A inflação de serviços diminuiu desde o pico alcançado em 2022, mas deve ter uma trajetória de queda mais dependente de variáveis relacionadas à atividade econômica agora. Essa é a conclusão do Banco Central em dois boxes sobre o tema divulgados nesta quinta-feira, 27, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

“Parte relevante da desinflação de serviços se deu pelo transbordamento de desinflações verificadas em alimentos e bens industriais”, diz o texto. “O fortalecimento do processo desinflacionário, agora em seu segundo estágio, estará mais relacionado ao cenário do mercado de trabalho e da demanda agregada.”

Em um dos boxes, o BC lembra que observa “particularmente com grande atenção” a dinâmica da inflação de serviços, considerada importante no processo de convergência do IPCA às metas. A autoridade monetária usa duas medidas como estimativas de um “núcleo de serviços”: os serviços subjacentes e os serviços excluídas as passagens aéreas.

Ambas as métricas, segundo o BC, atingiram o pico em meados de 2022 e vêm desacelerando desde então, embora pareçam ter atingido um platô recentemente. Os serviços sensíveis à ociosidade da economia e à inércia também têm exibido certa estabilidade os últimos trimestres, destaca.

O BC chama atenção ainda para os serviços intensivos em trabalho, excluídos empregado doméstico e mão-de-obra, que sobem mais de 7% no acumulado de 12 meses. “Esses indicadores sugerem uma cautela maior com a desinflação de serviços, o que é especialmente na conjuntura atual em que a taxa de desocupação está em nível baixo para o seu padrão histórico e os salários reais mostram uma recuperação expressiva”, afirma.

Fatores de produção

Em outro boxe, o BC propõe um modelo para acompanhar a inflação de serviços baseada em subíndices que consideram trabalho, capital, consumo intermediário de alimentos e consumo intermediário de bens. Essas medidas, diz a autoridade monetária, atingiram os picos entre o fim de 2022 e o início de 2023.

A inflação acumulada em 12 meses pelo subíndice de trabalho passa de 7,3% no fim de 2022 para 5,3% até meados de 2023. Todos os outros subíndices também arrefecem nesse período: alimentos (5,5% para 4,4%), bens (11,4% para 4,2%), capital (7,1% para 3,8%) e outros (6,1% para 5,3%).

Hiato do câmbio

O Banco Central divulgou também um boxe sobre contratos de câmbio e as transações correntes, o hiato de câmbio, no Relatório Trimestral de Inflação publicado mais cedo.

O boxe explica que o hiato de câmbio de exportações não pode ser analisado isoladamente do hiato de câmbio em outras contas, já que o exportador pode utilizar suas receitas de exportação para fazer pagamentos relacionados a outras contas do balanço de pagamentos.

O hiato de câmbio das importações cresceu consideravelmente desde 2020, de US$ 9 bilhões para US$ 31 bilhões em 2023, diz o documento. Já o hiato de câmbio das exportações em 2023 foi de US$ 63 bilhões.

O documento ainda aponta que o hiato do câmbio comercial – que agrega os hiatos de câmbio das exportações e das importações – é substancialmente menor que o hiato do câmbio das exportações.

O BC pondera que o crescimento do hiato de câmbio das exportações tem recebido atenção por parte de analistas econômicos, mas que para avaliar essa dinâmica e suas implicações, é preciso avaliar os diversos usos possíveis das receitas obtidas e não internalizadas. O estudo mostrou que o hiato das transações correntes é bem menor que o das exportações. “O comportamento recente desse hiato, juntamente com a análise dos dados do CBE, não sugere que os exportadores tenham acumulado no exterior montante tão significativo de recursos que seria potencialmente internalizado no futuro”, diz.

O RTI ainda trouxe um boxe de contas de exportadores no exterior, com dados anuais dos saldos e das movimentações em contas de depósitos no exterior de exportadores residentes no Brasil. “Essa divulgação visa ampliar o conjunto de informações disponíveis para a análise das estatísticas de exportação e importação de bens das transações correntes do balanço de pagamentos, e dos pagamentos e recebimentos expressos na contratação de câmbio do segmento comercial”, diz o texto.