APedreira Paulo Leminski, em Curitiba (Foto: Franklin de Freitas)

Depois do Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG) do Abranches anunciar nesta segunda-feira (11 de setembro) a intenção de ingressar com uma demanda judicial contra a concessionária do Parque das Pedreiras e a Prefeitura de Curitiba por conta de transtornos causados a moradores por eventos no espaço cultural, nesta terça-feira (12/9) o Bem Paraná conversou com representantes da DC Set Eventos.

A concessionária, primeiramente, destacou que segue com uma agenda quinzenal com um grupo de trabalho que reúne o CONSEG Pilarzinho, a AMADA (Associação dos Moradores do Abranches), a Prefeitura de Curitiba (através do gestor do contrato) e o promotor de Justiça das Comunidades, para verificar as demandas e manter um diálogo com a comunidade; e também apontou a implementação de uma série de medidas para melhorar o funcionamento da Pedreira Paulo Leminski e da Ópera de Arame, minimizando os impactos causados pela operação no local,

Além disso, a concessionária também destacou que a capital paranaense se tornou nos últimos anos um dos principais destinos para grandes shows, nacionais e internacionais, ao mesmo tempo em que lamentou a possibilidade de que um embate direto contra os vizinhos possa prejudicar o protagonismo da cidade na “corrida” pelos grandes espetáculos.

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Como relatado pelo Bem Paraná em diversas reportagens publicadas ao longo dos últimos meses, as reclamações dos moradores do entorno do Parque das Pedreiras são diversas. Há quem reclame, por exemplo:

  • do trânsito na região (que fica congestionado quando há bloqueios em ruas como a João Gava), da limpeza pública (por causa do lixo gerado pelo movimento relacionado aos espetáculos, que fica acumulado em ruas no entorno do Parque das Pedreiras);
  • da perturbação do sossego (além de todo o barulho já provocado naturalmente pelos espetáculos, moradores relatam que antes e depois de shows há maquinário e pessoal trabalhando durante a madrugada com a montagem e desmontagem de estruturas e que eventos com som alto ocorrem durante a madrugada na Ópera de Arame, aos finais de semana);
  • e da atuação irregular (e por vezes intimidadora ou até mesmo ameaçadora, segundo moradores) de “flanelinhas” e ambulantes na região em dias de shows.

A DC Set Eventos, por sua vez, alega já ter tomado uma série de medidas ao longo dos últimos meses para tentar sanar ou pelo menos minimizar esses problemas. “Desde a primeira reunião [com o CONSEG do Abranches e do Pilarzinho, em junho) implantamos uma série de medidas”, afirma a porta-voz da concessionária. “Nós atendemos o TAC firmado anteriormente. Seguimos fielmente os termos do acordo e todas as frentes que ele propõe, e vamos além do que ele solicita, por conta exatamente da preocupação que temos com o entorno”, ressaltou ela.

Entre as medidas já adotadas elencadas pela concessionária estão:

  • Revisão dos bloqueios de ruas em dias de grandes eventos, transformando esses bloqueios num controle ou monitoramento do trânsito, para facilitar o ir e vir da população;
  • Fechamento do fluxo de veículos na Rua João Gava sendo realizado apenas quando o público dos shows já está em alta concentração no local;
  • Campanha para reduzir o número de pessoas se deslocando de veículos, com incentivo ao uso do transporte coletivo (com disponibilização de ônibus gratuito para levar as pessoas embora após os shows) e outros modais de transporte;
  • Atuação para reduzir o número de profissionais irregulares na região, como ambulantes e flanelinhas;
  • Reserva de vagas de estacionamento em todo o entorno do Parque das Pedreiras (na Rua Eugênio Flor, na Dona Branca, na Nilo Peçanha e na Roberto Gava), para impedir o estacionamento irregular, fomentar o uso de outros meios de transporte e inibir a atuação de flanelinhas;
  • Reforço no serviço de limpeza no entorno do Parque das Pedreiras após os eventos;
  • Melhoria do controle sonoro, com aprimoramento da aparelhagem coloca em eventos tanto na Pedreira Paulo Leminski como na Ópera de Arame.

“Temos buscado de todas as formas para que os eventos sejam cada vez menos impactantes. Sabemos que é impossível zerar [o impacto], mas trabalhamos para que sejam cada vez menos impactantes. São 11 anos de gestão e sempre buscamos cumprir o acordo, ouvir as reclamações dos moradores. Nós temos um carinho enorme pelos dois bairros que nos cercam [Abranches e Pilarzinho] e eu mesmo tenho uma história ligada com essas localidades, morei por muitos anos na região. Nosso objetivo é que a Pedreira e a Ópera se tornem uma oportunidade positiva para os dois bairros, para os moradores daquelas regiões. Queremos trazer benefícios positivos para a região”, afirma Hélio Pimentel, CEO da DC Set Eventos.

“A coexistência em um local aonde existem atividades culturais, turísticas e convivência familiar de pessoas que moram no entorno, ela tem que ser entendida de uma forma um pouco diferente de quem mora em algum local absolutamente fora desse contexto. Nós temos ali 18 eventos por ano [na Pedreira], com possibilidade de fazer até 24 – mas o máximo que conseguimos foi fazer 16, 18 eventos num ano. Temos eventos na Ópera também e estamos focando em entender como minimizar os impactos da operação para os moradores. Não imaginamos que possamos existir ali e fazer um trabalho gratificante para nós e para a comunidade sem estar atento ao entorno.”

Hélio Pimentel, CEO da DC Set Eventos

“O Parque das Pedreiras traz impactos positivos para Curitiba como um todo”

Pimentel também destaca o papel do Parque das Pedreiras de fomentar a economia criativa e a atividade cultural em Curitiba, afirmando que, por mês, o Vale da Música, na Ópera de Arame, ajuda cerca de 200 músicos a incrementar suas receitas. “O Parque das Pedreiras traz impactos positivos não só pro Abranches, pro Pilarzinho, mas pra Curitiba como um todo”, defende ele.

Ainda segundo o empresário e produtor cultural, se um show na Pedreira acontece na quinta-feira, por exemplo, nos dias seguintes os hotéis e restaurantes da cidade sabem que terão bom movimento por conta da movimentação turística que é reforçada. Além disso, ele também destaca os empregos gerados pela operação.

“Só de equipe de segurança, são 400 pessoas que trabalham num show e ainda tem equipe de som, de iluminação, de limpeza, carregadores, gente na montagem de estruturas… A quantidade de pessoas que se envolvem com alimentos e bebidas, segurança, estrutura, som, luz, é enorme. Isso é uma geração de emprego fantástica e algo que, além da questão do emprego em si, também afeta a economia, a cultura, o entretenimento, o lazer na nossa cidade”.

Curitiba de volta ao roteiro dos grandes espetáculos

Ao Bem Paraná, a DC Set Eventos também recordou que quando iniciaram a operação no Parque das Pedreiras, 11 anos atrás, Curitiba estava fora do roteiro dos grandes shows nacionais e internacionais. De acordo com Hélio Pimentel, foi o grupo quem iniciou uma mobilização para “reativar” a atividade cultural na cidade.

“Eu que fui e bati na porta de produtores no Brasil e no exterior, trouxe os agentes e falei ‘esse é o espaço, vamos fazer’. Isso é um esforço enorme e hoje Curitiba ultrapassou, de longe Porto Alegre [como opção de destino para grandes espetáculos], ultrapassou Florianópolis muito, Recife, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza… Curitiba hoje só está atrás de São Paulo, que é onde tudo acontece, uma grande metrópole mundial. E o Rio de Janeiro, educadamente eu digo que nós estamos recebendo mais eventos aqui. E isso não impacta só a Pedreira, impacta o Athletico, o Coritiba, a Live, um monte de outros lugares”, afirma.

Ainda segundo o empresário, um confronto direto é tudo o que a concessionária não quer, pois é algo que poderia atrapalhar a cidade na “corrida” por grandes eventos.

“Uma ação como essa, de confronto, é tudo que a gente não quer. Os agentes nacionais e internacionais falam assim ‘pô, nós não vamos mais pra Curitiba’. A cidade teve uma redução do ISS de cinco para dois porcento, foi algo que batalhamos para fazer virar lei e que incentiva muito os shows a virem para cá, por conta também da rede hoteleira e gastronômica da cidade. Mas temos concorrência. Fortaleza está oferecendo tudo: isenções, possibilidades, descontos em hotéis, em tudo. E nós não podemos criar um local, uma cidade moderna do futuro, uma cidade inteligente, que cria restrições enormes pra atividade cultural, que é desejada por todo mundo”, finaliza Pimentel.

Presidente do CONSEG Abranches destaca que comunidade não quer fechar o Parque das Pedreiras

Em entrevista concedida ontem ao Bem Paraná, o presidente do CONSEG Abranches, Volnei Lopes da Silva, ressaltou que a intenção dos moradores da região não é fechar o Parque das Pedreiras, como ocorreu em 2008, quando uma decisão judicial impediu a realização de eventos no local – o espaço só foi reaberto anos depois, quando um termo de ajustamento de conduta foi fechado e houve a concessão do espaço para a iniciativa privada, com a concessionária que assumiu a operação do local se comprometendo a fazer uma série de melhorias no espaço e a respeitar uma série de determinações acordadas com o Ministério Público do Paraná (MP-PR).

O CONSEG Abranches se afastou [do grupo de trabalho]. Havíamos montado um grupo que se reunia quinzenalmente na Pedreira, mas não vimos evolução. Como a coisa não avançou, os eventos continuaram sendo feitos da mesma forma e os problemas se repetiam, nos afastamos e procuramos o Dr. Cordoni [Sergio Luiz Cordoni, do MP-PR], fizemos uma reunião com ele e ele sugeriu que fizéssemos um abaixo-assinado com a população, um documento do CONSEG, para darmos entrada e judicializar o problema”, diz Volnei.

A intenção, explica o líder comunitário, é fechar um novo termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Parque das Pedreiras, com o auxílio da Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público.

Amanhã, inclusive, o CONSEG Abranches realiza uma reunião às 19h30, no Salão Paroquial da Igreja Sant’Ana de Abranches (Rua Vitório João Brunor, 688), para debater a questão, coletar assinaturas para um abaixo-assinado e iniciar uma mobilização para a comunidade entrar com uma demanda judicial.

Por orientação do Ministério Público, as assinaturas dos signatários do abaixo-assinado precisarão ir acompanhadas dos nomes completos, números de RG e CPF, endereços completos e número de um telefone para contato. Ou seja, será um documento transparente, que pode ser assinado por qualquer morador que se sinta prejudicado, pelos eventos no citado endereço.