Diretor Risden fala sobre estratégias de biogás na Sanepar (foto: Unido)
Diretor Risden fala sobre estratégias de biogás na Sanepar (foto: Unido)

O Paraná tem se destacado como protagonista na transição energética e no desenvolvimento da bioeconomia, sendo a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) pioneira na integração do biogás à infraestrutura de saneamento. A convite da Agência da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), a empresa apresentou esse case no Painel sobre Estratégias Regionais do Biogás e Biometano como Promoção da Cooperação Internacional, que integrou as discussões do Grupo de Trabalho (GT) do G20 focado em energia, em Foz do Iguaçu. A cidade, no Oeste do Paraná, sedia até sexta-feira (4), a reunião ministerial do GT de Transições Energéticas do bloco que reúne as maiores economias do planeta. O evento vai tratar das políticas de transição energética, energias renováveis e tecnologias limpas.

“A Sanepar possui o maior parque de reatores anaeróbios do mundo tratando esgoto doméstico e tem sido destaque em iniciativas de recuperação energética de biogás. Estima-se que mais de 60 milhões de metros cúbicos de biogás podem ser produzidos anualmente somente a partir do esgoto no Paraná”, ressaltou o diretor de Inovação e Novos Negócios, Anatalicio Risden Junior, que fez a apresentação.

A empresa foi pioneira na implantação do sistema de microgeração distribuída de energia elétrica da Estação de Tratamento de Esgoto Ouro Verde, em Foz do Iguaçu, a primeira desta natureza a ser operacionalizada no setor de saneamento do Brasil. Também projeto da Sanepar, a US Bioenergia é capaz de produzir até 2,8 MWh de energia elétrica renovável a partir da codigestão de lodo de esgoto (até 900 m3/dia) e materiais orgânicos de grandes geradores (até 150 ton/dia).

A Estação de Tratamento de Esgoto Atuba Sul, em Curitiba, também é destaque por seu sistema inovador de secagem térmica de lodo que utiliza como combustível o biogás e biomassa (lodo seco) produzido na própria localidade. O sistema é capaz de processar 5 toneladas de lodo por hora, transformando-o em cinzas e evitando o envio de grandes volumes de material para aterros sanitários.

A Sanepar está ainda desenvolvendo estudos para produção de biometano e hidrogênio renovável. Com recursos da ordem de R$ 20 milhões, estão em andamento projetos que contam com recursos não-reembolsáveis da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O projeto de recuperação de biogás do meio líquido e produção de biometano e gás carbônico está sendo desenvolvido em parceria com o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás).

Já o projeto de produção de hidrogênio renovável a partir da reforma catalítica a seco do biogás e utilização para fins de eletromobilidade está sendo coordenado junto com a Copel e em parceria com Universidade Federal do Paraná (UFPR) e CIBiogás.

A Sanepar também concluiu recentemente junto com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK), com recursos do Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Proteção ao Consumidor da Alemanha (BMUV), estudos sobre viabilidade de produção de hidrogênio a partir do esgoto e vem dialogando com a empresa Graforce as possibilidades de adoção do método da plasmálise do metano em seus processos.

A partir do programa Paraná Bem Tratado, a Companhia está investindo na eficiência de algumas das unidades de tratamento de esgoto, incluindo o aproveitamento do biogás. Com financiamento de 50 milhões de euros, contratados junto ao banco alemão KfW, já tem obras em andamento e outras que serão concluídas até 2025.

“O biogás é um vetor de desenvolvimento regional e sua recuperação proporciona benefícios como redução de custos operacionais, potencializando a modicidade tarifária e a universalização dos serviços de saneamento em bases sustentáveis”, disse Risden. Além disso, o biogás é uma fonte de energia renovável que ajuda a reduzir a dependência de combustíveis fósseis e a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

REUNIÃO MINISTERIAL – A reunião do GT de Transições Energéticas do G20 em Foz do Iguaçu faz parte da programação prévia do encontro da cúpula dos líderes mundiais – G20, que acontecerá em novembro no Rio de Janeiro.

Na reunião em Foz do Iguaçu estão presentes ministros e secretários de energia das principais economias do planeta, além de líderes e especialistas do setor. O encontro é presidido pelo ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira.

A cidade também recebe eventos paralelos ligados ao assunto, como o Clean Energy Ministerial (CEM), fórum global para compartilhamento de experiências bem-sucedidas relacionadas à energia limpa e economia de baixo carbono, a Mission Innovation (MI), que trata iniciativas globais de inovações tecnológicas e regulatórias em energia de baixo carbono, e o Congresso da Associação Mundial do Biogás, voltado para explorar estratégias para maximizar o potencial da bioenergia pelo mundo.

CONGRESSO MUNDIAL DE BIOGÁS – A Sanepar também apresentou nesta semana os seus projetos no Congresso da Associação Mundial do Biogás (WBA – World Biogas Association). O evento coincidiu estrategicamente com as reuniões de energia do GT do G20. Com foco no desenvolvimento do biogás e da bioeconomia no Brasil, o Congresso reuniu autoridades governamentais, líderes empresariais e especialistas globais para discutir o papel do biogás na transição energética global.

O especialista em Pesquisa e Inovação da Sanepar, Gustavo Possetti, falou sobre as abordagens adotadas pela Companhia para a produção e recuperação energética do biogás. Ele reportou que a Sanepar possui tradição e experiência em projetos de recuperação energética de biogás, assim como no reaproveitamento de lodo de esgoto.

“Projetos de pesquisa conduzidos ao longo das últimas décadas possibilitaram que a Companhia pudesse escalar soluções inovadoras e sustentáveis em seus processos produtivos. A Sanepar está atenta a pauta da transição energética e busca, por meio de parcerias, promover as economias circular e de baixo carbono, fortalecendo suas atividades fim e aprimorando constantemente os serviços ofertados para a população”, afirmou.

ENERGIA QUE VEM DO RESÍDUO – O biogás é produzido a partir da decomposição de materiais orgânicos, como resíduos sólidos, esgoto doméstico e lodo de esgoto, em ambiente sem oxigênio (anaeróbio). Composto majoritariamente por metano, o biogás é altamente calorífico. A partir dele é possível gerar energia elétrica, térmica, veicular e, inclusive, produzir hidrogênio, sendo considerado uma energia limpa e renovável.

CÚPULA DO G20 – Nesta semana, também acontecem as discussões dos GTs de Infraestrutura e de Sustentabilidade Climática e Ambiental, no Rio de Janeiro. Ao todo, 15 cidades brasileiras receberam ou ainda vão sediar reuniões ligadas ao G20 até novembro, quando o Brasil deixa a presidência do bloco.

Além do Brasil, integram o G20: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Coreia do Sul, Rússia, Turquia, União Africana e União Europeia. Participam ainda como países convidados desta edição, Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal e Singapura. Os integrantes da cúpula representam cerca de 85% da economia mundial, mais de 75% do comércio global e concentra cerca de 66% da população do planeta.