O bambu tem multi aplicabilidade, é sustentável e durável (Franklin de Freitas)

Curitiba é uma metrópole que irradia urbanização. Não à toa, nos últimos anos a concentração urbana em torno da capital paranaense foi a que mais cresceu em todo o país nos últimos anos, conforme um estudo do IBGE. Mas mesmo no meio da crescente selva de pedra o verde da natureza resiste e um exemplo dessa resistência está no bairro Campo Comprido. Ali, na pacata Rua Soldado Giovani Dal Negro, fica a Zé do Bambu Artesanatos, um espaço que não só preserva , mas também divulga o mundo feito de possibilidades relacionados ao bambu.

Atualmente, quem toca o negócio é Izak Ribeiro da Silva, de 36 anos. Segundo ele, o terreno onde ficam os bambuzais já está há quatro gerações em sua família, mas foi o seu pai, José Ribeiro da Silva, quem resolveu começar a utilizar os bambus, nativos daquela região, para criar o seu próprio negócio.

“Meu pai trabalhou numa loja de móveis e lá trabalhou com bambu. Aprendeu sobre amarração de bambu, como lidar com o bambu, e num determinado momento, como ele tinha a matéria -prima à disposição, tinha o know-how, resolveu começar a fazer por conta”, relata Izak, contando que começou a ajudar e a aprender o ofício ainda criança, com cerca de 12 anos, quando brincava fazendo amarrações enquanto o pai trabalhava.

Naquela época, no entanto, as principais demandas relacionadas à produção de bambu em Curitiba eram voltadas para a produção de móveis e de varas de pescar. Hoje, o mercado se transformou e atua fortemente nas áreas de decoração de ambientes, bioarquitetura e bioconstrução.

“Forro de bambu é muito procurado, porque além do controle luminoso, atua muito bem no controle térmico. Também é muito utilizado para fazer revestimento em parede, porque aqueles revestimentos 3D estão na moda e o bambu não deixa de ser um revestimento 3D, né?! Divisórias de bambu, treliças de bambu… Cada vez mais ramos se abrem para a gente aplicar o bambu”, destaca o artesão.

Da alimentação à decoração: as mil e uma utilidades da planta
Considerado a matéria-prima do futuro, com alta resistência e flexibilidade, o bambu é uma planta de rápida renovação e grande captação de dióxido de carbono. No Zé do Bambu, Izak conta que já foram feitos diversos projetos inusitados utilizando o material, entre eles uma jangada e o carrinho para puxar a embarcação, arco e flecha e até mesmo joias. “Bambu tem muita utilidade. A sua criatividade é o limite para você poder aproveitar ele”, afirma

Na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), há ainda pelo menos mais um local que se destaca no cultivo e utilização de bambus. É a Fazenda do Bambu, localizada em Campina Grande do Sul e com atuação voltada para a construção civil e a utilização do bambu como alimento, com uma linha de conserva.

“Planta de bambu é comestível. Claro, existe uma série de etapas que você precisa concluir, porque ele tem toxinas. Mas parece um palmito. Minha tia mesmo faz um empadão de bambu que é bem gostoso, dá para fazer assado…”, comenta Isak.

Após recorde na importação, a tentativa de incentivar o plantio
Entre 1990 e 2020, segundo levantamento da FAO, houve aumento de 50% na área de plantio de bambu em todo o mundo. O Brasil, contudo, não acompanhou esse movimento, mantendo a espécie marginalizada e subaproveitando seu potencial econômico. A demanda pelo material, entretanto, existe, tanto que as importações de artigos de bambu bateram recorde no Paraná, que entre janeiro e setembro deste ano importou 4,3 milhões de dólares em artigos de bambu.

Para melhor aproveitar o potencial que existe nesse mercado, recentemente a Assembleia Legislativa do Paraná aprovou e o Governo do Paraná sancionou a lei 21.162, que incentiva a Cultura do Bambu visando à disseminação do seu cultivo agrícola e à valorização do bambu como instrumento de promoção do desenvolvimento socioeconômico sustentável. O Paraná, inclusive, é o primeiro estado a instituir, através de lei, um ambiente produtivo do bambu que pode ser usado em vários tipos de atividades.

Isak Ribeiro da Silva, inclusive, destaca que o bambu é uma das plantas que menos dá trabalho para ser cultivada. “Se deixar ele sem cuidado nenhum, ele não vai morrer. Ele não vai desenvolver da maneira adequada, mas ele não vai morrer. Tem de tomar cuidado para a raiz dele não crescer e quebrar a calçada, cano, coisas desse tipo, porque tem algumas raízes bastante agressivas. E é bom uma vez por ano tirar um terço dele, para abrir espaço pros novos brotos que estão vindo crescer, pegar mais claridade, se desenvolver melhor”, explica.