Aparelho que faz eletrocardiograma doméstico chega às farmácias do País

Estadão Conteúdo

Um novo equipamento de uso doméstico que realiza tanto o exame de eletrocardiograma (ECG) quanto a medida de pressão arterial foi lançado no Brasil. O dispositivo, que está disponível para venda em farmácias, foi desenvolvido após uma mudança na diretriz da Sociedade Europeia de Cardiologia, que passou a recomendar a realização diária do ECG por grupos de risco. Para especialistas, a tecnologia pode facilitar a detecção e prevenção dos problemas do coração. Mas eles alertam para a importância do uso consciente.

Segundo Audes Feitosa, presidente do departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o novo produto, desenvolvido pela empresa japonesa Omron Healthcare, se soma a diversos outros dispositivos que permitem a realização do ECG em casa, como os relógios inteligentes. O diferencial do aparelho japonês é que ele realiza o ECG e também a medida de pressão, algo que pode render uma assertividade maior na detecção das irregularidades cardiovasculares, como é o caso da fibrilação atrial.

Trata-se de um tipo comum de arritmia cardíaca, problema que leva à má circulação sanguínea. Esse quadro aumenta o risco de acidente vascular cerebral (AVC).

“Quando há a possibilidade de analisar dados dos dois tipos de exame, dá para saber, por exemplo, se a arritmia tem repercussão na pressão arterial do paciente. Você quantifica ambas as informações de uma vez só”, explica Feitosa. “Com alguns relógios, a gente consegue ter uma estimativa de pressão arterial baseada em algoritmos, mas, quando o aparelho de pressão faz também a parte do ECG, você consegue um dado mais assertivo.”

Estudo

Em estudo da SBC, pesquisadores testaram o equipamento na identificação da fibrilação atrial. Os resultados, apresentados no último dia 20, no Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Brasília, foram positivos, especialmente para detectar o problema em pacientes assintomáticos – ou seja, que não apresentavam sintomas típicos da condição, como palpitação, falta de ar e dor no peito.

Na pesquisa, foram avaliados 408 indivíduos assintomáticos com 65 anos ou mais, idade considerada de risco. O equipamento apontou, então, que 13 pessoas (3,2%) tinham o problema, enquanto 120 (29,4%) podiam ser consideradas de alto risco.

Na opinião de Tan Chen Wu, cardiologista da Divisão de Arritmias do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, o uso desse tipo de dispositivo pode ajudar a aumentar o número de pacientes em tratamento e a prevenir desfechos ruins, sobretudo o AVC – problema que resulta na morte de 307 pessoas por dia, segundo dados divulgados pelo Portal da Transparência do Registro Civil em 2022. “Além da possibilidade de causar a morte, o AVC está ligado a diversas comorbidades. O paciente pode ter déficit cognitivo, paralisia, ficar acamado. Geralmente, são sequelas difíceis de tratar e que impactam muito na qualidade de vida. Quando falamos de um dispositivo que pode resultar numa maior assertividade e prevenir esse tipo de problema, não falamos só em redução do número de mortes”, opina Tan.