OBRA CONSTRUÇAO
Obra de empreendimento em Curitiba: cidade está a “todo vapor” (Franklin de Freitas)

Quem anda mais atentamente por Curitiba deve ter percebido nos últimos tempos o grande número de obras espalhadas pela cidade. Difícil, inclusive, passar por algum lugar e não se deparar com alguma construção ou reforma em andamento. Uma situação, pode se argumentar, comum em ano eleitoral, quando os políticos precisam dar as caras e “mostrar trabalho” para a população.

Mas só esse fator político não explica o bom momento da construção civil na cidade. E a prova disso é que tanto a demanda quanto a oferta de imóveis na cidade está aquecida, mostram dados levantados pela Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR).

Com relação às obras públicas, dados do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) mostram que há pelo menos 114 iniciativas em andamento na Capital, número que inclui, também, a elaboração de projetos (de engenharia e arquitetura, por exemplo) para obras a serem implementadas na sequência. Essas obras (92) e projetos (22) contratados têm um custo estimado de R$ 1,08 bilhão, sendo os empreendimentos mais vultosos listados a execução de obras de infraestrutura e unidades habitacionais de interesse social no Bairro Novo do Caximba (R$ 163,8 milhões) e a execução de obras de infraestrutura viária e de arte especiais na Linha Verde com a Avenida Victor Ferreira do Amaral (R$ 92,4 milhões).

Fala-se em “pelo menos 114 iniciativas” porque as informações do TCE-PR consideram obras contratadas pelo município de Curitiba, pela Câmara Municipal de Curitiba (CMC), pelo Fundo Municipal de Saúde, pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e pelo Fundo Municipal de Habitação e Interesse Social. Mas não traz, por exemplo, o número de obras sendo tocadas pelo Governo do Estado ou pelo Governo Federal na cidade.

Ontem, inclusive, o secretário municipal de Planejamento, Finanças e Orçamento, Cristiano Hotz esteve na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), participando de audiência na Comissão de Economia, Finanças e Fiscalização. Na ocasião, ele citou que os investimentos da cidade em obras ganharam força desde o ano passado, com a execução das obras de grandes financiamentos, como do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), New Development Bank (NDB) e da Agência Francesa de Desenvolvimento. Entre os destaques na área de investimento estão as obras do Bairro Novo da Caximba, do Complexo Tarumã e do novo Inter 2 e o avanço da Linha Verde.

“O mercado está aquecido”

Além das obras públicas, no entanto, o setor privado da construção civil, principalmente, também celebra um bom começo de ano. Segundo João Guilherme Baglioli, diretor de expansão da Ademi-PR, o mercado está mais aquecido agora do que no mesmo período de 2020.

Quanto ao estoque de unidades primárias (ou seja, quando ainda não houve a primeira venda da unidade pela construtora ou incorporadora), em fevereiro de 2024 o segmento residencial vertical (prédio) estava com 9.350 unidades disponíveis, ante 11.020 unidades em fevereiro do ano passado. “Ou seja, uma diferença aí de quase duas mil unidades a menos este ano, o que é muito bom, significa que a demanda está superando a oferta”, explica Baglioli.

Já com relação aos alvarás de construção liberados para incorporadoras (número que indica o aquecimento do setor pelo lado da oferta), Curitiba soma aproximadamente 9 mil alvarás liberados no acumulado dos últimos 12 meses.

“É um patamar excelente. 9 mil [alvarás de construção liberados] é uma das maiores médias desde 2014, que foi quando o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, sofreu uma desaceleração”, comenta o diretor da Ademi-PR. “Então a gente está numa fase bem boa tanto em termos de lançamento, ou seja, de oferta, quanto em termos de compra, de demanda”, emenda ainda o especialista.

“Boom” do mercado — Ainda de acordo com Baglioli, ainda no início da pandemia de Covid-19, a partir de maio ou junho de 2020, o mercado imobiliário sofreu uma valorização enorme, algo com poucos precedentes ou até mesmo sem precedentes nas últimas décadas. “E a gente ficou até o início para a metade de 2022 vendendo muito, o mercado foi excepcional por quase dois anos”, disse.

“E após isso, ele sofreu uma lateralização seguida de queda, tanto em número de lançamentos como em número de unidades vendidas. Mas agora, a partir da metade do ano passado, ele voltou a ter um fortalecimento, a ter um crescimento”, aponta o especialista.

Essa retomada se deve a uma série de fatores, entre eles a retomada dos investimentos no programa ‘Minha Casa, Minha Vida’ e o bom momento vivenciado pelos imóveis de alto padrão. “Aqui no nosso entorno, principalmente em cidades da Região Metropolitana de Curitiba, temos boa expressividade desse segmento [Minha Casa, Minha Vida], que vem passando por uma boa fase a nível Paraná e Brasil. Alto padrão também é um nicho que está vendendo super bem”, celebra Baglioli, comentando também que o segmento comercial (escritórios) teve um crescimento moderado no ano passado e agora até houve uma certa retomada em relação a anos anteriores. “Mas para este ano estamos com um crescimento de PIB mais modesto, então é possível que o segmento de escritórios acompanhe, de certa forma, isso”, complementa o diretor da Ademi-PR.