Além do estremecimento das relações com a Igreja, o ex-deputado nicaraguense Elíseo Nunez acredita que a reação desproporcional do ditador Daniel Ortega com relação ao Brasil esteja relacionada a outro regime autoritário: a Venezuela.

O Brasil, ao lado de Colômbia e México, se propôs a facilitar o diálogo e ainda não reconhece o resultado da eleição de Nicolás Maduro, no dia 28 de julho. A posição do grupo é cobrar a divulgação das atas, que comprovariam os resultados, uma perspectiva cada vez mais distante.

“Ortega considera a posição brasileira uma traição, porque acredita que apenas por ser de esquerda, ser anti-imperialista, deveria ter o direito de massacrar o seu povo. Quando ele se depara com uma esquerda mais democrática, considera uma traição. A mensagem é: o que você está tentando na Venezuela, comigo não funciona”, disse Nunez.

Ainda que Caracas não forneça mais apoio material a Ortega, em razão do debacle econômico, a continuidade de Maduro ajuda o ditador. “Se Maduro deixar o poder, será uma perda para Ortega, porque tirará um dos seus aliados mais importantes” afirma a analista Elvira Cuadra Lira.

ESTRATÉGIA

Antes do rompimento, o Brasil chegou a expressar preocupação no Conselho de Direitos Humanos da ONU, embora tenha se recusado a assinar uma declaração condenando os crimes contra humanidade da Nicarágua.

Nos bastidores, Lula chegou a defender uma “posição construtiva” com a Nicarágua, mas a ditadura esticou a corda. “Ortega quer tornar a situação na Nicarágua tão complexa que a única saída seja o uso da força. Porque, se a única saída for a força, a comunidade internacional não tem como fazer nada”, afirma Nunez.