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Registros seguem em alta no Estado: campanhas incentivam denúncias (Divulgação)

A cada dois minutos e meio, um caso de violência contra a mulher é registrado no Paraná. Assim foi entre janeiro de 2020 e junho de 2024, período no qual mais de 940 mil boletins de ocorrência dando conta desse tipo de situação foram registrados. Curitiba, por sua vez, concentra 16,4% do total de registros, com mais de 155 mil casos no período analisado. É a localidade com mais ocorrências em número absoluto, mas está longe de ser a cidade paranaense com a maior taxa de casos de violência contra a mulher, revela um levantamento exclusivo feito pelo Bem Paraná.
Segundo dados do Centro de Análise, Planejamento e Estatística (Cape) da Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR), desde 2020 até o final do primeiro semestre deste ano foram registrados em todo o Paraná 946.139 casos de violência contra a mulher. Esses registros consideram todas as situações em que a mulher com idade maior ou igual a 18 anos é vítima de crime. Somente na Capital, foram 155.123 registros no período – o equivalente a 16,4% do total de casos no estado.
Em número absoluto, as outras cidades com mais ocorrências no Paraná são as seguintes: Londrina (no norte do estado), com 48.678 registros; Ponta Grossa (na região dos Campos Gerais), com 34.429; Maringá (no norte), com 31.600; Cascavel (no oeste), com 31.574; e Foz do Iguaçu (também no oeste), com 29.493.
Quando se analisa a taxa de ocorrências por mil mulheres, no entanto, o cenário muda. No Paraná, por exemplo, foram registrados 161,3 casos de violência para cada 1 mil mulheres nos últimos quatro anos e meio. Curitiba, por sua vez, ficou um pouco acima da média estadual, com 165,6.
Os três municípios com maiores taxas, entretanto, estão todos no litoral do Paraná, coincidentemente. São eles: Pontal do Paraná (com um total de 5.449 casos e uma taxa de 353,4 ocorrências para cada mil mulheres); Matinhos (7.018 casos e taxa de 348,1); e Guaratuba (com 6.415 registros e 300,9 registros para cada 1 mil mulheres). Na sequência aparecem ainda as cidades de Conselheiro Mairinck (no norte pioneiro, com 500 casos e taxa de 287,7) e de Clevelândia (no sudoeste, com 2.205 casos e taxa de 284,8).

Litoral do Paraná apresenta a maior taxa de violência contra a mulher
Além de analisar as ocorrências por município (segundo o número de registros e a população feminina de cada localidade), o Bem Paraná também levantou o número de BOs e a taxa de casos (por mil mulheres) de violência contra a mulher em cada regional do Paraná. E o resultado revela que a regional de Paranaguá, no litoral paranaense, é a que mais registra casos desse tipo em todo o estado.
Na regional (que engloba os municípios de Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e Pontal do Paraná), um total de 37.922 casos de violência contra a mulher foram registrados. Considerando que a população feminina dessas cidades soma 152.821 pessoas, temos uma taxa de 248,2 ocorrência para cada 1 mil mulheres.
Na segunda e terceira posição já estão as regionais de Paranavaí e Pato Branco, respectivamente, uma bem próxima da outra. Na primeira regional, houve 27.758 casos de violência contra a mulher desde 2020, o que leva a uma taxa de 194,2 ocorrência por mil mulheres. Na segunda, foram 27.071 casos, com taxa de 194. Na sequência aparecem ainda as regionais de Foz do Iguaçu (com 42.499 casos e taxa de 187,1) e de União da Vitória (com 14.926 ocorrências e taxa de 184,1).

Dezoito anos da Lei Maria da Penha
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340 de 2006) completou na última quarta-feira (7 de agosto) 18 anos desde sua promulgação. A legislação foi criada com o intuito de implementar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, alterando o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal.
O nome da lei homenageia a biofarmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, que sofreu duas tentativas de homicídio pelo marido, em 1983, e se tornou ativista da causa do combate à violência contra as mulheres. Antes da legislação, comenta a diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, esse tipo de violência era tratado como crime de menor potencial ofensivo. Muitas mulheres, inclusive, foram agredidas e assassinadas em razão da leniência contra esses crimes, que ficavam impunes ou sujeitos a penas leves, chamadas de pecuniárias, como o pagamento de multas e de cestas básicas, suavizadas por argumentos como o da legítima defesa da honra de homens.

Casos de violência contra a mulher, ano a ano
Paraná

2024* 120.476
2023 233.099
2022 208.028
2021 193.011
2020 191.525
TOTAL 946.139
Curitiba
2024* 18.909
2023 37.692
2022 34.061
2021 31.178
2020 33.283
TOTAL 155.123

  • Dados até junho de 2024
    Fonte: Centro de Análise, Planejamento e Estatística (Cape) da Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR)