O Parque de Diversões Alvorada, em foto de 2007 (Arquivo Pessoal)

Curitiba deve ganhar, em breve, um parque de diversões no Parque Barigui. Na última semana foi lançado um edital para a escolha do permissionário que vai operar a atração, que terá até 15 brinquedos (entre familiar, infantil e radical) e deve ser inaugurado no Dia das Crianças, em 12 de outubro. E o anúncio da novidade reavivou a história de um outro lugar: o Parque de Diversões Alvorada, que ao longo de quase 50 anos fez a alegria de gerações de curitibanos.

Inaugurado em 1961, o negócio era administrado pelo casal Milton França Ribeiro e Maria de Lurdes da Conceição e ficou conhecido após instalar-se nos fundos do Passeio Público, na região central da Capital.

“No início a gente ficava viajando com os brinquedos, ia para várias cidades e participava de eventos. Depois de um tempo fixaram o parque no Passeio Público, numa área praticamente toda da família Leão. Meus pais alugavam vários lotes e um tempo depois até conseguiram comprar uma parte”, conta Maria de Lourdes da Conceição, a Lurdinha. Ela é filha de Maria com Paulo da Conceição (que faleceu quando ela tinha apenas alguns meses de vida) e enteada de Milton (a quem também chama de pai).

Nos tempos áureos, o Alvorada chegou a atender milhares de pessoas num só dia. A data com maior movimento era o Dia das Crianças, justamente quando deve ocorrer a inauguração do novo parque.

“Sempre foi a nossa cereja do bolo [o Dia das Crianças]. Se tivesse tempo bom, a gente recebia umas cinco mil pessoas nesse dia”, comenta ela, lembrando que por anos o Passeio Público foi o ‘ponto da diversão’ na cidade.

“Ali no Passeio Público, do lado do parque de diversões, tinha o Circo Irmãos Queirolo. A gente [Lurdinha e o irmão dela, Paulo] foi criado ali, junto com os irmãos Queirolo também. Era tudo diversão ali: Passeio Público, Parque Alvorada e o Circo dos Irmãos Queirolo”, destaca Lurdinha, recordando ainda com carinho dos momentos que o parque proporcionou para ela e tantas outras pessoas.

“Olha, é muita gente [que vivenciou o Parque Alvorada]. A maioria das pessoas da minha geração – estou com 56 anos – passaram pelo Parque Alvorada, porque era a diversão que tinha na época, né? E eu fico emocionada, são umas três gerações de crianças que passaram pelo parque. E para mim era uma alegria! Os meus amiguinhos e do meu irmão ficavam loucos, porque nossos aniversários fazíamos sempre no parque. Minha mãe arrumava a pista dos carrinhos bate-bate, tirava os carros e fazia ali o buffet e depois as crianças brincavam à vontade.”

Parque novo e casa nova pro Alvorada…

Nos anos 1980, contudo, a região do Passeio Público passou por transformações urbanísticas e parte da propriedade onde ficava o parque de diversões foi desapropriada pela Prefeitura de Curitiba para a abertura de uma nova rua.

As alterações fizeram o fluxo de veículos nas proximidades do Alvorada começar a crescer, tornando a localidade mais perigosa para o público. Ao mesmo tempo, o movimento no Passeio Público e no próprio parque começou a cair, o que se agravou com a inauguração do Shopping Mueller, em 1983, que marcou o início da era dos shopping centers na cidade.

Foi quando Milton e Maria começaram a pensar em levar o Alvorada para outro lugar.

“Aí, quando o Jaime Lerner era prefeito, teve a visão de transformar o Parque Barigui num parque mesmo, porque o espaço tinha sido criado anos antes com a intenção mais de conter as enchentes do Rio Barigui. Foi quando meus pais decidiram ir para lá, colocar todos os aparelhos lá. Nós pagávamos aluguel ali, éramos permissionários daquele espaço e meu pai pagava para a Urbs”, explica Lurdinha.

A mudança para o Barigui ocorreu de maneira gradativa, com os brinquedos (como o Trem Fantasma, a Roda-gigante e o Chapéu Mexicano) sendo levados aos poucos para o local – tanto que o parque que ficava no Centro de Curitiba só foi ser desativado, efetivamente, em 1996.

No novo endereço, o foco, o principal público do Alvorada passou a ser os pequenos, as crianças menores, e o parque também intensificou as ações sociais, para receber crianças de escolas estaduais e escolas municipais, por exemplo.

“Mas o parque não abria dia de semana, era só final de semana, porque o movimento maior era sábado e domingo, durante a semana não compensava abrir. E os brinquedos eram para todas as idades, né? Tinha roda-gigante, trem fantasma, o rotor, o chapéu mexicano, carrossel… Mas fazia muito sucesso os brinquedos para os pequenos”, lembra Lurdinha.

… E o ocaso do histórico parque

No Parque Barigui, o Alvorada resistiu até o início dos anos 2000. As crises econõmicas que o Brasil enfrentou ao longo de décadas, contudo, prejudicou a saúde financeira do parque de diversões.

“Meu pai comprava os brinquedos todos do Playcenter, que sempre vendia os brinquedos menos novos quando compravam equipamentos novos. Era tudo supercaro, um investimento alto e que tinha de pagar em dólar. Com o tempo as coisas foram ficando mais velhas, veio a inflação e tudo foi ficando muito difícil, então ele não teve como ficar renovando os equipamentos, foi só conservando”, explica Lurdinha.

Além disso, o proprietário do parque, Milton França, não conseguiu achar um sucessor. Enquanto sua filha seguiu carreira em outra área, a da comunicação, o filho até chegou a participar da empresa por algum tempo, mas depois decidiu abrir o seu próprio negócio de eventos, que acabou não dando certo, e na sequência se mudou para os Estados Unidos.

Até que em 2005, quando Milton já estava com idade mais avançada e doente, acometido por um câncer, técnicos da Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi) foram fiscalizar o Parque Alvorada e apontaram problemas na manutenção dos brinquedos.

Por causa das falhas, o local foi interditado quatro vezes, até que em outubro de 2007 o Alvorada foi fechado por determinação da Justiça. Pouco tempo depois a Urbs revogou a permissão de ocupação e pediu a reintegração de posse do terreno no Parque Barigui.

“O parque estava realmente meio deteriorado, meu pai já não tinha condições de tocar pela idade, pela situação financeira. Mas nunca teve acidente grave lá, o que tinha de crianças se machucando eram situações corriqueiras, normais. Só que a forma como tudo aconteceu foi muito cruel, ainda mais porque meus pais sempre colaboraram com a cidade, fizeram parte da história de Curitiba, e o Poder Público foi com muita crueldade, muita agressividade para cima deles”, critica Lurdinha.

“Parece que passou um furacão que acabou com a família, acabou com tudo”

Para conseguir retirar os antigos brinquedos do Parque Barigui, a família proprietária do parque de diversões precisou até pedir ajuda ao município. “Para você ter ideia, quando a Urbs notificou para que retirássemos os brinquedos da área, a gente não teve condições de tirar o equipamento. Fui então pedir ajuda pra Prefeitura, porque a gente não tinha condições nem de pagar transporte, nem de desmontar [os equipamentos]”.

Depois, a família alugou um terreno em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), e colocou os equipamentos todos lá, desmontados. Como o terreno era descoberto, no entanto, pessoas foram entrando e levando parte dos brinquedos do antigo Alvorada, enquanto outra parte foi vendida ou penhorada pela Justiça.

“Foi um tsunami, sabe? Parece que passou um furacão que acabou com a família, acabou com tudo. Parece até que estou vivendo outra vida hoje”, desabafa Lurdinha, contando que pouco tempo depois do parque fechar as portas definitivamente os seus pais acabaram falecendo também.

“Depois do parque fechar, os dois foram piorando. O Alvorada era o ganha-pão deles. Dava pouco, mas ainda era o que sustentava a família. O meu pai já estava doente, teve câncer, e dois anos depois que fechou o parque ele faleceu, infelizmente. Minha mãe faleceu um pouco antes dele, uns dois meses. Foi um processo muito difícil… Meu pai e minha mãe morreram de desgosto”, afirma Lurdinha, que apesar das dificuldades que enfrentou, ainda lembra com carinho do Alvorada.

“A gente foi muito feliz e o parque também divertiu muita gente. Isso que eu acho bacana e isso que é o legado que meus pais deixaram para Curitiba”, comenta ela, fazendo ainda um pedido ao prefeito de Curitiba, Rafael Greca. “Eu pediria ao prefeito, que sempre deu muito valor à diversão, ao lúdico, às artes e tudo que envolve cultura e Curitiba, que pensasse com carinho em fazer uma homenagem pros meus pais, colocando uma placa ali onde esteve o Parque Alvorada por tantos anos, contribuindo com a diversão dos curitibinhas”.

Licitação: o novo parque de diversões do Parque Barigui

Na última semana, duas empresas apresentaram propostas para retomar a operação do parque de diversões no Parque Barigui. E depois da abertura dos envelopes, a empresa Parque da Cidade Diversões e Eventos Ltda. foi homologada vencedora da licitação, após oferecer um valor de outorga (parcela inicial) de R$ 194.640,00, parcelado em dez vezes. Com isso, 16 anos após a desativação do Alvorada, o Parque Barigui ganhará um novo parque de diversões em breve.

A nova atração terá uma área de 8 mil metros quadrados e ficará junto ao estacionamento do Parque Barigui. O espaço poderá contar com até 15 brinquedos que contemplem todas as idades, sendo obrigatória a instalação de carrossel de dinossauros, dois containers para venda de lanches, bebidas e guloseimas, uma barraca de tiro ao alvo, roda-gigante panorâmica com, no mínimo, 30 metros de altura, e carrossel veneziano.

O horário de funcionamento poderá ser de terça-feira a sexta feira das 17h às 21h, e sábados, domingos e feriados das 10h às 22h. A empresa que irá explorar o espaço poderá cobrar ingressos da população em geral, mas terá de reservar pelo menos 40 dias por ano (sempre de terça a quinta-feira, conforme disponibilidade) para que crianças das escolas municipais possam passear de graça nos brinquedos. A inauguração deve acontecer no próximo Dia das Crianças, em 12 de outubro, uma quinta-feira.