O médico e empresário Fernando Lee, de 48 anos, é um homem de gostos refinados, que sabe aproveitar o dinheiro que tem. Freqüentador do Antiquarius, só usa sapatos Ferragamo e roupas da Prada (duas das mais caras e luxuosas grifes do mundo) e vai três vezes por semana ao cinema – sempre que está em Los Angeles, sede da empresa. “Aqui em São Paulo não há tantas estréias de filmes.” Lee é homossexual e exemplo da pesquisa que revelou que os gays gastam 40% mais com itens relativos ao lazer do que heterossexuais do sexo masculino.


O estudo foi realizado pela Insearch, empresa especializada em descobrir o comportamento de consumidores, entre fevereiro e junho, e ouviu 5.315 gays em 52 cidades de 17 Estados, para traçar um perfil dos hábitos de consumo desse público.


Segundo o sócio diretor da empresa, Fábio Mariano Borges, a pesquisa confirmou o que se suspeitava: por não terem mulher e filhos , os gays não têm os gastos que arrasam o orçamento das famílias. É por esse motivo que a renda média de R$ 2.150,00 — padrão classe média — lhes permite gastos reservados às classes mais altas.


Dos gays que participaram da pesquisa, 39% pertencem às classes A e B e 30%, à C. Há 59% com cartão de crédito. A maioria é escolarizada: 22% têm curso superior completo e 63% concluíram o ensino médio.


Com dinheiro e estudos, eles correm atrás de informação (88% lêem jornal e 94% lêem revistas) e cultura — 73% têm o hábito de ir ao cinema três vezes ao mês em média, 46% vão ao teatro uma vez por mês e 57% compram oito livros por ano.


E as viagens não ficam de fora do lazer: 84% viajaram pelo Brasil quatro vezes nos últimos 12 meses e 36% foram para o exterior nos últimos três anos. “Eu rodo o mundo três ou quatro vezes por ano”, diz Lee. Dono de uma empresa de substância antioxidantes com sede em Los Angeles, que circula por vários locais para pesquisar novos produtos para os negócios. Amanhã, por exemplo, o médico vai para Londres, depois segue para Dubai (Emirados Árabes) e Bangcoc (Tailândia).


Borges, porém, diz que esse público não é bem explorado pelas empresas. “Não por preconceito, mas por falta de informação do potencial de mercado.” Segundo ele, alguns setores poderiam oferecer serviços diferenciados. Ele cita como exemplos hotéis, clínicas médicas e de estética. “Notamos que esse público quer, em alguns setores, maior especialização.” O setor bancário, por outro lado, é um ramo que, de acordo com Borges, não sabe vender produtos para esse grupo. Ele diz que a publicidade é mais focada para conquistar o pai de família, que tem planos para garantir a segurança d a família.


Quem conseguiu criar uma boa estratégia de marketing ou soube adequar seu produto não se arrepende, afirma o presidente da Insearch. Ele cita como exemplos agências de turismo, revistas, fabricantes de bebidas e de preservativos, além de construtoras. A especialização, porém, não pode chegar à segregação, ressalta Borges. ´Em locais como restaurantes, eles querem apenas respeito.´


O empresário André Almada, de 34 anos, confirma: “Os gays estão cada vez mais inseridos na sociedade e dependendo do caso, pode passar a imagem de preconceito.” Ele admite alguns locais onde a diferenciação seja válida. “Em boates, os gays se sentem mais à vontade.”



Bom gosto
“Gays, quando podem, viajam em primeira classe e vão a lugares de bom gosto”, afirma Lee, que lembra de uma viagem em que admite: foi uma extravagância. “Saí de Los Angeles para Oslo (Noruega) só para ver uma exposição sobre comportamento homossexual de animais selvagens.” Ele deixa claro, porém, que homossexuais não compram produtos caros apenas porque são caros. “Gays consomem produtos elaborados e, se são caros, é porque a inteligência custa caro. Gostamos do que todos gostam. Qualquer pessoa que tenha condição para gastar gastaria como os gays. Bom gosto não é monopólio nosso.”



Números
5.315 gays do sexo masculino foram ouvidos em 52 cidades de 17 Estados


39% pertencem às classes A e B


84% compram, em média, dois CDs por mês


22% têm curso superior completo