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O curitibano Luiz Cado comemora: após três vitórias seguidas no Brave CF, ele agora tem a chance de se tornar campeão mundial (Foto: Arquivo pessoal)

No próximo sábado (19 de abril), um curitibano pode se tornar o detentor do cinturão de uma das principais organizações de MMA (artes marciais mistas) do mundo. Nesse dia, Luiz Cado Simon, conhecido como o “Golden Boy” (ou “Menino de Ouro”), enfrenta em Tenerife, na Espanha, o russo Kamal Magomedov, lutador invicto no MMA e atual detentor do cinturão da categoria super meio-médio (até 79,3 quilos) do Brave Combat Federation (ou simplesmente Brave CF).

Empolgado, o brasileiro promete um nocaute, para brindar da melhor forma possível a conquista do título mundial. “Eu vou nocautear esse cara e vou trazer o cinturão pro Brasil”, assegura ele, mostrando confiança na árdua preparação que tem feito não só para esse combate, mas para qualquer combate.

“Eu nunca fui um cara talentoso, mas esforço sempre vai vencer o talento. E essa luta vai mostrar isso. Porque meu adversário é um cara muito talentoso, mas ninguém é mais esforçado do que eu. No sábado eu vou mostrar que um cara que veio do Bracatinga, que não teve estrutura nenhuma, não sabia de nada e entrou nesse mundo perdido, hoje está maduro o suficiente para encarar um cara, vencê-lo e me tornar o próximo campeão mundial do Brave Combat Federation”, emenda o lutador.

E a torcida, é claro, será pela conquista do título mundial pelo atleta curitibano. Só que também é importante ressaltar que, independente de qualquer resultado, Luiz Cado já é um campeão. E para entender essa afirmação, é preciso conhecer um pouco mais sua história.

Da infância amorosa às brigas de torcida

Luiz Cado nasceu em Curitiba no dia 28 de novembro de 1992. Viveu primeiramente no Caiuá, num apartamento pequeno onde também moravam seu pai, sua mãe, seu tio e sua avó. Aos seis anos de idade, foi para o Pilarzinho, na vila do Bracatinga, onde acabou sendo criado, efetivamente.

“Era uma vila bem humilde, mas ali meu pai [Claudemir Cunha Simon] já conseguiu ter uma casa própria. Era um barraco pequeno na época, agora já com mais estrutura, porque com o passar dos anos meu pai conseguiu ter uma melhora financeira e construiu uma casa legal para ele e minha mãe [Denise Aparecida Simon]”, relata o curitibano.

Junto com a irmã, Natasha Terezinha Simon, teve uma infância humilde, sem luxo, mas na qual nunca faltou nada do básico – e, principalmente, nunca faltou amor. Ainda assim, não foi o suficiente para evitar alguns percalços no caminho do curitibano.

“Fui um cara muito desgarrado da família. Porque minha família toda é muito pacífica e meu e minha mãe são pessoas muito amorosas, muito amorosas mesmo, me deram muito amor. Mas eu acabei, mesmo tendo esse amor em casa, buscando muita violência na rua. Gostava muito disso, de ser o valentão, de ser um cara agressivo quando eu era mais novo. Não me orgulho disso, mas essa é a minha história. Então brigava muito na rua, dentro do bairro, conheci outras pessoas que gostavam também e fiz amizade com elas. A gente acabava saindo na noite, brigava muito e tal. Isso também fez com que eu entrasse na torcida organizada da Império Alviverde”, conta ainda ele.

‘Entrei na arte marcial pra brigar na rua, mas a arte marcial que acabou me tirando dela’, diz Luiz Cado

Aos 13 anos de idade, então, Luiz Cado entrou na torcida organizada do Coritiba. E devido ao seu gosto pelas brigas, pela violência, acabou entrando, também, no mundo das artes marciais. “Comecei o Muay Thai, também com 13 anos, pra poder brigar na rua. Não era para poder me defender, mas para poder agredir as pessoas”, comenta ele, reconhecendo, também, que as artes marciais acabaram mudando sua vida com o passar dos anos.

“Eu fui usuário, fui dependente químico, e a arte marcial conseguiu me tirar de tudo isso. Conseguiu me tirar da rua, conseguiu me tirar da violência, até conseguiu me tirar das drogas”, afirma Luiz, explicando que hoje, aos 31 anos de idade, se diz um cara totalmente pacífico, que inclusive foge de qualquer confusão. “Eu mudei a minha vida, mudei minha história. Entrei dentro das artes marciais para brigar na rua, mas foi a arte marcial que acabou me tirando dela.”

Interesse por política e envolvimento com movimentos sociais: ‘Eu sei de onde venho’

Há alguns anos, o curitibano começou a fazer a faculdade de Direito. Não chegou a completar a graduação, embora tenha completado cinco dos 10 períodos do curso – questões financeiras, inclusive, acabaram sendo um fator impeditivo, bem como a necessidade de escolher entre o Direito e a arte marcial. Mas o período dentro da faculdade, afirma ele, acabou sendo libertador.

“A faculdade me fez despertar para muita coisa. A partir do momento que eu comecei a entender sobre a injustiça social, sobre como as leis funcionavam, como o sistema funcionava, eu abri a minha cabeça. Eu era um cara bastante machista, homofóbico, até pelo local onde eu cresci, as pessoas com quem eu convivia. Mas quando eu entendi as coisas, eu vi que não era realmente aquilo, que eu era um cara influenciado pelo meio de onde eu vivia, mas não era aquilo que eu realmente acreditava”, diz.

E da teoria resolveu começar a fazer política na prática, começando a participar de movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), do qual chegou a ser coordenador no Paraná.

Hoje, até por conta da rotina de treinos e de aulas, está mais afastado das ocupações. Mas ainda assim, garante, não se esquece de onde veio.

“A maioria dos lutadores, cara, são pessoas humildes, pessoas que batalham a vida toda pra poder alcançar uma ascensão tanto pessoal, quanto profissional e financeira. E eu não esqueço das minhas origens. Eu sei de onde venho, sei o que me foi ensinado desde criança. Mesmo meus pais não sendo pessoas politizadas, eles eram pessoas que traziam sempre tudo com muito amor, com muito carinho. Então eu aprendi a lidar assim com as pessoas, sabe? Com ternura, com amor, mesmo eu sendo um cara do estereótipo ali de cara brabo, com a orelha estourada, todo tatuado, grande, lutador. Mas é um cara que sabe chegar com ternura, com afeto, com carinho”, afirma.