Crescimento da atividade, junto com hiato positivo, torna convergência mais desafiadora, diz BC

Estadão Conteúdo

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central informou nesta terça-feira, 24, que segue avaliando que a atividade econômica e o mercado de trabalho domésticos vêm apresentando maior dinamismo do que esperado, levando a uma reavaliação do hiato do produto para o campo positivo.

Em ata do encontro da semana passada, divulgada nesta terça, foi relatado que vários membros enfatizaram que a dinâmica da atividade foi uma dimensão bastante relevante no período recente, enfatizando as surpresas para o Comitê e para os analistas de mercado, tal como retratado na pesquisa Focus. “Esse ritmo de crescimento da atividade, em contexto de hiato agora avaliado positivo, torna mais desafiador o processo de convergência da inflação à meta”, considerou.

O colegiado observou que a conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada. “Em síntese, à luz da atualização dos dados de atividade do período e dos modelos apresentados, o Comitê concluiu que o hiato está em campo positivo.”

O Comitê salientou também que houve manutenção do dinamismo no mercado de trabalho, verificando-se ganhos reais nos salários nos últimos meses. “Como não há evidência de aumento significativo de produtividade, tais ganhos podem refletir pressão no mercado de trabalho”, cogitaram.

A esse respeito, conforme o documento, alguns membros enfatizaram a evidência de falta de oferta de trabalho em alguns setores. A ata explicou que os integrantes do Copom discutiram, então, o impacto potencial do mercado de trabalho sobre a inflação. “Argumentou-se que não há evidência ainda de que pressões salariais estejam impactando preços, mas ressaltou-se que o crescimento real de salários, em se mostrando persistente e acima de ganhos de produtividade, acabará tendo impacto sobre preços.”

O Comitê pontuou, porém, que o momento e a magnitude desse canal de transmissão permanecem incertos.

Cenário prospectivo de inflação mais desafiador

O Copom concluiu também que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma trajetória de taxa de juros mais elevada.

“O Comitê avaliou que os dados referentes à inflação sugerem uma deterioração da composição da inflação, ainda que o número agregado não tenha divergido significativamente do que era esperado no trimestre anterior”, pontuaram os integrantes do colegiado.

Eles salientaram também que identificaram uma interrupção no processo desinflacionário no período mais recente: as taxas de inflação de bens industriais e de alimentação no domicílio cresceram na margem, possivelmente refletindo a depreciação cambial e um cenário mais desafiador advindo do clima. Concomitante a isso, ressaltaram que a inflação de serviços, que tem maior inércia, assumiu papel preponderante na dinâmica desinflacionária no estágio atual.

“Debateu-se então o papel da dinâmica do mercado de trabalho e das expectativas de inflação para a determinação da inflação de serviços”, explicaram sobre o andamento do encontro. “Concluiu-se que a inflação corrente, medida pelo índice cheio ou por diferentes medidas de núcleo, em níveis acima da meta, em contexto de dinamismo da atividade econômica, torna a convergência da inflação à meta mais desafiadora.”

Como já adiantado no comunicado da semana passada, o Comitê avaliou que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.

Entre os riscos de baixa, a ata ressaltou apenas dois pontos: uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.