Franklin de Freitas – Solange Ferreira Bueno (PMN): primeira candidatura

Professora de piano há quase 40 anos, a maringaense Solange Ferreira Bueno se filiou ao PMN no último mês de março, após receber a garantia do partido que teria a legenda para disputar o governo do Paraná, mesmo nunca tendo se candidatado a um cargo público antes. Alegando não querer fazer da política uma profissão, ela afirma que não quis começar com uma candidatura a vereadora ou deputada por não ver nesse caminho tradicional a oportunidade para resolver os problemas da população.
“Eu quero estar dentro do governo do Estado para estar fazendo a mesma coisa que o nosso presidente está fazendo em um âmbito maior”, afirma ela em entrevista ao Bem Paraná, dentro de conversas com os pré-candidatos ao Palácio Iguaçu. Paradoxalmente, ela afirma ser contra a proposta do governo Bolsonaro do novo modelo de concessão dos pedágios para as rodovias do Estado, alegando que o presidente teria sido “induzido” ao erro. Na entrevista, ela critica ainda as medidas restritivas ao comércio e à atividade econômica tomadas pelo governo Ratinho Jr para conter a pandemia da Covid-19 no Estado.

Bem Paraná – Quando começou a se interessar por política?
Solange Bueno – Desde pequena já ouvia a Voz do Brasil. Com 13, 14 anos perguntava para o meu pai porque os políticos falavam uma coisa e faziam outra. Eu não conseguia entender e questionava muito. Mais tarde eu cheguei a questionar os próprios políticos, o vereador da minha cidade. Sempre estive na política mesmo não sendo candidata a nada.
BP – E porque decidiu se filiar ao PMN?
Solange Bueno – Eu passeei por vários partidos, pedindo oportunidade para me candidatar. E os partidos fecharam as portas. ‘Ah, você não foi candidata a nada’. E o PMN abriu a porta e falou: ‘vamos lá’. O presidente acreditou em mim. Pensei se ia passar por uma sabatina. Ele fez uma pergunta para mim, eu respondi. ‘Então vamos assinar a ficha’.
BP – A senhora não pensou em fazer o caminho tradicional, se candidatar a vereadora, deputada, antes de disputar o governo?
Solange Bueno – Eu não sou tradicional no sentido de fazer a velha política. Porque se eu for candidata a vereadora, deputada estadual, federal, eu acredito que vou fazer da política a minha profissão e eu não quero fazer da política profissão. Eu me coloquei como pré-candidata, pedi uma oportunidade para que eu concorra ao pleito, a uma candidatura, para resolver o problema. E qual o problema? O que eu tenho percebido é que os políticos não conseguem olhar o que a população passa. Se colocar no lugar do outro. E eu sou o tipo de pessoa que se você chegar aqui e tiver sentindo uma dor, eu vou sentir a mesma dor que você está sentindo. Quando eu sinto a tua dor eu posso ter noção do que eu posso fazer para ajudar você. Também teve a pandemia que falaram que a minha profissão não era essencial. E eu tive treze meses sem trabalho, e eu tive que pensar. E eu pensei exaustivamente, o que está acontecendo no meu País, no meu Estado. Quando eu percebi que o governo estadual não estava alinhado com o governo federal, eu falei: sou candidata.
BP – Mas por que a senhora decidiu disputar o governo do Estado?
Solange Bueno – Eu quero estar dentro do governo do Estado para estar fazendo a mesma coisa que o nosso presidente está fazendo em um âmbito maior. Nosso presidente, ele estancou a saída de dinheiro público. Eu quero fazer isso no meu Paraná.

CONCESSÕES
‘Não vou aceitar esse pedágio como está’

Bem Paraná – O PMN é um partido pequeno. Como superar essas dificuldades em uma disputa para o governo?
Solange Bueno – O que eu percebo é que a para a maioria das pessoas, se você não tiver R$ 50 milhões para a campanha, você não tem o direito de estar candidato a nada. Parece que tudo tem que ser em volta de dinheiro. Não sou ingênua. Eu sei que precisa de dinheiro. Eu tenho muitas pessoas que me pediram para ser candidata quando eu achei que ia desistir porque não tinha partido. Hoje, eu acredito que a Solange não vai fazer essa campanha sozinha, mas com muitas pessoas que acreditam no que eu acredito e em mim.
BP – O governo federal pretende fazer uma nova concessão de pedágio no Paraná até o final do ano. O que a senhora acha disso?
Solange Bueno – Eu vou pedir para o presidente ou para quem seja o responsável por isso para que não faça isso agora. Deixa passar a campanha e eu acredito que se fizer alguma coisa agora não vai ser bem feita e o povo paranaense vai ser mais uma vez massacrado. Eu vou pedir para que o presidente não faça esse contrato, essa licitação nesse período e sim no próximo período, para que a gente possa ter tempo. Se eu for eleita, não quero pegar esse pepino de 39 anos por uma coisa que eu não concordo. Eu não tive tempo de ler tudo, mas o que eu li, não gostei. Eu quero fazer o pedágio dentro do que eu imagino seja justo do caminhoneiro, para quem usa as estradas. A gente passou 20 anos pagando um pedágio com muita raiva. Nós pagamos para ter um produto e esse produto não foi entregue em 20 anos.
BP – Mas essa proposta foi feita pelo governo Bolsonaro?
Solange Bueno – Ele foi induzido a algumas coisas ali. Porque a nossa realidade aqui, tem algumas coisas que foram colocadas ali que não foi bem calculado ainda. Em função disso, eu gostaria de ver. A minha ideia é rever esse processo porque eu não vou aceitar esse pedágio do jeito que está. É o pedágio mais caro do Brasil. Nós pagamos por algo que não recebemos. As rodovias duplicadas. Passaram-se 24 anos e não foi duplicado.

PANDEMIA
‘Não se briga com o vírus restringindo o trabalho’

Bem Paraná – Mas há uma série de denúncias envolvendo o governo Bolsonaro. Recentemente o ministro da Educação pediu demissão após o vazamento de um áudio em que ele disse privilegiar pastores na distribuição de verbas públicas.
Solange Bueno – Partindo disso que você está me falando, eu quero estar ali para fazer a diferença. A minha conduta não permite que esse tipo de coisa aconteça. E o presidente também não permite isso. Eu quero colocar pessoas técnicas para trabalhar para que seja bem feito e não mais ou menos. Para que não tenha toma lá dá cá. O dinheiro do contribuinte é um dinheiro sagrado. Que vem do lombo do povo. E esse dinheiro tem que ser respeitado.
Bem Paraná – Se eleita a senhora pretende fazer um governo alinhado ao governo Bolsonaro?
Solange Bueno – Um governo alinhado ao governo Bolsonaro.
BP – E a senhora pretende ter o apoio do presidente?
Solange Bueno – Olha, se ele me apoiar eu estou feliz. Se em função da política, que ela infelizmente, ele não possa me apoiar, eu não vou ficar brava, chateada, nem nada. Eu entendo que existe uma forma dele fazer essa política. Mas eu quero o apoio do povo que não está satisfeita com esse governo. Sou professora de música. Tenho o ouvido preparada para ouvir. Eu tenho percebido que o nosso governador não tem uma sensibilidade para olhar o que está acontecendo com toda a população que perdeu seu emprego, ficou sem trabalhar, que não foram tratadas como deveriam. Eles não estão muito preocupados com o povo. É tudo engessado. A política como sempre foi. E eu estou aqui para fazer uma política diferente. Primeiro por ser mulher, segundo por ter sensibilidade, terceiro por saber ouvir as pessoas, e quarto saber se colocar na dor do outro.
BP – O que a senhora faria de diferente na pandemia em relação ao que foi feito pelo governo Ratinho Jr?
Solange Bueno – Eu daria liberdade para as pessoas e cuidaria da saúde melhor. ´
BP – Essa liberdade a senhora quer dizer que não restringiria o comércio, a atividade econômica?
Solange Bueno – Jamais a gente briga com um vírus restringindo a população de trabalhar. Porque daí o povo ficou dentro de casa, continuou pegando o vírus, se contaminando e ainda sem emprego. Muitas pessoas não podiam trabalhar dentro de casa e foram obrigadas a ficar em em casa. Isso é desumano. Você fazer uma pessoa perder seu emprego ou falar que o emprego dela não é necessário, é desumano.

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