O Ibovespa até resistiu à piora observada nos mercados de ações em Nova York, do meio para o fim da tarde, mas sustentou o sinal negativo pela quinta sessão consecutiva, o que o colocou nesta quarta-feira abaixo dos 129 mil pontos na mínima intradia, convergindo com firmeza a níveis do começo de agosto. Nesta quarta-feira, o índice flutuou dos 128.589,13 aos 129.949,20 pontos, na máxima que correspondeu, como na terça-feira, ao nível de abertura. No fechamento, mostrava perda de 0,55%, aos 129.233,11 pontos, com giro financeiro a R$ 17,7 bilhões. Na semana, o Ibovespa recua 0,97% e no mês cede 1,96%, elevando a retração no ano a 3,69%.

“Amanhã haverá nova rodada de dados de atividade (PMI), que são tomados mais como sinal para o futuro do que o Livro Bege divulgado nesta tarde, um resumo das condições econômicas nos EUA”, diz o analista da Toro Investimentos Lucas Serra.

“O Federal Reserve tem se mostrado ‘data dependent’ dependente dos dados para tomar as decisões sobre juros, e a próxima reunião de política monetária ocorrerá na mesma semana da eleição presidencial americana. Ainda que política não seja o foco das deliberações do Fed, tem prevalecido um nível de incerteza maior no mercado sobre o que virá. Embora a possibilidade seja minoritária, tal incerteza tem elevado a chance de o Fed não vir a cortar os juros em novembro”, acrescenta o analista, destacando o ajuste em vértices como os de 2 e 10 anos na curva dos Treasuries, com efeitos também para o DI, aqui no Brasil.

Assim, para além das incertezas fiscais domésticas, com consequência direta sobre o câmbio (ainda que tenha fechado em leve baixa, segue perto de R$ 5,70) e a curva do DI, o cenário externo promete uma dose maior de volatilidade no curto prazo, o que contribui para limitar o apetite por ações na Bolsa brasileira.

Dessa forma, em dia negativo tanto para o minério de ferro na China como para o petróleo em Londres e Nova York, os carros-chefes Vale (ON -1,75%) e Petrobras (ON -1,42%, PN -1,25%) voltaram a ceder terreno neta quarta-feira, em dia de retração bem distribuída pelas ações de maior peso e liquidez, à exceção de alguns bancos, como Itaú (PN +0,63%), Santander (Unit +1,24%) e BB (ON +0,11%) – setor percebido como defensivo em momento de cautela maior no mercado.

Na ponta ganhadora na sessão, destaque para IRB (+12,29%), Carrefour (+5,24%) e Cogna (+4,41%). No lado oposto, LWSA (-2,95%), Hypera (-2,81%) e Azul (-2,66%).

Na agenda de dados dos Estados Unidos, o foco no período da tarde esteve no Livro Bege, uma compilação feita por unidades regionais do Fed sobre as condições econômicas locais. “O destaque foi o emprego, com aumento de vagas. Mas, ao mesmo tempo, os preços de insumos também subiram, com efeito para o custo dos produtos, o que pode levar a um quadro inflacionário pior do que o Fed vem acompanhando”, diz o head de renda variável e sócio da A7 Capital, Andre Fernandes.

A situação fiscal doméstica também segue no radar dos investidores. Mais cedo, o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) reportou haver resistências internas de integrantes da Esplanada dos Ministérios, que devem tornar ainda mais desafiador o trabalho da equipe econômica para cortar gastos. Liderado por um petista, o Ministério do Trabalho e Emprego, de Luiz Marinho, exemplifica a situação.

A pasta é responsável pelo seguro-desemprego e o abono salarial, duas políticas que custarão R$ 87,6 bilhões em 2025 e estão sob o escrutínio da Fazenda e do Planejamento para eventuais mudanças. Técnicos do Trabalho, por sua vez, dizem que ainda não foram consultados sobre os estudos. Além disso, avaliam que as duas políticas já tiveram sua cota de “sacrifício” no passado recente, reportam de Brasília as jornalistas Giordanna Neves, Amanda Pupo e Fernanda Trisotto.

No Brasil, diante da situação fiscal e da falta de reação do governo com relação a uma agenda de cortes de gastos, a “cabeça do BC” tem mostrado que o sinal da Selic é para cima, diz o operador de renda variável da Manchester Investimentos, Gabriel Mota. “A posição que o BC tem indicado, mesmo após a futura posse de Gabriel Galípolo na presidência, é de que há necessidade de aumentar juros”, acrescenta Mota, destacando também a percepção de piora na situação fiscal doméstica emitida em recente avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2025 e 2026.

Nesse contexto, “a curva de juros doméstica avançou em todos os vértices, desde 2025 até 2033, refletindo preocupações com a política fiscal, o que gera inquietação entre os investidores tanto locais quanto internacionais”, enfatiza o analista do Grupo Fractal, Alexandre Siqueira.