Imagem de protesto do Sindimoc realizado em março deste ano (Robson Mafra)

Moradores de Curitiba e do Paraná estão entre aqueles que mais morrem em acidentes de trânsito com ônibus. É o que revela um levantamento com base em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, cujos resultados apontam que os moradores da Capital foram os que mais faleceram nesse tipo de ocorrência em 2022.

O levantamento considera os óbitos por residência (“número de óbitos ocorridos, contados segundo o local de residência do falecido). Indica, portanto, o número de pessoas que moravam na cidade quando vieram a óbito, mas não necessariamente o número de pessoas que faleceram em acidentes no município, propriamente*.

No último ano com informações disponíveis (2022), os curitibanos aparecem na liderança do ranking de óbitos em ocorrências com ônibus entre os 5.570 municípios do país. Foram 42 óbitos no ano passado, o que coloca Curitiba à frente de Manaus (com 38 mortes), Campo Grande (também com 38), Brasília (com 37) e São Paulo (31). Os dados, no entanto, ainda são preliminares.

Nesta quarta-feira (18), o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região (Sindimoc) fez uma manifestação contra a utilização das canaletas de ônibus da Capital por bicicletas (que pegam a famosa “rabeira” nos busões) e veículos (que utilizam as canaletas como acesso normal), numa situação que muitas vezes acaba resultando em acidentes de trânsito. Durante o ato, a canaleta da Av. Sete de Setembro chegou a ser fechada pelos manifestantes por cerca de 45 minutos.

“Nos mobilizamos em virtude dos muitos acidentes no setor, prejudicando os trabalhadores no seu dia a dia. Não suportamos mais carregar nas nossas costas as mortes desses jovens”, disse o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, citando que os acidentes com ônibus na cidade – especialmente nas canaletas que deveriam ser exclusivas para o transporte coletivo – costumam envolver carrinheiros, skatistas, ciclistas e outros veículos que usam indevidamente a via.

“Os trabalhadores hoje vivem sob uma pressão tremenda pela falta de educação da população e pela dificuldade de transitar dentro da canaleta. Nossa sociedade vem morrendo dentro das canaletas e os motoristas só são ouvidos quando o ônibus está em cima de um jovem ou ele está embaixo do pneu”, reclama ainda Teixeira.

* Inicialmente, a reportagem informou que haviam sido registradas 42 mortes em Curitiba. O levantamento, no entanto, considera os óbitos por residência, como esclarecido no segundo parágrafo (a reportagem foi atualizada em 31/10, às 14h30). Um levantamento da área técnica do programa Vida no Trânsito, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), relata 16 mortes por acidentes em Curitiba. O título da matéria, então, foi também alterado: em vez de “Curitiba é campeã nacional de mortes em acidentes com ônibus”, mudou para “Curitibanos são os que mais morrem em acidentes com ônibus”

Paraná vê 5 mil mortes em acidentes com ônibus em 10 anos

O levantamento revela que nos últimos 10 anos, em todo o Brasil, 40.881 moradores do Paraná faleceram em acidentes envolvendo ônibus, entre ocupantes do próprio ônibus, pedestres, ciclistas, motociclistas, ocupantes de automóvel e outros. O Paraná, entre todas as unidades da federação, registrou o segundo maior número absoluto de mortes no período: 5.081, inferior apenas ao registrado em São Paulo (6.875).

Entre os municípios brasileiros, por sua vez, Curitiba foi, entre 2013 e 2022, a terceira cidade com mais mortes em acidentes com ônibus: 486 registros, menos apenas que em São Paulo (1.519) e Brasília (533).

Principais vítimas são ocupantes de automóvel, motociclistas e pedestres

As informações do Ministério da Saúde revelam, ainda, quem são as principais vítimas dos acidentes com ônibus. E tanto em Curitiba como no Paraná, os próprios ocupantes dos ônibus são uma parcela menos expressiva daqueles que faleceram nessas ocorrências nos últimos dez anos, respondendo por 4,1% (209 das 5.081) das mortes em acidentes com ônibus no estado e 3,9% (19 dos 486 óbitos) das ocorrências na Capital.

Curioso notar como no município a proporção de pedestres que falecem em acidentes com ônibus é maior do que no estado como um todo.

No Paraná, 41,7% das vítimas (2.118 mortes) nesses acidentes ocorridos entre 2013 e 2022 eram ocupantes de automóvel; 27,5% (1.395 óbitos) eram motociclistas; e 12,9% (655 registros) envolveram a morte de pedestres.

Já em Curitiba, os ocupantes de automóvel também aparecem como as principais vítimas de acidentes com ônibus, mas numa proporção bem menor: 31,7% (ou 154 mortes em 10 anos). Na sequência vêm os motociclistas (122 mortes, ou 25,1%) e os pedestres (24,1%, ou 117 mortes).