Ainda ecoam na cabeça dos curitibanos a revolta e o espanto com os crimes que aconteceram nas últimas semanas em municípios da Região Metropolitana de Curitiba. No dia 1º de dezembro, um rapaz de 19 anos atirou e matou Tayla Michele Agner de Faria, de apenas 15 anos, durante um assalto a panificadora em Itaperuçu. No dia 3 de dezembro, uma criança de nove anos morreu após ser atingida por um bala perdida disparada por um rapaz de 17 anos durante uma festa em Araucária. Em ambos os crimes, jovens estavam dos dois lados da violência. Não é de hoje que os adolescentes são vítimas da violência e a cada ano, os casos se tornam mais comuns. Os números provam. É o que mostra, por exemplo, o estudo “Homicídios de Crianças e Jovens no Brasil”, divulgado pelo Centro de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo – um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, também conhecido como Núcleo de Estudos da Violência (NEV).  De acordo com o estudo, os assassinatos de crianças e adolescentes — de 0 a 19 anos, por exemplo, aumentaram  425,2% em Curitiba no período de 1980 a 2002. Um índice superior ao nacional,  que ficou 306%, e ao do Paraná, que ficou em 366%. No período estudado, a taxa de morte por homicídio na capital saltou de 2,65 a cada 100 mil habitantes para 13,90 — sendo que em 2002 superou a taxa nacional de 12,56.



Entre os vários dados alarmantes do estudo está a revelação que o número de homicídios entre crianças e adolescentes de 0 a 19 anos foi 16% do total de assassinatos em todo o país em 22 anos.  Curitiba também registra um aumento significativo da parcela de jovens assassinados dentro das trágicas estatísticas de mortes por causas externas — que incluem, por exemplo os acidentes de trânsito. Se em 1980, os homicídios representavam apenas 6%¨das mortes por causas externas nas capitais, em 2002, o índice mais que sextuplicou, chegando a 39,1% — um incremento considerável de 551,8% . Neste item, a capital paranaense apresenta uma curva ascendente desde a década de 80 que gerou um aumento progressivo de 551,8% : 6% em 1980, 17,2% em 1990 e 32% em 2000.  No Paraná, em 2002, os homicídios de crianças e adolescentes corresponderam a 18,1% do total de assassinatos registrados no Estado.



Para a pesquisa foram usadas informações do Ministério da Saúde e do projeto “Banco de dados da imprensa sobre as graves violações de direitos humanos”, conduzido pelo NEV, que registra casos de violência policial, execução sumária e linchamento noticiados na imprensa escrita.



Rapazes, as vítimas preferenciais
Enquanto o estudo “Homicídios de Crianças e Jovens no Brasil”, divulgado pelo Centro de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, indica um crescimento acentuado dos homicídios entre o sexo masculino na faixa etária de 0 a 19 anos em Curitiba, o assassinato de garotas da mesma idade vem gradativamente caindo.
Em 1980, o índice de rapazes assassinados era de 3,1 para 100 mil habitantes e em 2002, valor passou para impressionantes 25,5 — um incremento global de 719,3%. Já no caso das vítimas de homicídio do sexo feminino, o índice caiu de 2,2 em 1980 para 2,1 em 2002 — uma queda de 2,8%.
O estudo da universidade paulista mostra que no Brasil quase 90% das mortes entre jovens ocorreram na faixa etária dos 15 aos 19 anos, com predominância do uso de armas de fogo (59%). Em Curitiba a mesma faixa etária é a mais atingida pelo terror dos homicídios, com 46,5 de mortes a cada 100 mil habitantes dentro da população de 0 a 19 anos. As vítimas de homicídios entre 15 e 19 anos aumentaram 582% em Curitiba nos 22 anos estudados. O crime também tem feito mais vítimas nos adolescentes entre 10 e 14 anos, registrando um aumento de 12,7% nas ocorrências. Já os coeficientes de mortalidade por homicídio entre as crianças de 5 a 9 anos caíram 21,4% e 7% entre aqueles que tem de 0 a quatro anos.
A arma de fogo também aparece como principal vilã  em Curitiba com 11,3 dos casos a cada 100 mil habitantes em 2002 — enquanto na década de 80 era responsável por um índice de 1,3.
Segundo Maria Fernanda Tourinho Peres, uma das coordenadoras  “Homicídios de Crianças e Jovens no Brasil”, divulgado pelo Centro de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, há um quadro de crescimento dos homicídios em todos os Estados do país e em todas as faixas etárias, em ambos os sexos. Os números, segundo o relatório, são os maiores do mundo em países que não enfrentam guerra interna ou insurreição armada. “No período estudado, a taxa passou de 3,1 mortes por 100 mil jovens para 12,6 por 100 mil. Em números absolutos, os assassinatos aumentaram de 1.825 em 1980 para 8.817 em 2002”, disse a pesquisadora.



IBGE confirma fragilidade etária
Estatísticas do Registro Civil referentes ao ano passado, divulgadas na semana passada  pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já mostraram que do total de paranaenses do sexo masculino que morreram, 15% foram de forma violenta. O Paraná subiu de sexto, em 2004, para quarto no ranking de mortes violentas entre rapazes, de 15 a 24 anos, com 163,2 óbitos para cada 100 mil habitantes — perdendo para o Rio de Janeiro (227,4), Espírito Santo (203,2) e Pernambuco (188,2) e deixando para trás São Paulo, por exemplo, que aparece com 138 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2004, a proporção de jovem mortos violentamente era de 161,1.
Entre 2004 e 2005, a maioria dos estados teve redução na mortalidade entre os jovens de 15 a 24 anos, mas o Paraná está lista dos oito estados que tiveram aumento.