Em meio à onda de calor e seca no México, aves em sofrimento estão recebendo ar-condicionado e macacos com insolação estão sendo resgatados por organizações não governamentais.

O governo, por sua vez, tem se preocupado mais em resfriar os animais nos zoológicos estatais, dando aos leões picolés de carne congelada. Não é o único tratamento gelado: um grupo de resgate está alimentando corujas em apuros com carcaças de ratos enviadas congeladas da Cidade do México.

Uma onda de calor, com uma área de alta pressão sobre o sul do Golfo do México e o norte da América Central, bloqueou a formação de nuvens e causou um extenso período de sol e altas temperaturas em todo o México, assim como nos Estados Unidos.

Grande parte do impacto na vida selvagem está sendo sentida no centro e no sul do México, porque, embora as temperaturas também sejam altas no norte, essa região é principalmente desértica, e os animais ali têm alguns mecanismos de enfrentamento para o calor extremo e a seca.

Na úmida costa do Golfo, um parque de animais montou salas com ar-condicionado para águias, corujas e outras aves de rapina. No sul, macacos bugios continuam a cair mortos das árvores devido à insolação. As mortes provavelmente já passam de 250.

No Estado sulista de Tabasco, os poucos macacos que podem ser salvos da desidratação e insolação estão sendo resgatados principalmente por ONGs como o grupo Conservação da Biodiversidade do Usumacinta. Conhecido como Cobius, por suas iniciais, o grupo resgatou e estabilizou 18 macacos.

O biólogo de vida selvagem Gilberto Pozo, chefe do grupo, tem acompanhado equipes de biólogos e veterinários na selva em busca de macacos doentes.

Muitas vezes, eles chegam tarde demais.

“Ontem perdemos três dos animais”, disse Pozo enquanto se sacudia em um caminhão ao longo de uma estrada rural no Estado costeiro sulista de Tabasco, a área mais atingida. “Saímos para resgatá-los. Não conseguimos estabilizá-los.” Os macacos estavam muito desidratados devido a uma espécie de grave perda de fluidos.

Até 31 de maio, o Departamento de Meio Ambiente reconheceu que um total de 204 macacos bugios haviam morrido, 157 deles em Tabasco. Pozo disse que o número apenas em Tabasco aumentou para 198, sugerindo que o total nacional agora está próximo de 250.

“O único plano ou programa de resgate é o que nossa organização está fazendo”, disse Pozo. Em meio a cortes orçamentários para muitas agências ambientais, o governo agora tem de depender de ONGs.

Em um comunicado, o Departamento de Meio Ambiente disse que as “autoridades ambientais federais atenderam aos relatos desses eventos, em uma abordagem coordenada com grupos cívicos e acadêmicos”. O governo forneceu alimentos, alojamento e água para equipes das ONGs e animais doentes.

Segundo o departamento, os testes indicam que os primatas estão morrendo de insolação, mas acrescenta que a seca causou uma “falta de água nos riachos e nascentes nas áreas onde os macacos vivem” e isso também parece ter influenciado.

Algumas ONGs estão lutando para pagar pelo cuidado e estão pedindo doações, como a Selva Teenek, um parque de vida selvagem sem fins lucrativos na região de La Huasteca, mais ao norte.

Em 9 de maio, as temperaturas naquela área subiram para cerca de 50ºC, e os socorristas e funcionários trouxeram 15 aves de várias espécies encontradas deitadas no chão.

“Isso nunca havia acontecido antes”, disse Laura Rodríguez, veterinária do parque. “100% dos animais precisavam de reidratação. Alguns estavam tão desidratados que não pudemos dar-lhes água por via oral.”

Ena Mildred Buenfil, líder do grupo de resgate de animais Selva Teneek, disse que as aves – assim como os macacos bugios – estão simplesmente caindo mortas.

“As aves começaram a ter problemas, e algumas literalmente começaram a cair mortas em pleno voo”, disse Buenfil. “Alguns dos mais afetados foram os recém-nascidos. As pessoas nos enviaram fotos de dezenas de papagaios mortos no chão.”

As aves estavam sofrendo de estresse por calor, desidratação e desnutrição, simultaneamente. Os resgatistas tiveram de tirá-las do calor, dar-lhes água e alimentá-las.

Isso incluiu um envio de ratos mortos congelados da Cidade do México. “Os adultos (corujas) precisam de ratos. Felizmente, temos ratos”, disse Buenfil, mas observou que a equipe tem de descongelá-los um pouco para esfolá-los e remover suas entranhas antes de poderem ser dados às aves.

Desde então, dezenas de outras aves – e alguns morcegos, linces e coiotes – foram encontradas vivas, mas sofrendo, e também foram levadas ao parque Teneek.

A situação ficou tão lotada nas três salas com ar-condicionado no parque que a equipe teve que colocar lençóis ou cortinas para separar as aves de rapina das outras aves que são suas presas.

Várias aves morreram, mas algumas espécies – como os kinkajous que vagam pelo parque – só precisam do ar-condicionado durante o dia e são soltas à noite. Outros, como os tamanduás, conseguem se virar com a brisa de um ventilador.

Os leões no zoológico de Chapultepec na Cidade do México receberam uma guloseima congelada de sangue e ossos de animais misturados com água. Alberto Olascoaga, chefe do zoológico da capital, disse que os animais gostam disso – e isso ajuda a hidratá-los.

“Eles brincam com o picolé. Eles lambem, quebram, mordem, e estão se refrescando e bebendo essa água fria enquanto ela derrete”, disse Olascoaga.

Claudia Sheinbaum, a cientista ambiental que venceu a eleição presidencial de 2 de junho para suceder Andrés Manuel López Obrador, ofereceu alguma esperança de que as relações tensas sobre como lidar com a difícil situação da vida selvagem possam mudar quando ela assumir o cargo em 1º de outubro.

“Passei toda a minha vida estudando o meio ambiente, é parte da minha causa”, escreveu ela em uma rede social na quarta-feira.