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Esqueleto da Casa Ipiranga, o chalé mais famoso da Serra do Mar: história abandonada (Foto: Rodolfo Luis Kowalski)

Com muitas áreas verdes – com direito a remanescentes da Mata Atlântica -, a Região Metropolitana de Curitiba e o Litoral do Paraná destacam-se por sua exuberância. Em meio às belezas naturais, no entanto, por vezes também acaba se impondo as ruínas de antigas construções e imóveis abandonados. Mas em meio a mitos e lendas, qual a história verdadeira desses “lugares fantasmas”? O que explica, também, o ocaso desses espaços?

Nossa viagem começa no Caminho do Itupava, mais antiga trilha do Paraná. Aberta no Século XVII, a partir de uma trilha indígena do período pré-colonial, foi calçada com pedras irregulares no século XIX. E até hoje liga os municípios de Quatro Barras (na RMC) e Morretes (no litoral), num trajeto com cerca de 20 quilômetros de extensão.

A trilha serpenteia a Serra do Mar e também expõe a exuberante paisagem da Floresta Atlântica paranaense. E quem se aventura pelo Caminho também acaba descobrindo o esqueleto de uma chamativa construção, que fica às margens da trilha do trem. É a Casa Ipiranga, um imóvel construído em 1889 e que já foi o chalé mais charmoso da Serra do Mar. E o primeiro lugar fantasma a ser desbravado.

Casa Ipiranga

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Fundos da Casa Ipiranga (Foto: Rodolfo Luis Kowalski)

A história da Casa do Ipiranga está entrelaçada com a construção da ferrovia Paranaguá-Curitiba. A obra iniciou-se em 1880 e na época foi um marco na engenharia nacional, percorrendo 110 quilômetros e chegando até a Capital da então Província do paraná cinco anos depois, em 1885

Nessa época, o Itupava era usado para levar comida e suprimentos aos operários que trabalhavam na construção da estrada. Não à toa, no primeiro ponto de intersecção entre a trilha e a ferrovia acabou sendo construída a Casa Ipiranga, próximo ao Rio Ipiranga, num espaço que servia como acampamento de operários.

A data exata da construção da Casa é desconhecida: uns citam o ano de 1889, outros falam que isso só teria ocorrido na década de 1930. Mas o fato é que o imóvel serviu de residência para o engenheiro Bruno Lange e sua família, responsável pela manutenção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, no trecho da Serra, nos seus primeiros anos de funcionamento. Convidado da família, o pintor Alfredo Andersen (que era norueguês, mas passou a maior parte de sua vida no Paraná) também morou por uns tempos ali.

Mais tarde, o histórico imóvel ainda serviu como posto de telégrafo e até clube de lazer para os engenheiros da rede ferroviária. Isso até 1996, quando a Rede Ferroviária Federal foi privatizada e a Casa, abandonada. Então teve início a depredação da construção, situação agravada ainda por um incêndio.

Hoje, o que restam são ruínas da casa e até da pequena usina hidrelétrica existente no local, construída justamente para fornecer eletricidade à Casa do Ipiranga. Um grupo chamado SOS Casa Ipiranga, no entanto, vem trabalhando para tentar resgatar a história e reconstruir esse importante imóvel paranaense.

O Casarão da Ilha

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Cassino abandonado? O Bem Paraná descobriu a verdadeira história do casarão (Foto: Franklin de Freitas)

Outro lugar fantasma que reserva uma história cheia de curiosidades é um casarão que fica numa ilha às margens do Rio Nhundiaquara, em Morretes, no litoral do Paraná.

Reza a lenda que o local, que virou um inusitado ponto turístico, teria funcionado por anos como um cassino clandestino. Outros afirmam que o lugar teria sido uma espécie de retiro religioso, que abrigou algum tipo de seita.

E, de fato, o lugar tem um ar religioso. Uma imagem de Nossa Senhora dos Navegantes se destaca logo na entrada da ilha. Há também imagens de Jesus e santos católicos esculpidas em madeiras espalhadas pelas varandas e interior do imóvel.

Mas a verdadeira história do suntuoso imóvel é outra.

A mansão (com três andares e um terraço, oito quartos e mais de dez banheiros) foi construída por um coronel do Exército, já falecido. Era um imóvel que o militar construiu para aproveitar o tempo livre com sua família e amigos, além de investir numa criação de búfalos.

Segundo familiares, o coronel até tinha a ideia de criar um cassino no lugar (isso quando e caso a jogatina fosse legalizada no país). Mas acabou ficando doente antes disso acontecer e a família, então, decidiu vender a mansão. Só que quem comprou o imóvel acabou não pagando o acordado e o que se seguiu foi uma longa briga judicial.

“No meio dessa briga, o imóvel ficou abandonado, foi se deteriorando e acabou virando um lugar até meio assustador”, relata Maria Alves Cordeiro, uma morretense que chegou a fazer alguns serviços de limpeza no casarão da ilha, quando o imóvel ainda estava ativo.

A Usina de Cotia

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Usina Hidrelétrica de Cotia: uma promessa que não se concretizou (Foto: Franklin de Freitas)

Ainda no litoral do Paraná, nossa última parada é em Antonina. E o lugar fantasma a ser visitado, agora, é uma usina hidrelétrica.

Trata-se da Usina de Cotia, localizada no Bairro Alto, lugar onde teve início a colonização japonesa no Paraná. A região é conhecida por suas inúmeras trilhas, entre elas a da Conceição, que outrora fazia a ligação entre o local e Apiaí (SP). Atualmente, seus trechos remanescentes permitem que se percorra o trajeto entre a represa do Capivari e o Bairro Alto.

A hidrelétrica era prometida desde meados dos anos 1940, sendo anunciada como a solução para os problemas na geração de eletricidade no litoral do Paraná. A ideia era aproveitar o potencial hidráulico da bacia hidrográfica do Rio Cachoeira e a construção da estrutura custou dezenas de milhões de cruzeiros (moeda da época).

Contudo, a obra acabou bem mais tempo que o esperado e, quando finalmente ficou pronta, a Usina acabou se mostrando inviável economicamente. Por isso, a hidrelétrica operou por apenas oito anos e foi desativada já na década de 1960, época em que se dava início à construção da Usina Hidrelétrica Governador Pedro Viriato Parigot de Souza.

Da Usina de Cotia, então, o que restam hoje são as imponentes ruínas. O local chegou a servir de base para praticantes de rafting há alguns anos, mas hoje está abandonado e fechado.

Ainda assim, vale a pena conhecer a região, que com seus rios, cachoeiras e densa vegetação é uma exuberante opção de lazer e caminhadas ecológicas.