB?

César Silvestri Filho – Eu vim me preparando para ser candidato ao governo desde a eleição passada. Eu entrei no Podemos a convite na época para construir a candidatura ao governo no partido, trabalhei por dois anos como presidente estadual, levando essa ideia da candidatura ao governo e inclusive estruturando o partido no Estado para esse propósito. A medida que eu percebi que a candidatura ao governo deixou de ser prioridade para o partido no Estado, eu acabei recebendo do PSDB o convite para apresentar a candidatura, até porque isso fazia parte de uma estratégia nacional do partido de construção de palanques no Estado. E eu decidi aceitar esse convite porque o meu objetivo era apresentar uma candidatura ao governo. O PSDB foi o partido que fez o gesto, que assegurou as condições de construir a candidatura com independência. 

BP – O Podemos e o PSDB integraram a base do governo Ratinho Jr. O que mudou para o senhor se colocar agora como um candidato de oposição?

Silvestri Filho – O PSDB nunca teve cargos no governo. Nunca foi formalmente da base. O que houve foi um processo de cooptação natural de alguns deputados para integrarem a base de apoio ao governo na Assembleia. E esses deputados foram os primeiros que saíram, inclusive, quando o partido decidiu por apresentar uma candidatura própria. O PSDB nunca teve um representante do partido no governo, que militasse ou constrangesse a atitude do partido de apresentar uma candidatura própria. Não mudou nada. O Podemos também não ocupava espaço no governo. Tanto que eu estava no Podemos desde sempre me apresentando como pré-candidato ao governo. Não houve essa mudança. Da minha parte sempre existiu com clareza o propósito de apresentar uma candidatura ao governo, levando a nossa visão, o meu legado como Executivo, como ex-prefeito bem avaliado por dois mandatos. Eu sempre tive isso como propósito claro de apresentar isso no cenário da política do Paraná. Tanto é verdade que depois que o Podemos deixou de priorizar isso e passou a priorizar a candidatura ao Senado, eu acabei indo para o PSDB que assim como eu entende que o Paraná precisa de uma candidatura que nos liberte dessa polarização construída pelo Ratinho Júnior e o PT.

TRUNFO

‘Minha rejeição é a menor’

Bem Paraná – O PSDB perdeu quadros após essas mudanças, com saída de deputados. Qual o balanço que o senhor faz desse processo.

César Silvestri Filho – Nós perdemos dois deputados que já eram alinhados ao governo. O presidente da Assembleia (Ademar Traiano), que tudo leva a crer, continuará sendo presidente se o Ratinho Jr for governador. Existe um acordo entre eles. Então é natural que o Traiano seguisse o governador por conta desse atendimento. E um outro deputado estadual (Paulo Litro) que já tinha compromissos com o governador e foi para o partido do governador. Por outro lado nós trouxemos dois deputadas, a Mabel Canto e minha mãe, a Cristina Silvestri.

BP – O que diferencia sua candidatura da de Ratinho Jr?

Silvestri Filho – Primeiro a visão de estado. O fato de eu ter sido uma liderança forjada dentro do Executivo municipal, com a escola de prefeito, que eu considero a melhor escola de gestão que existe. Da vivência, da experiência de governo da vida real, sobretudo de um município polo do interior do Estado, nos dá uma compreensão sobre a gestão pública, o Estado, que hoje claramente falta no atual governo. E a segunda é a capacidade de entrega. A gente percebe que nós temos hoje um governo pouco operante, que encerra o mandato sem deixar marcas próprias do governo, legado, que é exatamente o contraponto mais evidente com a minha forma de administrar. Onde em oito anos no governo eu consegui imprimir uma identidade, um ritmo de realização, uma capacidade de entrega, de planejar ações complexas e conseguir fazer com que elas se concretizem. Acho que essa capacidade de realização vai ser, talvez, o grande contraponto a ser apresentado entre o que nós temos hoje e o que eu tenho para mostrar. 

BP – No plano nacional, até agora, nenhuma das chamadas alternativa da dita terceira via vingou. Porque o senhor acha que pode ser diferente na eleição estadual.

Silvestri Filho – Por uma série de fatores. Primeiro que no âmbito nacional a terceira via hoje está fragmentada. Existem vários nomes tentando ocupar esse espaço. No Paraná, logo no início da campanha meu nome se legitimou e se consolidou a uma terceira voz nesse processo. Até então o Paraná estava limitado a duas vozes: a voz oficial do governo e a voz do PT. E logo no início a gente conseguiu ocupar esse espaço, já legitimar esse campo e não tem essa fragmentação que tem no campo federal. Em segundo lugar, os nomes que foram apresentados no plano nacional são nomes que têm índices de rejeição igual ou superior aos candidatos que estão hoje polarizando. No meu caso, no Paraná, a minha rejeição é infinitamente menor que a do próprio governador e a do ex-governador Requião. Isso naturalmente credencia nosso nome a ocupar espaço e crescer no jogo.

BP – Ainda na questão nacional, o ex-governador Doria chegou a cogitar abandonar a candidatura à presidência e permanecer no cargo, por conta das divisões internas no partido. Mesmo depois de confirmar essa candidatura, ela segue contestada, com parte das lideranças defendendo que ele a retire, por conta da alta rejeição. Como o senhor vê esse quadro? E como isso pode afetar a sua candidatura no Paraná?

Silvestri Filho – A minha posição é apoiar a candidatura que seja definida nacionalmente pelo PSDB. Eu entendo que essa postura de ter posição clara e leal ao partido é uma postura que acaba definindo muito o comportamento do próprio candidato. Entretanto eu estou vendo que o PSDB hoje faz um esforço para a construção de uma candidatura que seja consensuada com outros três grandes partidos, que é o PSDB, o MDB, o União Brasil e o Cidadania. Eu particularmente defendo esse movimento. Acho que é um gesto de compromisso com o Brasil que esses partidos fazem de tentar apresentar um nome que seja viável. E para ser viável é preciso estarem unidos. Então acho que o esforço para a construção dessa unidade é bem vinda e eu vou apoiar esse nome com entusiasmo.

 

CRÍTICA

‘Governo Ratinho Jr envelheceu cedo’

Bem Paraná – Quais os principais temas que o senhor pretende colocar na eleição em contraponto ao atual governo.

Silvestri Filho – Questões como a do ferry boat são muito mais para externar, identificar claramente o estilo de gestão que nós estamos tendo hoje. É um fato, de certa maneira, localizado, pontual. Mas que demonstra que é um governo feito de remendos, gambiarras. O governo, sabe se lá em nome de qual interesse, permitiu que uma empresa aberta três meses antes da concorrência assumisse um contrato de tamanha responsabilidade, gerando um caos no Litoral do Paraná no momento em que todo o Litoral e o comércio esperava reaver os prejuízos provocados pela pandemia. Foram consequências amargas provocadas pelo próprio governo. Hoje isso marca o estilo do governo. É um governo que é governado pelo problema do dia. Isso fica evidenciado agora que o governo acaba que você não percebe nenhum legado estruturante para o Estado, nenhuma ação de longo prazo, nenhuma política que você possa identificar como algo que tenha modernizado a nossa economia. Que tenha dinamizado a nossa infraestrutura. É um governo que está sempre a serviço do problema. Veja o que estamos vivenciando no pedágio. O governo sabia que tinha um contrato de pedágio que encerrava em novembro de 2021 desde 1º de janeiro de 2019, primeiro dia quando assumiram o governo. Eles não tiveram a eficiência e a condição técnica necessária para conduzir esse processo a contento. Jogaram a responsabilidade para o governo federal e ficaram reféns da agenda e da prioridade do governo federal. Que deixou o prazo acabar, e o governo para provocar uma ação midiática abriu as cancelas causaram um apagão na manutenção das rodovias e na prestação de serviços dos usuários. Que era uma condição que a população já estava habituada há 24 anos. Hoje mesmo vindo do interior do Estado para cá dirigindo, depois de 25 anos tive que vir desviando de buraco. As nossas rodovias já estão se deteriorando apenas quatro meses depois da decisão impensada do governador. Essa situação não vai se resolver a curto prazo. O governo já sabe que a tarifa vai ser mais alta do que ele tinha anunciado. Para não enfrentar esse debate agora vai jogar a decisão só para depois da eleição. E nós vamos ficar pelo menos para os próximos um ano, um ano e meio, as nossas rodovias nessa situação, de deterioração do patrimônio público e um oferecimento de risco inaceitável em termos de retrocesso para os usuários das rodovias. De novo é uma demonstração de um governo que demonstra a incapacidade absoluta de resolver problemas concretos. Outro exemplo é a questão da modernização da gestão que foi tanto anunciado pelo governo. Que seria um governo inovador, criativo, que ia fazer Parcerias Público-Privadas, anunciaram e divulgaram uma legislação de PPPs que era a “melhor” do Brasil. E o governo acabou sem ter um único projeto de Parceria Público Privada no Estado. Enquanto estados como São Paulo fizeram doze, Minas Gerais, quatro, cinco. Estados do Nordeste como Maranhão, Piauí, Bahia, fizeram Parcerias Público Privadas para modernizar a gestão na área da saúde, educação, infraestrura. No Paraná, nenhum. Todos os estados enfrentaram crise, a epidemia nesses dois últimos anos. Entretanto, no Paraná a gestão da pandemia serviu de bengala para toda ineficiência do governo, e para demonstrar que a nova política que é a inovação que foi tanto propalada pelo governador não passou de peça de propaganda. Ao assumir o governo o que se viu um governo que envelheceu rapidamente na prática política e demonstrou falta de clareza para onde levar o Estado. Ouve uma anestesia geral. Eu falo isso com clareza de quem foi prefeito com três governadores diferentes: o Beto (Richa), a Cida (Borghetti) e com o Ratinho Jr. A comparação é muito evidente para nós que tem essa relação direta.

BP – O senhor é da mesma geração que o Ratinho Jr, que se elegeu sob a bandeira da “nova política”, mas na sua avaliação, adotou práticas da velha política. Porque com o senhor seria diferente?

Silvestri Filho – Eu tenho uma diferença essencial com o Ratinho. Antes de apresentar meu nome para o governo do Estado fui testado por oito anos como prefeito municipal. E esse teste foi um teste da vida real. Eu fui reeleito com a maior votação do Estado entre os dez municípios mais populosos naquela eleição, eu concluí meu governo com quase 80% de aprovação e fui o único prefeito entre as dez maiores cidades que elegeu o seu sucessor no primeiro turno. Então acredito que essa minha passagem pelo Executivo mostra que o problema de ineficiência do governo não é a idade do governador, isso é irrelevante. Mas a falta de experiência em gestão pública que ele tinha ao assumir o governo. Que se demonstrou desde a desastrosa reforma administrativa que ele patrocinou, desorganizando a estrutura do Estado, desmontando políticas públicas importantes como cultura, esporte, turismo, ciência e tecnologia. E por ter essa pouco experiência na gestão acabou montando uma equipe que não tinha a aptidão necessária para a ocupação desses postos chaves no governo. Faltou capacidade do governador de identificar os talentos adequados para a ocupação desses postos chave. E isso fez muita falta quando veio a pandemia. Porque ali era momento de superação, de trazer a experiência a serviço do governo. E o que houve foi um governo assustado, paralisado. E o governo acabou encerrando uma gestão sem marca, sem identidade.

BP – O presidente estadual do PSDB é o ex-governador Beto Richa, que ainda responde uma série de processos oriundos de operações do Ministério Público estadual e federal. Não teme que isso seja usado contra o partido na campanha?

Silvestri Filho – Eu vejo que o governador Beto Richa, da mesma maneira que tem o ônus de ter que, em algum momento, falar sobre esses fatos que ocorreram com ele, tem, por outro lado, legados muito palpáveis, visíveis em todo o Paraná. Não tem um município do Estado que eu ande que a gente não veja o reconhecimento das lideranças do interior em relação à presença do governo na época. De ações concretas. Posso afirmar que, no contexto, hoje, os legados do governo do Beto são muito superiores as eventuais problemas que ele tenha que se explicar.

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