Tragédia em Vinhedo: processo de identificação de vítimas continua, mas em ritmo mais lento

Estadão Conteúdo
Acidente aéreo Voepass

Vinhedo (SP) 10/08/2024 – Movimentação próximo ao local do acidente que envolveu o avião da Voepass Linhas Aéreas que vitimou 62 pessoas. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O processo de identificação dos corpos de vítimas do acidente da Voepass, na sexta-feira, continua, mas chega a um momento mais lento, de forma a garantir a precisão. “Garanto para vocês que, quando esses corpos forem entregues aos seus familiares, eles vão ter 100% de certeza de que realmente é aquela pessoa. Não liberamos nenhum corpo se não houver certeza absoluta nessa verificação. Por isso, o processo daqui para a frente é um pouco mais lento, minucioso”, afirmou Vladmir Alves dos Reis, diretor do Instituto Médico-Legal (IML) de São Paulo.

Todas as vítimas passaram por necropsia até domingo. Depois, todos os corpos permaneceram à disposição das equipes especializadas para a coleta de exames radiológicos, principalmente da cavidade bucal para que fosse realizada a comparação odontológica com eventuais exames prévios das vítimas do acidente. Também foi realizada a coleta de material biológico para eventual exame de DNA.

A unidade Central do IML de São Paulo permanece trabalhando exclusivamente na identificação dos corpos das vítimas do acidente. Ainda não há prazo para a conclusão. Conforme boletim do governo de São Paulo divulgado na tarde de ontem, 45 corpos foram identificados e 27 liberados aos familiares, que são os primeiros a serem informados sobre o andamento do trabalho de reconhecimento. Os outros cinco estão em processo de liberação e aguardam documentação complementar para liberação para velório e posterior sepultamento.

O fato de algumas vítimas terem sido atingidas pelo fogo quase seguiu à queda é um complicador. “Com a labareda, alguns corpos foram queimados, já após as mortes. Hoje, temos a certeza de que todas as vítimas tiveram morte por politraumatismo. Temos a convicção e a certeza científica de que todos morreram de politraumatismo. A aeronave despencou de uma altura de 4 mil metros e, ao atingir o solo, o choque foi muito grande e todos sofreram politraumatismo”, afirmou Reis.

NO PARANÁ

A aeronave KC-390 Millennium, da FAB, transportou ontem as primeiras urnas funerárias de São Paulo para Cascavel. A expectativa é de que seja realizado um velório coletivo no centro de eventos para quem desejar – 22 das vítimas são da cidade.

Mas alguns optaram por não esperar. Depois de uma longa espera, familiares e amigos velavam ontem à noite, na Associação Atlética Comercial, em Cascavel (PR), os corpos do empresário Antonio Deoclides Zini Junior, de 40 anos, e da fisioterapeuta Kharine Pessoa Zini. A família decidiu trazer os corpos de carro, em um percurso de 930 km.

O ex-goleiro do Cascavel Futsal era diretor da Transportadora Pra Frente Brasil, de propriedade da família. “Não é fácil a perda de um irmão dessa forma repentina, irreparável. Infelizmente, é um momento muito difícil para a família”, afirmou Jean Zini, um dos quatro irmãos.

Indenizações às famílias

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), a Defensoria Pública do Estado do Paraná, e o Ministério Público do Estado do Paraná fizeram nesta terça-feira (13) a primeira reunião com a Voepass Linhas Aéreas e uma empresa seguradora para tratar das indenizações às famílias das 62 vítimas do voo 2283. A queda do avião da companhia aérea ocorreu na última sexta-feira (9), no município de Vinhedo (SP), e não deixou sobreviventes.   

De acordo com a defensora pública-geral do estado de São Paulo, Luciana Jordão, foi tratada, inicialmente, a liberação do seguro obrigatório – chamado de seguro Reta – que cobre despesas extraordinárias iniciais das famílias. Em um segundo momento, de acordo com a defensora, serão discutidas as indenizações de responsabilidade que deverão ser pagas pela empresa aérea.

“O Ministério Público do Estado de São Paulo e a Defensoria Pública do Estado de São Paulo estão revisando todas as documentações para que as famílias tenham a segurança de assinar essas documentações, principalmente com relação ao seguro Reta, com tranquilidade. Posteriormente, ainda muito embrionariamente, nós seguiremos para o segundo momento, que é o momento das indenizações de responsabilidade”, disse a defensora.

Uma segunda reunião entre as defensorias, ministérios públicos, a Voepass e a seguradora já está agendada para a próxima terça-feira (20).

Plano integrado

O Ministério Público do Estado de São Paulo informou que constituiu hoje um plano de atuação integrada com promotores de diversas áreas para acompanhar o processo judicial sobre o acidente aéreo. “É um grupo absolutamente plural. Ele envolve promotores de justiça de todas as áreas. Então eles vão atuar conforme as respectivas áreas. Pode ser área de registros públicos, de proteção ao consumidor, área criminal”, disse o subprocurador do MPSP, Roberto Barbosa Alves.

Alves ressaltou que a empresa Voepass tem cooperado com as investigações “dentro do possível”, mas que ainda não há previsão de quando ocorrerá a apresentação de denúncia por parte do MPSP. “Ainda há remoção de vestígios no local do acidente, isso tudo evidentemente ainda demanda uma série de providências que são de prazo absolutamente indeterminado”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.