Dólar tem 6º pregão seguido de queda após Fed cortar juros em 50 pontos-base

Estadão Conteúdo
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Dólar (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O dólar emendou sexto pregão consecutivo de baixa no mercado doméstico nesta quarta-feira, 18, dia que marcou o começo do tão aguardado ciclo de relaxamento monetário nos Estados Unidos e deve trazer o início de um processo de alta da taxa Selic.

Em baixa bem moderada pela manhã, o dólar aprofundou o ritmo de queda à tarde, logo após o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) anunciar redução da taxa básica americana em 50 pontos-base, para a faixa de 4,75% e 5,00% ao ano.

Em seu comunicado, o comitê de política monetária do BC norte-americano (Fomc, na sigla em inglês) disse que adquiriu “maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável para a meta de 2%” e que os riscos para atingir seu duplo mandato – pleno emprego e estabilidade de preços – estão, grosso modo, “equilibrados”.

Foi a senha para uma perda generalizada da moeda norte-americana, com o índice DXY descendo até a mínima aos 100,215 pontos, nos menores níveis desde julho de 2023. Por aqui, o dólar à vista acompanhou o movimento e tocou mínima a R$ 5,4130.

A febre vendedora amainou ao longo da entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell. Embora tenha reiterado o progresso no combate à inflação, Powell tratou de desautorizar apostas em um ciclo rápido e agressivo de corte de juros. Ele condicionou os próximos passos do Fed a indicadores e disse que ninguém “deve olhar” para a redução de hoje e pensar que esse “é o novo ritmo de cortes”.

As falas de Powell esfriaram a euforia dos investidores. O índice DXY não apenas desacelerou as perdas como, no fim do dia, já operava em leve alta, na casa dos 101,100 pontos. Em sintonia com o exterior, o dólar reduziu bastante o ritmo de queda por aqui na última hora de negociação.

No fim do dia, a divisa recuava 0,48%, cotada a R$ 5,4617 – menor valor de fechamento desde 19 de agosto (R$ 5,4120). Nos últimos seis pregões, o dólar já caiu 3,70%. Em setembro, a desvalorização é de 3,08%.

O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observa que havia “bons argumentos” tanto para um corte de 25 pontos quanto de 50 pontos pelo Fed hoje, embora a balança tenha pendido nos últimos dias para o corte mais elevado, em razão dos últimos números do mercado de trabalho americano.

A opção pelos 50 pontos-base pode ter sugerido a intenção do Fed de levar a taxa de juros de forma mais rápida para o nível considerado neutro, entre 3% e 3,5% em termos nominais, argumenta Oliveira. Isso provocou um movimento mais forte de depreciação do dólar em relação em um primeiro momento.

“Na entrevista coletiva, Powell veio menos ‘dovish’. Acho que se ele viesse com um discurso muito baixista, o mercado poderia desconfiar que o Fed está vendo algo como recessão ou um mercado de trabalho muito mais fraco”, afirma Oliveira, ressaltando que o cenário desenhado pelo Fed é de pouso suave da economia americana, o que é “muito bom para emergentes”.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, Powell adotou “um tom mais neutro” em sua entrevista do que o do comunicado da decisão. “Ele utilizou a coletiva para moderar a reação do mercado, buscando evitar uma precificação de cortes mais agressivos na curva de juros”, afirma Borsoi. “Outro ponto importante é que Powell fez esforço grande para sinalizar um cenário de ‘soft landing’ para o mercado.”

O economista-chefe do Pine afirma que é preciso aguardar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) hoje à noite e os próximos indicadores da economia americana para vislumbrar uma tendência mais firme para a trajetória da taxa de câmbio.

Para Oliveira, o Copom deveria elevar a Selic em 0,50 ponto porcentual, dada a desancoragem das expectativas de inflação e os indicadores mais recentes, que mostram economia aquecida, com demanda agregada forte.

“Um alta de 0,50 ponto poderia reforçar o canal positivo do câmbio para a política monetária e levar as expectativas de inflação para o ano que vem e 2026 a convergir para a meta”, afirma o economista.