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Ilha em Morretes onde fica o casarão abandonado: lendas dizem que o lugar teria sido um cassino ou uma espécie de retiro religioso. Mas qual a verdade? (Foto: Franklin de Freitas)

Município de Morretes, litoral do Paraná. A terra do barreado e de algumas das melhores cachaçarias brasileiras. Uma cidade envolta por belezas naturais… e um grande mistério.

Próximo do Iate Clube, numa ilha que fica às margens do histórico Rio Nhundiaquara (que teve papel fundamental no desenvolvimento de Morretes), fica um enorme casarão abandonado, um local que virou uma espécie de ponto turístico, atraindo diversos curiosos de diferentes lugares (principalmente Curitiba) que querem conhecer o inusitado casarão e saber mais sobre as lendas que o rodeiam.

No YouTube, por exemplo, há uma série de vídeos, publicados por diversos canais e alguns deles com centenas de milhares de visualizações, mostrando o casarão abandonado e disseminando as suas lendas, não raro afirmando que o lugar seria “assombrado”.

A história mais contada é que naquele imóvel teria funcionado um cassino clandestino que acabou sendo descoberto pela polícia e, depois disso, foi fechado e acabou sendo abandonado.

Há, também, quem diga que o lugar foi uma espécie de retiro religioso que abrigou alguma seita que fazia até sacrifícios de animais, mas que os moradores da região acabaram expulsando as pessoas dali e demolindo algumas coisas do casarão.

E de fato o lugar tem um ar religioso, com uma imagem de Nossa Senhora dos Navegantes se destacando logo na entrada da ilha e imagens de Jesus e santos católicos esculpidas em madeiras espalhadas pelas varandas e no interior do imóvel.

Mas afinal, qual a verdadeira história por trás do casarão da ilha? E o que aconteceu para um imóvel tão suntuoso acabar sendo abandonado?

A verdade sobre o “cassino assombrado”

Apesar das lendas sobre a ilha fazerem sucesso na internet, a realidade é que tanto a versão sobre o cassino abandonado como o relato sobre o casarão ter sido uma espécie de retiro religioso não passam de lendas, mitos, ficções.

Para descobrir a verdadeira história do lugar, o Bem Paraná conversou não só com moradores da região de Barreiros, em Morretes, mas também com familiares do proprietário original da ilha, um coronel do Exército já falecido.

O casarão (um imóvel com três andares e um terraço, oito quartos e mais de dez banheiros) foi construído décadas atrás e funcionou como uma fazenda de búfalo. Foi uma obra complicada, que levou anos para ficar pronta, uma vez que os materiais para a construção precisavam ser levados por embarcações até a ilha.

Todos os pés direitos da casa e as treliças, inclusive, foram entalhadas a mão por um artista local, que levou mais de dois anos para entalhar toda a estrutura da casa.

“Fui inúmeras vezes lá quando ainda estavam construindo a casa. Dizia o coronel: ‘estou fazendo esta casa para mim e meus amigos'”, relata Sandro Ramos, morador de Morretes.

“A família ficou muitos anos ali, conseguiram colocar até luz elétrica e telefone lá, tinha tudo. Era bem chique a fazenda, os móveis todos com madeira rústica, muito bonito”, conta ainda Maria Alves Cordeiro, uma morretense que chegou a fazer alguns serviços de limpeza no casarão da ilha, quando o imóvel ainda estava ativo.

O falecido coronel, inclusive, até tinha a ideia de criar um cassino no lugar (isso quando e caso a jogatina fosse legalizada no país) ou então construir uma série de bangalôs em volta do casarão central, transformando a ilha em algo como um resort.

“O coronel era quem vinha mais. Todo final de semana ele passava no casarão, as vezes ficava a semana toda lá… Mas depois que ele faleceu, e isso já faz uns 20 anos, a ilha acabou ficando abandonada e começou o declínio: o telhado começou a quebrar com o tempo, a água passou a entrar na casa e o povo também começou a invadir e levar tudo que tinha lá. Aí que surgiu essa lenda do ‘Cassino Abandonado'”, complementa ainda Maria.

Não é só o falecimento do coronel, contudo, que explica o ocaso do incrível casarão da ilha. É que antes de colocar todos os seus planos para o lugar em prática, o coronel adoeceu e acabou vendendo o imóvel. Só que o pessoal que comprou acabou não pagando e o que se seguiu foi uma briga judicial pela propriedade.

“Eles [família do coronel] chegaram a vender e depois pegaram de novo, porque quem comprou não pagou tudo que devia e aí eles entraram na Justiça e pegaram o imóvel de novo. Só que no meio dessa briga judicial o imóvel ficou abandonado, foi se deteriorando e acabou virando um lugar meio assustador. Eu já vi um boi descer daquela escada lá: estava subindo e dei de cara com ele, não sei como ele conseguiu subir lá em cima. Eu vim embora correndo pro barco depois disso. A turma também fala que já viu bastante coisa por lá, cobra… É um lugar assustador, eu não tenho a coragem de passar a noite lá. Acho que ninguém tem”, comenta ainda Maria.

As ruínas de uma usina em Antonina

Em Antonina, município vizinho de Morretes, fomos conhecer mais um local “fantasma” no litoral paranaense. Trata-se da Usina Hidrelétrica de Cotia, localizada no Bairro Alto, lugar onde teve início a colonização japonesa no Paraná e conhecido por suas inúmeras trilhas, como a da Conceição, que outrora fazia a ligação entre o local e Apiaí (SP) e cujos trechos remanescentes permitem que se percorra o trajeto entre a represa do Capivari e o Bairro Alto.

A usina, uma obra prometida desde meados dos anos 1940 e anunciada como a solução para os problemas na geração de eletricidade em municípios diversos do litoral do Paraná (entre eles Paranaguá, onde fica até hoje o principal porto paranaense), custou dezenas de milhões de cruzeiros (moeda da época) e levou muito mais tempo que o esperado para ficar pronta.

A ideia era que a usina aproveitasse o potencial hidráulico da bacia hidrográfica do Rio Cachoeira, mas no final das contas o projeto acabou mostrando não ser viável economicamente e a hidrelétrica lá instalada acabou operando por apenas oito anos, sendo desativada na década de 1960, na época em que se dava início a construção da atual Usina Hidrelétrica Governador Pedro Viriato Parigot de Souza.

Da Usina de Cotia, então, o que restam hoje são as imponentes ruínas: o local chegou a servir de base para praticantes de rafting, mas hoje está abandonado e fechado.

Ainda assim, vale a pena conhecer a região, que com seus rios, cachoeiras e densa vegetação vem se firmando como uma nova área de lazer e caminhadas ecológicas.

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Usina de Cotia, em Antonina (Foto: Franklin de Freitas)
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Usina de Cotia, em Antonina (Foto: Franklin de Freitas)