Brechós em alta: mercado de peças usadas cresce em Curitiba

Com conceitos como sustentabilidade e consumo consciente em alta, moda circular ganha força e mercado de peças usadas cresce na capital paranaense

Rodolfo Luis Kowalski

Valquir Aureliano

Num tempo em que o tema da sustentabilidade está em voga e o dinheiro no bolso da população está mais curto, o mercado da moda encontrou num velho modelo de negócios uma nova oportunidade. Se antigamente os brechós eram alvo de preconceito, hoje são sinônimo de moda acessível e sustentável, oferecendo ao cliente a possibilidade de economizar dinheiro na hora de comprar roupas ao mesmo tempo em que ajuda a aumentar a vida útil de boas peças, diminuindo o impacto do lixo no meio ambiente.

Em Curitiba, desde que a pandemia do novo coronavírus começou a arrefecer e a atividade econômica e social foi sendo reativada, o mercado de produtos de segunda mão acabou crescendo expressivamente e de maneira geral. Um dos destaques desse segmento, contudo, foi justamente o comércio varejista de roupas, que no ano passado atingiu seu ápice, segundo Vinícius Ângelo Vieira, um dos responsáveis pelo Brechó Pur Luxe, criado há seis anos.

“O ano passado foi bom, pessoal saindo da pandemia e a galera bem animada. Foi um ano bom pra gente, crescemos cerca de 40% comparado aos anos anteriores”, relata Vieira, revelando ainda que o faturamento que a empresa alcançou no último ano foi recorde. “A gente só cresceu depois da pandemia, o faturamento que temos hoje nunca tivemos nem antes pandemia. O ‘pós-pandemia’ onde começamos a crescer, ter mais evidência”, diz ele.

Por outro lado, o empresário sente que 2023 está sendo um ano “estranho”. Isso porque desde o final do ano passado o mercado começou a se estabilizar mais, interrompendendo o movimento ascendente. “Não está sendo tão bom quanto 2022, mas ainda está sendo bom”, esclarece Vieira, citando que para o restante dos anos as perspectivas são mais positivas. E ele não é o único que compartilha dessa visão.

Aos 27 anos, a paraense Hérida Oliveira se mudou para Curitiba no meio da pandemia, em setembro de 2020, e já chegou na capital paranaense sabendo que queria conquistar seu espaço no mercado da moda circular da capital paranaense. Foi quando ela fundou a empresa Desapega com Hérida, focada na venda online não só de roupas, mas também móveis e outros itens. O negócio acabou dando tão certo que há um ano e meio ela fundou a Amazon Moda Circular, que já possui duas lojas na cidade, uma no Centro e outra nas Mercês.

“É um movimento que está acontecendo e a tendência é crescer cada vez mais. Só neste ano, nos três primeiros meses, minha loja cresceu uns 25%. Lá onde eu vivia [Belém] ainda existia um preconceito muito grande, as pessoas não compravam em brechós. Mas aqui o pessoal já é mais acostumado a comprar, porque a cultura europeia é forte aqui e lá [na Europa] isso já é algo comum. Então aqui já tem mais isso e o mercado está crescendo bastante, porque recebo muitas pessoas novas, gente que vai na minha loja e diz que nunca tinha comprado em brechó, mas depois acaba virando cliente”, comemora Oliveira.


‘Não adianta só ser um brechó, precisa oferecer qualidade’
Engana-se – e muito – quem associa brechós a locais empoeirados e entulhados. Claro, há de quase tudo para se encontrar na praça, mas no mercado das roupas usadas um dos segmentos que mais está em alta é justamente o de roupas de marca, peças de luxo.

“Temos um perfil bem moderno, atual. Trabalhamos com peças que acabaram de sair do shopping”, explica Vinícius Ângelo Vieira, da Pur Luxe. “Muitas pessoas consumistas compram demais, desapegam demais, e é aí que entramos. São roupas de marca, masculino e feminino. Trabalhamos com Zara, Animale, Lacoste… Marcas assim, e sempre atual, sempre moderno, recente, porque esse é o perfil do meu cliente, o mesmo cliente de shopping”, complementa ele.

Hérida Oliveira, por sua vez, destaca que o mercado também tem sido uma oportunidade para quem quer fazer um desapego ou ganhar uma renda extra. Segundo ela, quem souber trabalhar com brechó, “vai disparar”, vai se dar bem. Mas preciso, é preciso saber investir e encontrar bons fornecedores. “Não adianta só ser um brechó, precisa oferecer qualidade, peças que a pessoa consiga usar e tenha uma boa durabilidade. Não posso oferecer qualquer coisa, brechó é diferente de bazar”, aponta.


Preço do usado chega a ser 3 vezes menor que uma peça nova
Com o crescimento do mercado de usados, a concorrência entre os brechós é também cada vez mais acirrada. “Mas tem espaço para todo mundo, é um mercado muito novo, muitas vertentes para se entrar: tem brechó só de peças vintage, outros que são focados em pegar qualquer peça, brechós que foram numa linha mais moderna como a nossa…. Tem espaço para todo mundo, mas a concorrência é grande e cresce cada vez mais”, afirma o responsável pela Pur Luxe, dando uma dica importante aos que querem se aventurar nesse mercado.

“As pessoas se destcam escolhendo uma vertente, esse é o segredo. Escolha para onde ir, o que fazer. Um brechó com identidade é o que ganha o público”, diz o empresário, citando ainda um dos principais motivos que faz os brechós estarem em evidência no mercado da moda: os bons preços que são pagos por produtos que muitas vezes estão praticamente novos.

“Olha, a pessoa que vem aqui e leva 10 peças vai pagar uns R$ 300. Esse R$ 300 é o valor de uma calça jeans em qualquer lugar. Nós vendemos os produtos por três vezes menos do que ele provavelmente custou. As vezes é um produto ovo, apelativo, aí vendemos por até metade do preço que custou, mas são casos bem específicos.”