ESCOLA VIVIAN MARÇAL
Escola Vivian Marçal (Foto: Franklin de Freitas)

Na mesma semana que completou 47 anos de existência, a Escola Especial Vivian Marçal, em Curitiba, anunciou que as duas unidades podem fechar as portas. A escolas, mantidas pela Associação do Deficiente Moto, atendem 239 alunos especiais da capital paranaense, Almirante Tamandaré, Colombo e Campo Magro. Quatro dívidas trabalhistas, que somam R$ 878 mil, geraram o bloqueio judicial das contas da entidade e por consequência os repasses de verbas da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR), foram cessados. Agora, a entidade corre contra o tempo para arrecadar recursos para pagar as dívidas e manter as duas escolas em funcionamento. O prazo para pagamento é 5 de julho.

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O dinheiro do convênio com a secretaria garante o salário de parte dos 85 funcionários das escolas, como administrativo e professores. Segundo Rafael Valadares, professor e ex-diretor da entidade, só não estão incluídas neste pagamento as terapias, ou seja, os salários dos profissionais de atendimentos clínicos, como fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. “Cerca 95% dos alunos são cadeirantes, muitos com paralisia cerebral. Para estudar na Vivian Marçal, o aluno precisa ter deficiência motora e encontram aqui o tratamento completo, com terapias inclusas. São alunos muito pobres que não têm acesso”, explica ele.

Crise da escola especial de Curitiba foi anunciada em sessão na Câmara

A revelação do risco de fechamento iminente da Escola Vivian Marçal foi feita por Ivonete Wandembruck, presidente da Associação do Deficiente Motor, mantenedora das duas escolas, durante sessão solene na Câmara de Curitiba na última terça (25) “Estivemos na Secretaria de Educação Temos processos trabalhistas que herdamos, além de muitas dívidas da administração anterior ,que fomos pagando, negociando, mas os juízes das varas da Justiça do Trabalho bloquearam valores das nossas contas bancárias com a Seed, que não pode continuar com os convênios nesta situação. Deram até o dia 5 de julho para a gente levar uma solução”, disse a presidente da associação.

A entidade tem também convênio com a Prefeitura de Curitiba, que fornece transporte para os alunos e alimentação. A sede que fica na Rua Barão de Antonina, no Centro, é própria, mas a sede da Rua Mamoré, nas Mercês, é fruto de convênio com o governo do Estado. A entidade também recebeu R$ 220 mil neste ano resultado de emendas aprovadas na Câmara Municipal de Curitiba, e de R$ 240 mil em 2023, além dos repasses do Governo Federal via Fundeb. Mas  recursos desta natureza não podem ser usados para quitar o tipo de dívida que a associação possui.

SEED aponta má gestão da associação que mantém a escola especial

A Secretaria de Educação confirmou que possui dois termos de colaboração com a Associação do Deficiente Motor, mantenedora das duas unidades das escolas de Educação Especial Vivian Marçal, nos quais repassa recursos para o atendimento educacional nas instituições. No entanto, apontou inconsistências na execução do plano de trabalho, com utilização dos recursos para finalidades adversas ao objeto do contrato.  “Tal situação vem ocorrendo há alguns anos, tendo sido a mantenedora notificada reiteradas vezes.  Destaca-se que os recursos atuais repassados por esta Secretaria estão sob bloqueio judicial em detrimento de ações trabalhistas movidas contra a mantenedora, que se encontram em fase de execução”, informou a SEED, em nota encaminhada à redação do Bem Paraná.  

Além das quatro dívidas executados, há outras três dívidas trabalhistas na Justiça, que juntas somam R$ 244 mil.

Vaquinha e apoio dos vereadores para quitar a dívida

A Associação do Deficiente Motor, mantenedora das duas unidades das escolas de Educação Especial Vivian iniciou uma campanha às pressas para levantar recursos. Em uma das frentes apelou para ajuda dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba. Em outro, pede ajuda da população e empresários em uma vaquinha online.

Para evitar o fechamento da Escola Especial Vivian Marçal, os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) começaram, nesta quarta (26) uma mobilização para ajudar a instituição na arrecadação dos recursos de que ela precisa para quitar as dívidas que ameaçam as suas atividades. “A população de Curitiba não vai deixar a Escola Vivian Marçal fechar”, disse Mauro Ignácio (PSD).

A moção de apoio à mantenedora da Escola Vivian Marçal, foi aprovada por unanimidade, em votação simbólica, pela Câmara de Curitiba. Protocolada por Mauro Ignácio, a proposição recebeu o apoio de 22 dos 38 vereadores da capital. A moção é resultado do depoimento de Ivonete Wandembruck, presidente da ADM, em sessão solene realizada na terça na Câmara. Ignácio homenageava César Marçal, um dos fundadores da escola especial.

Além de Ignácio, assinaram a moção os vereadores Alexandre Leprevost (União), Amália Tortato (Novo), Eder Borges (PL), Ezequias Barros (PRD), Herivelto Oliveira (Cidadania), Hernani (Republicanos), Jornalista Márcio Barros (PSD), Marcelo Fachinello (Pode), Mauro Bobato (PP), Noemia Rocha (MDB), Nori Seto (PP), Oscalino do Povo (PP), Osias Moraes (PRTB), Pier Petruzziello (PP), Professora Josete (PT), Professor Euler (MDB), Salles do Fazendinha (Rede), Serginho do Posto (PSD), Sidnei Toaldo (PRD), Tito Zeglin (MDB) e Giorgia Prates – Mandata Preta (PT).

Homenagem ao fundador e história da escola especial

O fundador da Escola Vivian Marçal, 85 anos, recebeu na terça o Título de Cidadania Honorária de Curitiba na Câmara Municipal de Curitiba. A escola surgiu porque sua filha Luciane Marçal, que nasceu em 1972, tinha deficiência motora e dificuldade de fala, Ele a mulher começaram a frequentar clínicas médicas, buscando tratamento, quando o casal, e outros pais, resolveram fundar a Associação do Deficiente Motor. A primeira sede, em 1974, começou em uma garagem, emprestada por uma fisioterapeuta que atendia os filhos dessas famílias, chamada Ieda Castilho, que participou da cerimônia e recebeu o agradecimento do homenageado.

César Marçal contou que sua esposa Vivian faleceu quando Luciane tinha 9 anos de idade, fazendo dele um “pai sozinho”. Natural de Itajaí (SC), César Marçal foi membro da diretoria do Conselho Regional dos Representantes Comerciais do Estado do Paraná (CORE-PR) por 40 anos.