TELARANHA
“Instruções para morder a palavra pássaro”, livro da poeta Assionara Souza, marcou o início da história da Telaranha Edições. Agora, novos capítulos serão escritos com a Livraria & Café (Foto: Franklin de Freitas)

A semana é de festa para a Telaranha Livraria, Café & Editora. É que a empresa, criada em 2022 e que começou como uma editora independente, celebrou recentemente o primeiro mês de história de sua livraria e café, localizada em um prédio histórico e lindo no Centro de Curitiba (Rua Ébano Pereira, 269), ao lado da Savarin Music. E além da efeméride, a ocasião também é para celebrar o interesse do curitibano pela leitura, num movimento que pode ser definido como surpreendente.

De acordo com Bárbara Tanaka, sócia-fundadora da Telaranha, o movimento no primeiro mês da livraria e café tem sido “muito além do esperado”, e isso tanto por conta da movimentação intensa de pessoas que passam pelo local todos os dias para tomar um café ou comer alguma coisa como pela voracidade do curitibano pelos livros.

Na inauguração da loja, realizada no dia 13 de abril, estiveram presentes 800 pessoas. A presença massiva do público, no entanto, já era algo esperado por conta de toda a repercussão que a inauguração da nova livraria de rua do Centro de Curitiba acabou alcançando nas redes sociais e na própria mídia. O que não era esperado e acabou se tornando uma grata surpresa foi a vontade das pessoas não só em consumir café, chá ou comida, mas também em consumir livros.

“Vieram 800 pessoas [na inauguração] e elas estavam comprando livros. A gente achava que elas iam vir de curiosas, dar uma olhada nas estantes e tomar um cafezinho, mas não que iriam comprar tantos livros”, celebra Tanaka, destacando também o caráter político por trás dessa atitude leitora dos curitibanos.

“Eu acho que esse ato de você ir até uma livraria e comprar livros é também um ato político, de uma certa maneira. De falar assim ‘eu concordo, eu apoio que vocês estejam abrindo uma livraria de rua. A cidade precisa disso e eu quero demonstrar esse apoio comprando livros’. Para mim foi muito esse movimento, era isso que as pessoas estavam querendo dizer”, comenta ainda a editora e empresária, ressaltando que o movimento na loja segue intenso (em alguns momentos até frenético) mesmo após a inauguração.


“E aí a gente vê que, na verdade, as pessoas querem estar nesses espaços. Elas talvez sentissem falta de um espaço organizado dessa maneira”, emenda a empresária.

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“Eu acho que esse ato de você ir até uma livraria e comprar livros é também um ato político”, diz Bárbara Tanaka, uma das fundadoras da Telaranha (Foto: Franklin de Freitas)

Uma nova forma de organização: “Percursos de leitura”

Com relação à organização, aliás, as mesas e estantes com livros na Telaranha merecem um destaque especial. Isso porque, seguindo uma tendência que ganha cada vez mais força fora do Brasil e que já foi adotada por algumas livrarias de nicho em São Paulo, a livraria curitibana resolveu apostar em formas diferentes de organização e de experiência de leitura.

“A gente não quis organizar as estantes com simplesmente ‘literatura brasileira’ ou ‘literatura estrangeira’. A gente quis propor percursos de leitura mesmo, que as pessoas pudessem ficar realmente se perdendo ali no meio dos livros e descobrindo qual a nossa proposta na hora de organizar também”, comenta Bárbara Tanaka.

Uma das sessões de livros, por exemplo, se chama “Abya yala” (termo da língua indígena kuna, que significa “terra viva” e costuma ser usado também para se referir ao Brasil ou à América). Ali estão expostos livros de gêneros diversos, como um livro de poesia indígena ao lado de um livro de antropologia que vai tratar de questões climáticas ou mesmo de mitologia.

“A gente propôs esse percurso que são livros que têm uma boa vizinhança entre si, que falem, que toquem em assuntos sensíveis. Numa livraria mais tradicional, livros que falam do mesmo tema poderiam estar em estantes diferentes, um na de poesia e outro na de antropologia. Mas a gente quis reorganizar para que as pessoas sintam que, às vezes, o que elas estão buscando não necessariamente é o gênero fechado, mas algo que talvez elas nem soubessem que estavam buscando”, afirma Tanaka.

Uma editora que nasceu para lançar um livro. E não parou mais de crescer

Embora a livraria e café da Telaranha tenha completado um mês recentemente, a marca Telaranha já existe desde janeiro de 2022, mas como uma editora. Uma história que começou a ser escrita em 2018, quando, pouco antes de falecer vítima de um câncer aos 48 anos, a poeta Assionara Souza (uma potiguar radicada em Curitiba) deixou para Bárbara Tanaka a missão de editar seu novo livro, “Instruções para morder a palavra pássaro”.

“A editora, de certa maneira, foi criada para viabilizar esse livro também. Levou quatro anos [desde a entrega do original à editora até sua publicação] até acontecer mesmo e a partir dali tudo foi ocorrendo de maneira bem orgânica”, conta a empresária, citando que a Telaranha lançou recentemente seu 14º livro e pretende alcançar até o final do ano 20 publicações, com autores da literatura contemporânea nacional (e não exclusivamente de Curitiba).

A ideia do café com livros, por sua vez, era algo que ela já carregava desde a infância, mas que só foi amadurecer no ano passado, quando ela e seu outro sócio, Guilherme, começaram a viajar por feiras de literatura em Curitiba e outras capitais brasileiras. “Ali a gente viu um movimento muito forte, de gente bacana fazendo coisas muito interessantes e que não estão no circuito exatamente comercial. E a gente viu que em Curitiba ainda podia existir um espaço com esse tipo de publicação pessoal, que não fosse necessariamente livros best seller somente.”

Até então, contudo, não havia pressa para que os planos da livraria e café se concretizassem. Uma situação que mudou no final do ano passado, quando Tanaka viu no Instagram uma publicação da página “O Centro de Curitiba” relatando que o imóvel na Saldanha Marinho onde hoje fica a Telaranha havia sido reformado e estava disponível para locação.

“Quando vi essa postagem, marquei no mesmo dia uma visita ao imóvel e no mesmo dia a gente alugou, porque a gente entrou aqui, pisou aqui e começou a imaginar como esse lugar tinha que ser. Então o plano da livraria se acelerou por conta do imóvel, não era uma coisa que a gente tinha planos muito concretos de quando abrir. Era uma coisa que a gente ainda estava estudando e a gente acabou adiantando tudo por causa do imóvel mesmo. A gente achou a localização, a maneira como foi reformado, tudo do jeito que a gente queria e nem sabia”, conta a editora.

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Já dizia o poeta: “Antes que a tarde amanheça e a noite vire dia, põe poesia no café e café na poesia (Foto: Franklin de Freitas)

Cafés exclusivos, matchá e comida asiática

Outro destaque da Telaranha Livraria & Café, claro, é o cardápio de comidas e bebidas. A carta de cafés, por exemplo, traz todas as bebidas mais clássicas (como cappuccino ou mocha de chocolate), mas também algumas opções autorais. O matcha (chá verde) também é outra opção de bebida, seguindo uma tendência à culinária asiática que fica ainda mais evidente na parte das comidas (com opções de doces de inspiração japonesa e gyoza).

“O cardápio foi formulado pela barista e produtora de conteúdo Amanda Albuquerque, que é sucesso no TikTok e criou pra gente alguns cafés novos que tem paçoca, farofa de amendoim. E a gente quis também trazer essa inspiração mais asiática por conta da minha ascendência e da minha mãe, que é a minha sócia. Então tem um cardápio de matcha também e a parte de comidas, principalmente, que tem alguns doces de inspiração japonesa, que nem o rocambole de matcha e o rocambole tropical, que tem uma massa mais fofinha, como nas receitas japonesas. E aí tem também o gyoza, que é um prato em que a minha mãe trabalha já há muitos anos e ela trouxe pra cá como uma maneira de trazer um cardápio um pouco mais diferenciado e que foge um pouco do que a gente vê nas cafeterias”, explica Tanaka.

A Telaranha Livraria, Café & Editora funciona de segunda a sexta-feira (das 10 às 19 horas) e aos sábados (das 9 às 18).