Ministra suspeita de incêndios criminosos (Agência Brasil/arquivo)

Devido aos inúmeros focos de incêndio, o Brasil tem registrado alguns dos piores índices de qualidade do ar de sua história. O nível de qualidade do ar foi considerado muito insalubre em Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC) e prejudicial à saúde em cidades das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte, de acordo com dados de plataformas internacionais de monitoramento. 

No mundo todo, a poluição atmosférica já é responsável por 7 milhões de mortes anuais prematuras, sendo mais de 300 mil na região das Américas, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS).  

De acordo com Nicole Brassac de Arruda, bióloga e pesquisadora do Lactec, as partículas que estão sendo lançadas no ar com as queimadas são bastante prejudiciais à saúde humana e terão efeito cascata pelos próximos anos. “Além dos danos causados à saúde humana, em especial ao trato respiratório, o material particulado presente na atmosfera vai eventualmente ser depositado no solo e na água. Além disso, também afetam a biota, uma vez que plantas e animais também estão expostos à estes elementos”, avalia. Isso acontece devido à composição química e ao tamanho microscópico dos poluentes que estão sendo lançados na atmosfera e compõem a névoa difusa que vemos no céu.

Qualidade do ar é pouco monitorada

Apesar do tema estar em alta no momento, no Brasil, pouco se sabe sobre a qualidade do ar. Apenas 13 dos 27 estados brasileiros realizam medições, de acordo com relatório realizado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Além disso, apenas seis estados e o Distrito Federal atendem às exigências do Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar (Pronar), que definiu há 30 anos os poluentes atmosféricos que devem – ou deveriam – ser monitorados.

Ou seja, o monitoramento no Brasil ainda é precário e com isso, não há informações representativas para que o setor público possa criar políticas visando a melhora da qualidade do ar.

Sensores de baixo custo podem ser a solução

No início de julho deste ano, a Resolução CONAMA 506 foi publicada, estabelecendo novos padrões nacionais de qualidade do ar, em complemento à Lei no 14.850/2024, que cria a Política Nacional da Qualidade do Ar. A implementação deverá ser em etapas.

No entanto, para que seja possível fazer um mapeamento adequado, é preciso uma rede de monitoramento mais densa que complemente as estações de referência, que atualmente é esparsa ou mesmo inexistente. 

Uma das soluções propostas por especialistas é o uso de sensores de baixo custo para ampliar a rede de monitoramento. Atualmente, a rede existente no país é insuficiente, devido ao alto custo de implementação e manutenção das estações de referência. A implementação de redes móveis ou fixas de sensores, acompanhada por processamento de dados, poderia fornecer uma solução prática e acessível.

“O uso de sensores de baixo custo permitiria ampliação da malha amostral já existente, facilitando a criação de mapas de qualidade do ar e o monitoramento mais detalhado da atmosfera em diferentes regiões”, explica Nicole. Esses dados poderiam servir não apenas para informar a população, mas também para embasar decisões políticas voltadas à redução de emissões e à melhora da qualidade de vida.

Monitorar é medida de controle

Monitorar os poluentes é uma forma eficaz de mensurar as concentrações dos poluentes atmosféricos e gerar dados sobre as condições da qualidade do ar. Medidas como esta permitem que sejam realizadas ações para mitigar as emissões e reduzir efeitos negativos à saúde e ao meio ambiente. 

Os impactos da poluição do ar na saúde são tão graves quanto os associados a tabagismo e dietas não-saudáveis, de acordo com a OMS. “Portanto, políticas que tornem as cidades inteligentes, resilientes e verdes, podem fornecer melhor qualidade do ar, ao mesmo tempo em que transformam a paisagem urbana”, observa o especialista do Lactec,João Paulo Jankowski.

Há ainda poluentes como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4) que contribuem com o aquecimento global, lembra Jankowski. “Assim, ações para melhorar o monitoramento da qualidade do ar, também abordarão a emergência climática. Por fim, vale lembrar que todos temos direito a um meio ambiente saudável, o que implica dizer que ar puro é um direito humano”, ressalta.

Com as queimadas na Amazônia jogando ainda mais fumaça na atmosfera, a urgência para enfrentar o problema cresce. Sem uma rede eficaz de monitoramento, o Brasil corre o risco de continuar agindo de forma reativa, sem uma base sólida de dados que permita políticas preventivas e eficientes.