OSTERIA DA CASA
Marcelo Lemos e Antônio Smolarek Neto: reinvenção com a pandemia (Franklin de Freitas)

“Reinvertar” (especialmente na forma “reinventar-se”) foi não só a palavra da moda, mas também uma palavra de ordem para muita gente durante a pandemia de Covid-19. E em alguns casos, as transformações e adaptações que surgiram a partir da necessidade acabaram se tornando perenes. Foi isso o que aconteceu, por exemplo, com Marcelo Lemos e Antônio Smolarek Neto (o Toninho), que há três anos comandam no bairro Hugo Lange, em Curitiba, a Osteria da Casa: uma loja que fica num belo jardim ao lado da arborizada ciclovia (na Rua Flávio Dallegrave, 2509) e que oferece as maiores delícias da culinária italiana que se pode encontrar na Capital, tudo produzido artesanalmente.

Antes da crise sanitária, Lemos e Toninho tinham a gastronomia como uma atividade complementar. O trabalho principal, contam, era de representante comercial de uma marca de roupas oriunda de Santa Catarina. “Atendíamos muitas lojas de roupa aqui em Curitiba, conhecíamos muita gente, era a nossa profissão primária. E a gastronomia ficava em segundo plano. Só que na pandemia a empresa em que a gente trabalhava parou temporariamente e aí resolvemos começar a colocar o plano secundário como principal”, conta o chef Lemos.

Na época, ele já trabalhava com um italiano chamado Giorgio no mesmo espaço onde hoje fica a Osteria da Casa, só que a empresa tinha uma atuação mais voltada para o mercado de eventos (embora já oferecesse comida artesanal aos que contratavam o espaço). Isso até que Giorgio resolveu deixar o país em meio à pandemia e entregar seus sonhos aos cuidados do chef.

“Durante a pandemia, não tinha mais como fazer eventos e o Giorgio falou que iria embora do Brasil, mas que deixaria tudo aqui para que eu continuasse o trabalho dele. Eu ainda falei ‘Giorgio, mas eu não tenho como continuar porque a gente está em pandemia’. Mas daí ele disse que iria conseguir um cliente que precisava de dois produtos, a focaccia e o pesto, e que com esses dois produtos eu já conseguiria pagar o aluguel aqui e começar o trabalho. E aí iniciei o negócio”, recorda Lemos.

O segundo passo, então, foi chamar para ajudar na empreitada Toninho, a quem já conhecia dos tempos como representante comercial (os dois trabalharam, por 10 e 25 anos, para a mesma marca de roupas). No começo, porém, sequer havia dinheiro para investir e a empresa precisava comprar maquinários, insumos e tudo o mais. Literalmente, era preciso ‘vender o almoço para pagar a janta’, como diz o ditado, e os dois tiveram (também literalmente) de colocar a mão na massa. Só que o negócio acabou dando tão certo e crescendo tanto e tão rapidamente que os dois acabaram até pedindo demissão do emprego que tinham para viver da gastronomia.

OSTERIA DA CASA
Osteria da Casa (Franklin de Freitas)

Demanda surpreendeu e obrigou o aumento da produção e do portfolio

Antes da Osteria da Casa (e da Artigiani Della Cucina, nome da marca que leva os produtos da Osteria a outros estabelecimentos) se tornarem um sucesso, Toninho admite que a ideia dele e de seu sócio era vender produtos como pães, massas e molhos como uma espécie de subsídio para pagar o aluguel e manter o negócio enquanto o mercado de eventos não tinha uma retomada. Só que a demanda não demorou para começar a crescer. E começar a crescer muito.

“A gente começou com dois produtos e as coisas foram escalonando numa proporção até assustadora. O Tony ia comprar uma quantidade de vidro numa semana e na outra já tinha que dobrar”, recorda Lemos, comentando que muitos produtos que hoje são ofertados ao público acabaram sendo incorporados ao portfolio da marca por sugestão dos produtos clientes.

“E aí o negócio foi crescendo tanto, tomando corpo, que tive de contratar funcionários e pôr uma loja no jardim só para os nossos produtos”, complementa Lemos.

Hoje a empresa, que começou só com os dois sócios trabalhando, emprega outras seis pessoas, todas com formação na área de gastronomia. O portfolio de produtos da Osteria da Casa (com a marca Artigiani Della Cucina), por sua vez, já traz cerca de 70 itens, sempre com novidades seguindo a sazonalidade da oferta de insumos.

Apesar do nome do estabelecimento (“osteria” significa algo como pequeno restaurante, sendo o equivalente no italiano ao bistrô francês), o foco não é em funcionar como um restaurante, e sim em produzir, funcionando quase que como uma indústria. Só que uma indústria artesanal, atendendo bares, restaurantes, hotéis, motéis, empórios e até outras pizzarias, além do próprio consumidor final. E também já há conversas para oferecer os produtos da marca em mercados (para isso, inclusive, planeja-se ampliar a produção em breve).

“A ideia é ter uma linha de produto artesanal, mas com preço acessível para as pessoas e que também traga a conotação da regionalidade, tanto que boa parte dos insumos são comprados aqui, da nossa região, embora também tenhamos produtos só com insumos da Itália. É uma coisa que vai na contramão do mercado: fazer coisa boa pra você comer todo dia, não só em dia especial. Temos produtos aí bem bacanas”, afirma Toninho, convidando o leitor a conhecer o recanto onde fica a Osteria da Casa. A loja funciona de segunda a sábado, das sete da manhã às dez da noite (22 horas) – no sábado, porém, a loja fecha às 16 horas e reabre às 18h, para limpeza da cozinha.

Pizza para fazer em casa por R$ 13,90 e outras delícias

Os carros-chefe da Osteria da Casa são a focaccia (um pão italiano); os molhos pesto e pomodoro; os antepastos caponata e melanzane, que são os antepastos típicos italianos, além dos de abobrinha assada e tomate cereja; e as pimentas fermentadas, uma novidade no portfolio. A empresa, porém, também produz ketchup, mostarda, geleias e alguns doces. E embora a cozinha esteja ancorada na temática italiana, produtos de outras origens (libanesa e alemã, por exemplo) também são ofertados.

Outro destaque são os pratos congelados, como lasanhas, massas recheadas, empadões e pizzas, pratos que foram colocados no “cardápio” da casa a pedido dos próprios clientes. “No início da semana sempre enchemos o freezer e no final da semana não tem mais nada, graças a Deus está indo super bem. E temos também as pizzas, fazemos massas típicas italianas, napolitanas, que são massas de fermentação longa”, ressalta Lemos.

As pizzas são feitas em seis sabores diferentes, basicamente, embora uma vez por semana seja trocado um sabor para sempre se dar uma variada nas opções. Uma boa pedida, por exemplo, é a pizza de tomate cereja e molho pesto. Também há uma pizza de friarelli (um brocólis que vem de Nápoles) com linguiça caipira e até pizza com creme de zucca, que é uma pizza que, em vez do molho de tomate, traz um creme de abóbora assado.

Mais do que as pizzas prontas, porém, um grande sucesso tem sido a pizza pré-assada. Trata-se de uma pizza napolitana vendida já preparada com molho de tomate, que o cliente leva para casa, recheia da forma que quiser e daí só coloca mais um tempo no forno antes de servir. “O grande negócio da nossa massa é que ela, além de ser um produto excelente, traz entretenimento pra família, porque a criança monta, os amigos montam, cada um faz do seu jeito. Então é uma coisa diferente e que não custa caro: vendemos por R$ 13,90”, sugere Lemos.