reuso de agua
Pesquisa revela que o Brasil pode perder 40% de disponibilidade de água até 2040 (Freepik)

O Brasil pode perder 40% de disponibilidade de água até 2040, segundo um estudo da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). A pesquisa “Impacto da Mudança Climática nos Recursos Hídricos do Brasil” divulgada em janeiro deste ano, afirma que a disponibilidade desse recurso pode diminuir nas bacias hidrográficas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste.

Apenas na região Sul há tendência de aumento da disponibilidade hídrica de até 5% até 2040. Porém, há uma maior possibilidade de imprevisibilidade climática, como eventos de secas e inundações, o que já temos presenciado nos últimos anos.

A crise climática traz consigo diversos problemas ambientais, econômicos e sociais como as enchentes no Rio Grande do Sul, onde milhares de pessoas continuam desabrigadas; e na Cidade do México, uma das maiores metrópoles do mundo, com mais de 22 milhões de habitantes, que pode ficar sem água nos próximos meses devido ao longo período de estiagem.

Apesar da extensão territorial e diversidade ambiental, o Brasil enfrenta dificuldades na gestão sustentável da água. Além das intensas mudanças climáticas, a contaminação desse recurso por poluentes industriais, resíduos agrícolas e urbanos compromete a qualidade da água, afetando diretamente a saúde da população, além de comprometer as bacias hidrográficas e lençóis freáticos.

O Brasil já é um grande consumidor hídrico e, de acordo com dados do Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil, as estimativas são que até 2030 o uso de água deverá aumentar em 24%, superando a marca de 2,5 milhões de litros por segundo.

Foco de preocupação mundial, buscar alternativas para o uso sustentável desse recurso é urgente. Um caminho é a prática do reúso da água, que já é necessário no cenário atual e que, com o passar dos anos, será ainda mais essencial.

Sustentabilidade e água de reuso

O custo da água no Brasil ainda é muito baixo e as políticas públicas não incentivam o uso consciente, o que torna o desperdício um problema grave.

É urgente que indústrias e a agricultura iniciem a reutilização desse recurso, assim como pensar que em poucos anos a sustentabilidade e a água de reúso sejam pautas efetivas até mesmo nas médias empresas.

Advogada e mestra em gestão ambiental, Carol Vosgerau Gusi garante que o assunto é inadiável. “A água, ainda que aparentemente abundante, merece mais atenção na construção e no planejamento de ambientes. Soluções para reaproveitamento desse importante recurso existem e devem ser priorizadas”, afirma.

Carol é idealizadora da Galeria Panaceia, em Curitiba, uma construção 100% sustentável e que traz inúmeras possibilidades para outras empresas. “Contamos com profissionais e especialistas das mais diversas áreas para tornar possível a proposta da Galeria. Por meio de um trabalho de curadoria, evitamos o desperdício, não apenas de materiais, mas também dos recursos naturais envolvidos na obra, como energia e água”, conta.

A Panaceia possui dois sistemas de abastecimento de água. O primeiro com água potável, própria para consumo e um segundo, de reuso.

O abastecimento de água potável funciona da seguinte forma: a prioridade é a captação da água da chuva, que é tratada no local. Havendo algum período de estiagem que diminua consideravelmente o nível da água, automaticamente é ativado o segundo sistema, o poço semi-artesiano. Se esse sistema também falhar, será utilizada a água da concessionária.

O sistema de reúso, por sua vez, foi projetado para gerenciar a água imprópria para consumo que abastece as bacias sanitárias. O tratamento é realizado no local, não precisando ser direcionado para a concessionária e, após esse tratamento, retorna para o uso nos sanitários. Se eventualmente, esse primeiro sistema falhar, recorre-se à água de chuva não tratada e, em último caso, é utilizada água da caixa potável.

A galeria reutiliza até mesmo a água dos ares condicionados. Foi feito uma estrutura para que a água desses equipamentos fosse direto para uma torneira que fica no subsolo para que possa ser usada novamente. “Essa água seria perdida, então pensamos em alguma alternativa para que ela fosse reaproveitada. Não dá para beber, mas podemos aguar as plantas do bosque ou da horta”.

O empreendimento será inaugurado em agosto deste ano e tem como objetivo ser um espaço para encontros e também uma forma de apresentar alternativas para pessoas e empresas.