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Equipe do YoriBogo: gastronomia na onda coreana (Lívia Berbel)

Da culinária às aulas de dança, das músicas ao idioma. Quem não conhece, pelo menos ouviu falar do grande sucesso que a cultura coreana tem feito no Brasil. E Curitiba, claro, não está de fora. No último ano, inclusive, a Câmara Municipal aprovou o dia 12 de fevereiro como o Dia da Cultura Coreana em Curitiba. A lei já foi sancionada e aprovada pelo prefeito, e neste ano a data será comemorada pela primeira vez na cidade.

Mas, antes de mais nada, é importante entender que o “boom” da cultura coreana não foi totalmente orgânico nem se deu do dia para a noite. A jornada foi longa. O governo da Coreia do Sul teve um grande papel nisso no final dos anos 90. Depois das guerras e invasões que aconteceram no país, a cultura se mostrou um dos nichos fortes na Coreia. Com a crise econômica dos anos 90, o próprio Estado decidiu investir na expansão da cultura pop, o que, mais tarde, foi apelidado pela mídia de ‘onda coreana’ ou halluy.

O resultado desse investimento não foi de um dia pro outro, mas por volta de 2010 a cultura pop começou a sair da Coreia, ganhou outros continentes e hoje está se consolidando aqui no Brasil também. Em Curitiba, a cultura coreana demorou um pouco mais para chegar com tanta força, mas hoje já é notável o interesse e paixão que os curitibanos criaram.

Os restaurantes, por exemplo, são uma boa prova disso. Só no segundo semestre de 2023, dois novos abriram aqui em Curitiba, o Saiso e o YoriBogo. Os dois com propostas diferentes, mas que têm conquistado os paladares.

“Em 2017 eu fui pra Coreia terminar meus estudos, servir no exército de lá também, e voltei pra cá depois da pandemia. Quando eu voltei, percebi que as pessoas me perguntavam se eu era coreano e fiquei espantado, porque antes só perguntavam se eu era japonês ou chinês. Com isso, acabei tendo a ideia de abrir o restaurante para mostrar o que eu comi a minha vida inteira”, conta Daniel Kim, proprietário do Saiso Korean Food.

Além dele, a percepção de que a cultura coreana estava mais conhecida foi o que impulsionou a abertura do YoriBogo também. “A gente percebia esse interesse, não tem como não perceber, né? Em São Paulo, por exemplo, todo final de semana o bairro Bom Retiro fica super cheio. Aqui, nós pensamos em fazer comida mais tradicional coreana, sem “abrasileirar” tanto. E comida mais caseira também. A gente não faz tão apimentado, mas a gente tenta manter o mais original possível. Até por isso recebemos alguns nativos também, embora em Curitiba não tenha tantos ainda”, diz Young Yoon que é dono do YoriBogo junto com seu sócio Dong Lee.

“A culinária coreana tem muita história, e por isso tem tantos benefícios para a gastronomia. Fomos um país que passou fome, pobreza, e a gente comia de tudo. Por isso a nossa culinária é diversificada”, comenta Young Yoon, que nasceu na Coreia, mas mora no Brasil há 23 anos.
Lívia Berbel, sob supervisão de Mario Akira

Vídeos de músicas e séries apresentam a culinária
O interesse pela culinária parece ser um dos efeitos dos k-pops e k-dramas que fazem muito sucesso e andam lado a lado. Alguns dos fãs conhecem primeiro as músicas, outros começam pelas séries e filmes, como é o caso de Larissa Castro. A dona da Pandai Store, loja de artigos coreanos em Curitiba, conta que lá por 2017 assistiu um dorama (expressão que originalmente vem dos dramas japoneses, por causa da pronúncia do inglês, drame) pela primeira vez e foi comentar com suas sobrinhas sobre a série. Foi aí que as pequenas apresentaram o BTS, um dos grupos mais conhecidos de k-pop, e Larissa se apaixonou pelo mundinho.

Para Marjorie Soares, o k-pop chegou de primeira e há mais de 10 anos. Em 2010, a administradora foi apresentada ao MV (videoclipe) de Sorry Sorry do Super Junior, um grupo de k-pop. Desde lá, o amor pelo k-pop só cresceu. Além dos shows e eventos, Marjorie também estudou coreano e viajou para a Coreia duas vezes.

Ambas as fãs abriram lojas com artigos coreanos aqui em Curitiba. Foi a dificuldade de encontrar os artigos aqui na cidade que as levou a abrir a própria loja. Hoje, Larissa ainda mantém a Pandai Store, que vende para todo o Brasil; já a loja de Marjorie está em pausa por algum tempo, ou hiatus, que é como se chama a pausa de um artista.

Além das lojas, os eventos também têm crescido aqui na cidade. O cup sleeve, por exemplo, é um evento que reúne fãs para comemorar o aniversário de um grupo, ou um integrante do grupo. Geralmente, os fãs pagam um ingresso simbólico e recebem alguns mimos temáticos, além de conhecer novos fãs e fazer amizades.

“Você conhece outras pessoas, compra e troca itens e participa de jogos voltados para o tema do evento, como descobrir o MV, perguntas do grupo e jokenpô. E assim, tanta gente junta no mesmo lugar, que curte a mesma coisa, você sempre sai com amizades novas e o riso é certo”, conta Marjorie, que sempre participa dos cups sleeves.

Geralmente esses encontros acontecem em cafés, aqui em Curitiba a Cookie Stories tem sido um dos espaços que recebem os cup sleeves. “Notamos um aumento significativo na frequência e no número de participantes. O primeiro evento que realizamos na Cookie foi em março de 2023, e desde então, a demanda cresceu consideravelmente. Inicialmente, tínhamos um evento por mês, mas agora temos eventos semanais, com muitas solicitações chegando com até dois meses de antecedência”, diz Alexandra Camargo, gerente de Marketing da Cookie Stories.

Para Alexandra, receber esses eventos na empresa em que trabalha também é gratificante, porque a gerente é fã de k-pop há anos. “ O K-pop é muito mais reconhecido agora, mas há 10/15 anos, a realidade era completamente diferente, e quase não existiam lugares para os fãs se reunirem, muito menos eventos específicos para essa comunidade. É gratificante para mim saber que a Cookie se tornou um espaço onde os fãs se conectam de uma maneira tão única”, conta.

Com o aumento dos fãs na rede de cookies e café, a gerente de marketing conta que para esse ano eles esperam até lançar produtos específicos de k-pop e doramas.

No próximo mês, em março, a Pandai Store também está preparando um evento, o K-Pop Fest. Os ingressos ainda estão disponíveis e com mais informações no instagram @pandaistore. O evento promete ser bem caracterizado e animar os fãs.

Fala
Quer aprender coreano?

O idioma também é outro interesse que cresceu com o k-pop. Migi Lee, que cuida do Marketing do YoriBogo e é filha de um dos donos, se preparou para ser professora de inglês, mas a demanda pelo coreano a surpreendeu e a fez mudar de rumo.

“A gente nunca imaginou que ia crescer assim, mas é muito bom. A gente aprende muito com a cultura uns dos outros. Sou professora de coreano também, e o legal é que não é só uma faixa etária que procura. Já tive aluno de mais de 60 anos. Eu nasci aqui no Brasil, mas meus pais falavam sempre em coreano, então aprendi primeiro coreano, meu idioma materno, e depois portugues”, conta.

A professora acredita que a diferença na cultura é o ponto forte que conquistou os brasileiros. “Os doramas mostram bastante respeito entre as pessoas, são romances que acontecem mais “devagar” comparado ao brasil e acho que isso faz os brasileiros acharem bonitinho. As comidas aparecem bastante nos doramas, ficam bastante tempo em tela, com barulho, som, e isso ficou famoso aqui, surgiu o interesse pela comida também”, comenta.

Além do idioma, a dança também ganhou bastante repercussão. Há até estúdios, como o Offbeat Dance Studio, que têm o k-pop como especialidade e recebem mais e mais alunos. Fato é que a cultura coreana conquistou Curitiba e deve fazer sucesso por um longo tempo ainda. Dá tempo de conhecer e se encantar com tudo que ela tem a oferecer.