HORTA COMUNITARIA HORTA URBANA
Horta urbana no Tatuquara: programa se espalhou pela cidade (Franklin de Freitas)

Curitiba quer se tornar referência nacional em agricultura urbana, ampliando o programa que já existe há mais de 30 anos no município. Depois de inaugurar em 2020 a primeira Fazenda Urbana da cidade (localizada no bairro Cajuru e que é também a primeira em uma capital brasileira), o município se prepara para a inauguração da mais nova Fazenda Urbana, que ficará no bairro CIC, junto ao Parque dos Tropeiros. Além disso, há a intenção de se ampliar o número de hortas urbanas espalhadas pela cidade.

Atualmente, segundo informações da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), Curitiba conta com 146 hortas urbanas ativas, que ocupam uma área de 192.241 m². Com o envolvimento direto de 5.828 pessoas (e o indireto de outras 31.302), esses espaços possuem capacidade para produzir quase 1,6 milhão de quilos de alimento por ano. A variedade da produção, inclusive, é grande, com diversas hortaliças e PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) e até mesmo pomares para a produção de frutas.

A ideia, no entanto, é ampliar ainda mais a iniciativa. Na semana passada, por exemplo, foi apresentado o resultado preliminar de uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), a qual apontou que existem mais de 800 hectares com potencial para desenvolvimento de hortas urbanas, número maior do que toda a área mapeada com práticas de agricultura em Curitiba.

Em lotes privados vagos, foram identificados mais de 766 hectares. Também foram identificados 57 hectares em lotes públicos vagos e sem restrições como Áreas de Proteção Permanente (APP). Além disso, foi identificado também potencial para desenvolver a atividade agrícola em 77 hectares em faixa de domínio de linhões de energia da Copel e 19 hectares em faixas de domínio de ferrovias. E isso que não foram computados os lotes públicos que sediam escolas, parques e outros equipamentos, que possuem quantidades significativas de espaços com potencial, mas que demandam um tratamento diferenciado de políticas públicas para sua utilização.

“A gente entende que há um potencial muito grande de uso do solo, integrando a agricultura urbana dentro do planejamento urbano da cidade e tendo uma grande complementação ao nosso cinturão verde produtivo. Uma cidade realmente inteligente, que Curitiba é, precisa se manter atenta às tendências globais, então Curitiba precisa ter a sua resiliência alimentar”, aponta Felipe Thiago de Jesus, diretor de Estratégias de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de Curitiba, apontando ainda o possível impacto econômico que o projeto pode ter.

“A agricultura urbana entra como uma grande oportunidade de preencher e criar os empregos verdes, seja através da compostagem, através de pomares urbanos ou através das cozinhas solidárias, que têm uma relação do combate ao desperdício. Tudo isso faz parte de uma estratégia de conjunto que a gente chama de Sistemas Alimentares Sustentáveis. E Curitiba já tem sido protagonista nisso e a gente acredita que pode ser a principal referência no país em Sistema Alimentar Sustentável”, emenda ainda o diretor.

HORTA COMUNITARIA 
HORTA URBANA
(Franklin de Freitas)

Como implementar ou participar

O pedido de implantação de horta em Curitiba deve ser registrado via Central de Atendimento 156 (chat ou web) ou ligação para o número 156. Para que o pedido avance, contudo, é necessário atender alguns critérios, entre eles: reunir no mínimo 10 pessoas/famílias da comunidade interessadas em participar do cultivo e manutenção da horta e obter um termo de autorização de uso do terreno, caso a horta vá ficar em terreno particular. Se tais critérios forem atendidos, o gerente do Núcleo Regional da SMSAN vai fazer uma visita à área, para avaliação prévia. Caso a avaliação seja positiva, irá solicitar um ofício para a associação ou entidade social, em que pede inclusão no programa.

“Normalmente, essa solicitação é feita por uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, uma ONG, uma igreja ou uma associação de moradores. Tem que ter pelo menos 10 pessoas ou famílias cadastradas, interessadas, e que participem de todo o protocolo, os cursos [ofertados na Fazenda Urbana]. A partir disso, entra para uma lista de viabilidade do atendimento. Novas modalidades estão sendo estudadas para se pensar em como ampliar isso da melhor forma possível”, afirma o diretor de Estratégias de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de Curitiba.

Já no caso de hortas já instaladas, os interessados em ter um espaço para cultivar devem procurar o coordenador daquela horta, que é eleito pela própria comunidade. “Existem acordos de convivência junto aos demais hortelões e, quando esses acordos não são seguidos, essa pessoa perde a vez e as próximas na fila vão entrando. De qualquer forma, o principal caminho é a Fazenda Urbana, os cursos da Fazenda Urbana, com a questão de implantar isso nos seus quintais, nas suas casas, e aí ir entrando [no meio da agricultura urbana] e se organizando a nível comunitário, seja através de uma associação, uma igreja ou uma ONG, para estar pleiteando locais tecnicamente e legalmente viáveis. Mas nós fazemos todas as instruções e as orientações buscando a viabilidade de cada projeto”, complementa ainda Felipe.

Atividade é fundamental para lidar com mudanças climáticas

Hoje, explica ainda o diretor de Estratégias de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de Curitiba, a agricultura urbana já é uma das principais estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, especialmente quando se pensa em justiça social e na resiliência alimentar. Nesse sentido, então, a agricultura urbana já não é mais uma atividade apenas de bem-estar social, de saúde mental, envolvimento comunitário ou complemento de renda, mas sim uma necessidade em face da emergência climática.

“Hoje, a agricultura urbana já é vista nos principais órgãos que trabalham com mudanças climáticas, como o próprio C40, a Organização das Nações Unidas [ONU] e o Pacto de Milão, como uma das principais estratégias de combate à fome e de enfrentamento à emergência climática dentro das cidades”, aponta Felipe Thiago de Jesus.

Não à toa, uma das questões sobre as quais a SMSAN tem se debruçado nos últimos tempos é o solo curitibano. Ou melhor dizendo, como recuperar a fertilidade desse solo. “A gente precisa refletir que a comida do futuro passa pelo nosso resíduo orgânico. Hoje, um dos grandes complicadores e limitantes do desenvolvimento da agricultura sustentável é a questão de insumos biológicos. As cidades são os grandes produtores de resíduo orgânico, o chamado lixo orgânico. Esse lixo pode ser transformado em adubo, em composto de alta qualidade, que retorna em forma de alimento. O alimento cultivado é um grande sequestrador de carbono, então ajuda com a questão da mitigação, aumenta a permeabilidade do solo, produz frutos, atrai ave, fauna, atrai as abelhas, então cria todo um ecossistema sustentável dentro das cidades. É nessa perspectiva que nós estamos trabalhando pela cidade de Curitiba”, finaliza o especialista.

Em breve: Capital deve ganhar um novo modelo de horta

Hoje, as 146 hortas urbanas ativas espalhadas por Curitiba (às quais se somam ainda 24 hortas inativas, totalizando 170 hortas pela cidade) são distinguidas em três modalidades: as comunitárias (que envolvem o cultivo em vazios urbanos no município, realizado por cidadãos organizados por meio de Associação de Moradores ou Entidade Social), as institucionais (com o cultivo de hortas em equipamentos públicos ou em entidades privadas sem fins lucrativos) e as escolares (que ficam em escolas regulares, integrais, especiais ou Centros Municipais de Educação Infantil – CMEIs e unidades conveniadas com a Prefeitura de Curitiba). Entre as 146 hortas urbanas ativas na cidade, 47 (ou 32,2% do total) são comunitárias; 57 (ou 39%), escolares; e outras 42 (28,8%), institucionais. O município, no entanto, já estuda também implementar um modelo inovador, que é o de hortas empreendedoras, explica Felipe Thiago de Jesus. “Esse é o nosso próximo desafio, poder estar lançando isso [as hortas empreendedoras] para pensar realmente num processo específico de geração de renda junto à comunidade”, afirma ele.