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Sede da Sociedade 13 de Maio, em Curitiba (Foto: Franklin de Freitas)

A histórica sede da Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio, localizada no Centro de Curitiba (R. Des. Clotário Portugal, 274), pode acabar sendo vendida em breve. É que a Justiça, conforme decisão da 1ª Vara Cível de Curitiba, marcou para os próximos dias 27 (segunda-feira) e 28 (terça-feira) a realização de leilões para tentar vender o imóvel e, assim, quitar uma dívida que, em 2014, somava R$ 87 mil.

De acordo com o “Edital de Hasta Pública e Intimação” assinado pela juíza Lilian Resende Castanho Schelnauer, o primeiro leilão do imóvel acontecerá na segunda (27), às 10 horas, com o imóvel podendo ser arrematado por lances a partir do valor de avaliação do bem (R$ 1.055.783,32).

Não ocorrendo a venda em primeira praça, no dia seguinte, também às 10 horas, haverá um novo leilão, no qual poderão ser oferecidos lances com valor a partir de 50% do valor da avaliação do bem (a partir de R$ 527.891,66, portanto).

A venda em hasta pública é resultado de um processo que corre desde 2014 na Justiça paranaense e tem como origem um cheque devolvido, segundo noticiado pelo Diário de Curitiba.

Ao Bem Paraná, no entanto, representantes da Sociedade 13 de Maio garantiram que ainda lutam para tentar reverter a situação. “Estamos com advogados tentando retirar a casa do leilão e estmaos tentando organizar uma vaquinha para pagar a dívida. Estamos trabalhando para tentar reverter essa situação, não estamos de mãos atadas. É possível recorrer, estamos com advogados, já entramos com processo e creio que vai dar tudo certo”, disse um representante do clube.

Foi lançada, inclusive, uma vaquinha online para tentar levantar fundos e ajudar no pagamento da dívida, o que impediria a venda do imóvel. É possível fazer doações a partir de R$ 20 e a Sociedade alerta na publicação que a contribuição das pessoas é importante e urgente. “Temos até o dia 24 para reverter esse quadro”, diz o texto.

“Somos a segunda casa mais antiga do Brasil da resistência negra, aqui é um patrimônio histórico. Esse terreno não pode ser leiloado, esse terreno não pode ser vendido: é um patrimônio histórico”, defende ainda o porta-voz da Sociedade.

A história da Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio

Hoje conhecida como casa de festas, bailes e danças, a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio (ou ‘Clube 13’, como é carinhosamente conhecido na cidade) possui uma rica história, que contrasta com a atual memória hegemônica da identidade local, a qual tende a apagar a memória e a presença negras, como aponta os pesquisadores Thiago Hoshino e Pamela Fabris.

A Sociedade foi fundada em 6 de junho de 1888, recebendo o nome 13 de Maio e tendo como fundadores, principalmente, ex-escravizados que haviam conquistado a sua liberdade pouco antes da Lei Áurea. O nome, inclusive, foi escolhido em alusão ao dia 13 de maio de 1888, dia da assinatura da Lei Áurea.

Tratava-se de uma associação beneficente, cujos sócios recebiam ajuda financeira em caso de pobreza, moléstia e funeral, podendo pagar as mensalidades em dinheiro, joias ou prestação de serviço. Não à toa, o Presidente da “13”, Sr. Álvaro da Silva, comenta que a sociedade historicamente sempre foi um lugar de acolhimento. “Meu pai falava ‘cuide da 13, aqui é o espaço do negro’, porque era para cá onde o negro vinha quando precisa de assistência, estava doente, procurando emprego”, explica.

Além disso, a Sociedade também tinha um caráter político extremamente relevante, proporcionando um espaço e pertencimento e igualdade que um estado recém saído do período escravocrata e profundamente racista jamais poderia propiciar. No estatuto da agremiação, por exemplo, estavam previstas celebrações, abertas à comunidade, no dia 13 de maio (data da abolução da escravidão no Brasil) e 28 de setembro (promulgação da Lei do Ventre Livre, em 1871).

A sede própria, por sua vez, foi conquistada em 1896, através deuma doação da Prefeitura de Curitiba. A casa da Sociedade, no entanto, só foi ser efetivamente erigida em 1913 (até então, os associados se organizavam numa casa na atual Praça Generoso Marques ou na casa de um cidadão chamado João da Fausta, famoso por organizar eventos e comemorações pomposas na Curitiba de então.

Em 1950, com o crescimento da Sociedade, foi decidida ainda a demolição da sede e a construção deum novo prédio, que segue em pé até hoje e desde 2001 é Unidade de Interesse de Preservação de Curitiba.

Você pode conferir mais detalhes da rica história da Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio no site Turistória, cuja leitura sempre é altamente recomendada aos curiosos pela historia de Curitiba e do Paraná.