PEDREIRA ANDREATTA PEDRA PEDRAS PARALELEPIPIDO
Pedreira trabalha na extração de granito que serve diferentes setores (Franklin de Freitas)

O município de Quatro Barras, localizado na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), é muito conhecido por suas belezas naturais. Com trilhas como o Caminho do Itupava e morros como o Anhangava e o Pão de Loth como destaques, a cidade destaca-se por suas formações rochosas. E por isso recebe não apenas um grande número de turistas, mas também reúne uma grande quantidade de pedreiras.

E algumas delas ainda trabalham com o corte manual de pedras, também conhecida como cantaria: o ofício ou arte de talhar blocos de rocha bruta para constituir paralelepípedos, lousas ou outros tipos de pedras.

Um exemplo é a F M Comércio de Pedras, que está na terceira geração da família Andreatta. Hoje, quem toca o negócio é Felipe Franco Andreatta, neto do fundador da empresa. “Eu sou a terceira geração da família aqui. Começou com o meu avô, depois foi pro meu pai e agora está comigo. Eu e um primo meu estamos tocando a empresa, dando sequência a essa linhagem da nossa família, que já vem de tempos produzindo o material”, conta com o empresário.

A pedreira trabalha com a extração de granito de uma montanha que fica na propriedade e conta com 15 funcionários. Manualmente, esses cantareiros produzem uma média de 200 pedras por dia cada um, de segunda a sexta-feira.

“Fazemos paralelepípedos, que é pra pavimentação de estrada e pátio, lugar que vai ter um trânsito mais pesado, né? Daí tem a lousa, que ela é um pouquinho mais fina que o paralelepípedo e usada mais pra calçada de pedestre, lugar que não vai ter tanto peso. Dá para fazer meio-fio de pedra, degraus de uma escada, pilar, um banco… Daí até escultura de pedra. Se a pessoa pedir, dá para trabalhar. Temos alguns rapazes que trabalham aí, fazem esse serviço de lapidar a pedra e deixar na forma que é para ser feito”, explica Andreatta, citando a variedade de produtos ofertados pela F M.

PEDREIRA ANDREATTA
PEDRA
PEDRAS
PARALELEPIPIDO
(Franklin de Freitas)

Empresário explica como é feito o recorte de uma pedra

Felipe Andreatta, empresário, e Luís Carlos Alves, talhador (ou cantareiro), explicam que tudo começa com a extração de um bloco de pedra da jazida. No terreno da pedreira há uma espécie de montanha, que na verdade é uma rocha de onde é extraída a matéria-prima (granito) a ser talhado pelos trabalhadores.

Em seguida, então, esses blocos de pedra são levados para tendas, onde começa o trabalho de corte manual. “Cada pedra tem tipo um veio. Assim como na madeira, tem o veio da pedra. E os cantareiros conhecem o veio da pedra e vão trabalhando nesses veios para poder quebrar mais fácil, cortar mais fácil”, explica. “Então, o processo começa na rocha, daí a pedra vem em blocos. Depois, eles [cantareiros] começam a fazer o trabalho manual e vão fragmentando aos poucos a pedra, até chegar no tijolinho ou no tamanho que o cliente quer”, emenda.

Para conseguir um corte perfeito, é necessário fazer vários furos na pedra, comenta ainda Luís Carlos Alves. “A gente põe um risco na pedra com a régua, marca a medida e daí vamos fazendo a talha e os buraquinhos, com uma ponteira. Uma peça leva uns 15 minutos para fazer na maceta. Não é pouco tempo, né? Mas qualquer um aprende a trabalhar nesse negócio aí, é só ter força de vontade. Se vir aqui, ficar olhando o pessoal trabalhar, aprende”, ensina Alves, que tem 63 anos de idade e há 30 trabalha na F M – sua experiência com as pedreiras, no entanto, vem de ainda antes.

Cantareiros, uma mão de obra que está se acabando: “Hoje, querem o computador”

Hoje, as pedras produzidas pela F M são vendidas, principalmente, para o próprio Paraná, embora clientes de Santa Catarina e até do Rio Grande do Sul já tenham sido atendidos. E um fato curioso é que o trabalho manual consegue ser mais perfeito que o mecanizado. “Aqui, cada trabalhador faz 200 pedras por dia [no manual]. No 100% mecanizado, cada um faz mil [pedras]. Só que a qualidade daqui [manual] é muito maior do que a do mecanizado”, explica Andreatta.

Ainda assim, a pedreira tem investido nos últimos tempos na mecanização de seus processos. E isso não só por causa da maior produtividade, mas também pela dificuldade em se conseguir contratar novos trabalhadores, por exemplo, para aumentar a produção.

“Não temos nem telefone ainda, não divulgamos muito por internet. A gente já tem uma demanda regular e não conseguimos expandir muito a produção, porque a mão de obra é finita – e é uma mão de obra que está se acabando”, afirma o empresário, dizendo que hoje os trabalhadores mais jovens já não querem saber do ofício. “Eles querem trabalhar no computador, fazer uma coisa leve. E no futuro a gente vai sofrer, porque todo mundo vai querer fazer o serviço leve e vai faltar gente para fazer o serviço pesado. Para qualquer serviço pesado, hoje falta mão de obra”, comenta ainda ele.

Não à toa, a maioria dos trabalhadores da pedreira são pessoas com “um pouco mais de idade”, como define o próprio Andreatta, com mais de 30 anos de idade e, não raro, com mais de dez anos de empresa.

“Tinha mais de dez pedreiras aqui, hoje só tem duas”. Questões ambientais e comerciais influem
De acordo com Felipe Andreatta, até alguns anos atrás já houve mais de uma dezena de pedreiras em Quatro Barras trabalhando com o corte manual de pedras. Hoje, porém, são apenas duas empresas que mantém essa tradição, enquanto as outras pedreiras da região já trabalham atualmente com britagem, para a construção civil. A redução do mercado, explica ele, se deve a dois fatores, um comercial e outro ambiental.

“A demanda pelas nossas pedras teve bastante queda, porque começou a entrar muito o paver no mercado, o asfalto. Até por isso as outras pedreiras por aqui foram fechando. E também teve a questão da burocratização ambiental… Mas a gente gosta de dizer que da pedra não se perde nada, se aproveita tudo. Só que os órgãos ambientais não entendem isso e acabam dificultando o processo. Por conta disso, parou-se bastante aqui na Borda do Campo [a produção de pedras]. Tinha mais de dez pedreiras, hoje só tem duas”, lamenta ele.

A jazida da F M, por sua vez, deve ser explorada por mais 20 anos. “Aqui é uma rocha. A gente recapou a parte de cima dela já há tempos e agora a gente só extrai na mesma rocha, a gente não expande lateralmente. Como ela ficou como um morro no meio da nossa propriedade, a gente tá tirando ela até esvaziar, digamos assim”, diz Andreatta. “Tem pedra pra baixo também. Quando terminarmos de explorar a montanha, daí faz-se um outro estudo e vê se compensa continuar explorando.”

“Os nossos trabalhadores são pessoas que já trabalhavam no meio; aprenderam em outro lugar e depois vieram pra cá; ou eram de uma família de agricultores e viram no nosso mercado uma oportunidade.
Aí começaram, tiveram força de vontade para olhar e aprender a cortar pedra.”
Felipe Franco Andreatta, neto do fundador da empresa e é quem toca o negócio