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Júri dá a sentença do Caso Maritza para Erik Busetti (de azul) (Foto: Franklin de Freitas)

O delegado Erik Busetti, acusado de matar a mulher e a enteada em março de 2020, foi condenado a 38 anos, 10 meses e 18 dias de prisão, na soma das penas. O julgamento do caso no Júri Popular de Curitiba começou na segunda-feira (1). A sentença foi lida na madrugada desta sexta-feira (5), às 0h35, após um dia inteiro de sessão no Júri nesta quinta-feira (4). Foram 19 anos e cinco meses pela morte de Maritza Guimarães de Souza, a mulher dele, e 19 anos e cinco meses pena pela morte de Ana Carolina, filha de Maritza e enteada do delegado. Além disso, ele perdeu o cargo de delegado de Polícia.

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Júri dá a sentença do Caso Maritza para Erik Busetti (de azul) (Foto: Franklin de Freitas)

Nesta quinta de manhã, Busetti foi ouvido no julgamento. O interrogatório era bastante aguardado, uma vez que seria a primeira vez que ele se pronunciaria em público sobre o crime. Durante o seu depoimento, ele disse que a morte das duas mulheres foi um ato de legítima defesa. Na tarde e na noite desta quinta, ocorreram os debates da acusação e da defesa. Primeiro falam os procuradores do Ministério Público, com a assistente de acusação, e depois com a defesa.

Para os advogados de Maritiza e Ana Carolina, o crime foi um duplo feminicídio. Todo o trabalho da acusação foi construído no sentido de mostrar para os jurados que Busetti cometeu um crime bárbaro contra duas mulheres. A advogada Louise Mattar Assad cita o depoimento de Busetti que disse que os dois dominavam as artes marciais, no entanto, apenas ele estava armado no momento do crime.

“Com certeza era o que esperávamos. Foram quatro anos e quatro meses para um julgamento de quatro dias, desgastante, demasiadamente alongado, complicado, mas graças a Deus o corpo de sentença do Tribunal do Júri decidiu muito bem”, disse Samuel Rangel, advogado de defesa de Ana Carolina. “Após 4 anos de muita tristeza, falamos um rotundo não para a covardia, um rotundo não para os mais métodos, um rotundo não para o machismo. Às vezes o mal exerce cargos, é necessário que a sociedade se organize e julgue com profundo rigor. O Ministério Público está de parabéns, foi uma atuação perfeita, estamos muito felizes por isso”.

O pai de Ana Carolina, Luís Volpes, esteve na sessão. “A gente veio do Rio Grande do Sul, viajamos 14 horas para assistir a esse Júri, mas valeu a pena. Não traz minha filha de volta, mas traz paz de espírito, de que justiça foi feita. O mal não se sobrepõe ao bem”, afirmou. “É um filme que passa. Coisas que não sabia ainda eu acabei vendo aqui. Vão descobrindo feridas e mais feridas, que vão se abrindo. Bem dolorido. Qie ela esteja em paz no céu”.

A defesa de Maritza também se manifestou. “Saímos com sentimento de justiça. Enaltecendo aqui o trabalho da doutora Ticiane e a doutora Roberta. É a melhor dupla para julgamento de crimes de violência doméstica e contra as mulheres. Foi o encerramento de um ciclo”, disse a advogada Louise Mattar Assad, de Maritza. “O sentimento de toda a família é que a justiça foi feita. Ele vai pagar por toda a dor que nos fez passar. Ponto final nessa história”, afirmou Caroline Machado, irmã da Maritza.

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Erick Busetti, Maritza Guimarães de Souza e Ana Carolina: crime ocorreu em março de 2020 (Foto: Reprodução)

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Em entrevista ao Bem Paraná, o advogado Adriano Bretas comentou que o psiquiatra traçou o perfil psicológico do réu. Segundo Bretas, o perfil psicológico de Erik foi definido como “uma pessoa de boa índole, pacata, que não tinha rompantes de agressividade, que não era uma pessoa dada à violência”. O advogado também pontuou que os vizinhos afirmaram que não havia um contexto de violência doméstica.

Ainda nesta sexta, na saída do Tribunal, o advogado Claudio Dalledone, que defendeu o delegado, afirmou que vai recorrer da sentença. “Com toda certeza haverá recurso. Mas o ponto que ficou para quem assistiu ao julgamento: 4 votos 3, um apenas pelo feminicídio. A questão do feminicídio está vulgarizada. Tudo se transforma em feminicídio”, afirmou ele, na saída do Tribunal. “Lutamos aqui por uma adequação jurídica perfeita, desse movimento que protege a mulher e é mais do que necessário. Ficou mais caracterizado (no caso Maritza) que não foi feminicídio. Conseguimos afastar a causa especial de aumento de pena”.

O advogado ainda falou como Erik Busetti se sentiu ao ouvir a sentença com duas penas de 19 anos de prisão. “Ele recebe com tristeza. Nunca foi alguém que agiria daquela maneira que caricaturizaram”, disse Dalledone. “Era um marido amoroso, pai zeloso. Aquela noite foi armadilhada de todas as maneiras”, afirmou. “Não acabou, só começou”.

O crime que foi a julgamento

O crime que foi a julgamento agora 2024 ocorreu em março de 2020. Maritza tinha 41 anos e era escrivã da Polícia Civil, a filha dela tinha 16 e era estudante. Elas foram mortas dentro da própria casa. Erik Bussetti está preso no Complexo Médico-Penal em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Ele foi preso em flagrante e chegou a admitir o crime no momento da prisão, mas ficou em silêncio no interrogatório.

Segundo a polícia, uma filha de 9 anos do casal estava dormindo no quarto no momento do crime e ouviu os disparos. As investigações apontaram que o delegado disparou pelo menos sete vezes contra a esposa e seis contra a enteada.