df8ba3a4aadddf6f1306b1a8e363a736
Wynitow Butenas/Hospital Pequeno Príncipe


Há duas semanas, chuvas intensas atingiram o Rio Grande do Sul, provocando inundações e destruição em mais de 400 municípios gaúchos. O estado de calamidade pública, que afetou mais de 2,1 milhões de pessoas, tomou conta de todos os veículos de imprensa e redes sociais. Diante disso, surge a preocupação: como falar sobre as enchentes com as crianças? Veja, a seguir, as orientações das psicólogas que atuam no Pequeno Príncipe, o maior hospital pediátrico do país.

Como falar sobre as enchentes com as crianças?


A melhor abordagem é iniciar a conversa a partir do interesse demonstrado pela criança sobre o assunto. “Ela pode verbalizar o desejo de saber e comunicar isso verbalmente. Ou demonstrar por meio de mudanças de comportamento e expressões faciais (choro, angústia, tensão, incômodo, emoção)”, explica a psicóloga e coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, Angelita Wisnieski da Silva.

Por isso, é fundamental que os adultos estejam presentes para oferecer suporte e criar um ambiente seguro para a criança expressar seus sentimentos e ter suas emoções validadas. “O diálogo precisa ser conduzido de forma gradual e com sensibilidade. E sempre respeitar os limites e direcionamento dados pelas próprias crianças”, completa a psicóloga Simone Passos Valesi.

Além disso, os pequenos podem manifestar medo, ansiedade e preocupação com o que estão presenciando nas notícias e ter receio de que aconteça o mesmo com eles. Nesses casos, os adultos devem estar atentos para oferecer conforto e explicar que eventos como esses são atípicos, ou seja, não são esperados que aconteçam. Ainda mais, reforçar a importância da solidariedade e que existem pessoas no Brasil inteiro trabalhando para ajudar as vítimas.

Como lidar com as crianças que vivem essa tragédia?


As crianças afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul perderam não apenas seus pertences materiais, mas também as referências que tinham em casa, na escola e na comunidade. O Hospital Pequeno Príncipe destaca a importância de criar um ambiente de segurança, proteção e afeto para esses pequenos, que enfrentam um trauma de proporções imensuráveis.

“Diante desse cenário de catástrofe, é fundamental que essas crianças tenham a família de referência por perto. Se elas estão em abrigos, que sejam perto da sua comunidade, com as pessoas que elas já conhecem. Com isso, a gente traz uma ideia que se estuda muito na psicologia de emergência e desastres, que é a de pertencimento”, diz Angelita.

Em situações assim, atípicas e traumáticas, estar perto de pessoas de referência é fundamental para a redução da angústia e ansiedade causadas pelas perdas. Por isso, compartilhar esse momento com as pessoas com quem a criança já convive, pode estimular o sentimento de comunidade, de cuidado com o outro e o engajamento na recuperação das áreas atingidas.

A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul recomenda a doação de brinquedos, materiais lúdicos e livros para colorir, proporcionando às crianças a oportunidade de preservar sua infância e expressar suas emoções por meio do brincar. Do mesmo modo, a psicóloga faz um alerta: quando a criança não consegue mais brincar e nem se expressar por meio das brincadeiras, quer dizer que precisa de atenção profissional especializada e muito acolhimento.

Orientações para proteção de meninos e meninas

  1. Quando conversar, procure manter a calma e respirar. As crianças sentirão o mesmo que veem em você.
  2. Em caso de evacuação do local onde moram, explique brevemente o que vai acontecer. Se as condições permitirem, deixe que fiquem com um objeto especial, como um brinquedo.
  3. Pergunte o que a criança sabe sobre a situação e ouça o que ela tem a dizer. É provável que ela repita muitas vezes o que pensa. Diga que as perguntas são importantes.
  4. Se a criança não quiser conversar, não a pressione. Se chorar, não peça para parar ou reprimir as emoções. O choro é uma forma saudável de descarga emocional.
  5. Se estiver em um abrigo, veja se é possível reservar um espaço para que as crianças brinquem em segurança.
  6. Lembre-se de que você também está sob estresse emocional. Cuide-se para poder dar apoio aos pequenos. Compartilhe o que sente com outras pessoas.
    Fonte: UNICEF

Livros lúdicos sobre as enchentes


Com o objetivo de explicar os últimos eventos de forma lúdica para as crianças, várias psicólogas criaram e disponibilizaram gratuitamente livros sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. O conteúdo fornece informações adequadas à idade sobre o que está acontecendo. Confira abaixo:
• “Vicente e a Enchente”, por Marina Fim de Campos
• “E a chuva…”, por Sabrina Führ
• “Céu, Sol, Sul”, por Cristina Saling Kruel
• “Um formigueiro de amparo”, por Vanina Cartaxo

Sobre o Pequeno Príncipe


Com sede em Curitiba (PR), o Pequeno Príncipe, maior e mais completo hospital exclusivamente pediátrico do país, é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que oferece assistência hospitalar há mais de 100 anos para crianças e adolescentes de todo o país. Disponibiliza consultas e é referência nacional em tratamentos de média e alta complexidade, como transplantes de rim, fígado, coração, ossos e medula óssea. Com 369 leitos, incluído 76 em UTIs (Geral, Cirúrgica, Neonatal e de Cardiologia), atende em 47 especialidades e áreas da pediatria que contemplam diagnóstico e tratamento, com equipes multiprofissionais. Promove 60% dos atendimentos via Sistema Único de Saúde (SUS) e, em 2023, realizou mais de 227 mil atendimentos ambulatoriais, 20 mil cirurgias e 307 transplantes. Também no ano passado, pela terceira vez consecutiva, a instituição figurou como o melhor hospital exclusivamente pediátrico da América Latina, em um ranking anual elaborado pela revista norte-americana Newsweek.