Mercado criativo ganha novos atores, atrai consumidores e se fortalece no Paraná

Seja pela vontade ou pela necessidade, setor de artesanatos e artes manuais passou a atrair mais empreendedores nos últimos anos; nesta semana, evento em Curitiba promete movimentar milhões em negócios

Rodolfo Luis Kowalski

Dani Delinski começou consertando peças próprias sem pretensões: virou negócio (Franklin de Freitas)

O período de pandemia do novo coronavírus foi também um tempo de mudanças sociais e pessoais, no qual muita gente, seja por vontade ou necessidade, se aventurou no empreendedorismo e descobriu ou desenvolveu novas habilidades. E dentro desse contexto, o setor de artesanatos e artes manuais registrou crescimento em meio à crise sanitária, seguindo por um caminho que ainda hoje se mantém em ascendência no mercado.

De acordo com Emilia Aoki, que é também uma das fundadoras da Associação dos Artesãos de Curitiba (Arte Curitiba), o que acontece hoje com esse segmento da economia é reflexo das consequências econômicas da pandemia, que fez muita gente perder o trabalho e/ou ficar isolada em casa. Com isso, muita gente procurou encontrar novas fontes de renda ou maneiras de empreender que demandassem pouco investimento, o que acabou fazendo o mercado de artesanatos se sobressair.

“O artesanato é um dos segmentos que exige menos investimento, muita gente pode trabalhar até com material que já tem em casa. Na área têxtil, por exemplo, precisa de um pouco de tecido e máquina de costura para começar. O investimento é baixíssimo, tem retorno a curto prazo e a margem de lucro é boa”, afirma Aoki, explicando ainda que, além de pessoas em busca de uma fonte de renda, há muitas donas de casa que ingressam no setor ou mesmo indivíduos atrás de um hobby, que veem na arte e no artesanato uma forma de enfrentar a depressão.

“É um segmento em que a maioria trabalha informalmente, então é difícil quantificar, mas o número de pessoas é muito grande. No segmento têxtil, por exemplo, 10 anos atrás a Fecomercio contava 80 empresas no Paraná. O último levantamento, feito antes da pandemia, já mostrava que havia em torno de 800 empresas no estado, que são artesão que trabalham na área têxtil formalmente, com CNPJ”, diz ainda a artesã.

Nesta semana, inclusive, um evento que acontece em Curitiba ajudará a ‘medir a febre’ no setor. É o 10º Quilt & Craft Show, o maior e mais importante encontro de patchwork e artes manuais do país, que acontece de 5 a 8 de outubro e comemora os 10 anos do evento, que volta a acontecer depois do período de pandemia. A expectativa dos organizadores é que mais de 10 mil pessoas participem do evento, que reunirá 90 expositores no Expo Barigui e promete movimentar cerca de R$ 10 milhões em negócios.

Segundo Aoki, que é também promotora do Quilt & Craft Show, são aguardadas 80 caravanas vindas de estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de outras cidades do próprio Paraná. “As caravanas estão muito maiores que em eventos anteriores. Antes vinham 25, 30 pessoas em cada caravana. Hoje estão vindo com 50 pessoas por caravana, em média. Então esperamos que aumente bastante a visitação, o interesse do público leigo por esse tipo de trabalho e também o investimento em cursos e aperfeiçoamento. O leque de opções é muito grande, trabalhamos com quase todo tipo de matéria-prima e isso gera oportunidade para quem quer outra fonte de renda ou ainda cuidar da saúde mental. Mais que o retorno financeiro, o importante é a gratificação e realização pessoal”, finaliza a artesã.


Quando um hobby acaba virando negócio
Um movimento bastante comum de acontecer no mercado das artes manuais e do artesanato é o artista ou artesão começar a trabalhar no segmento para conseguir faturar um dinheiro extra e com o tempo o negócio acabar se tornando a principal fonte de renda da família.

Foi isso o que aconteceu com a artista curitibana Dani Delinski, que há 12 anos começou a trabalhar com costura após ganhar uma máquina de sua mãe. Inicialmente, a ideia dela, que até então não tinha experiência com essa atividade e seguia carreira como instrumentadora cirúrgica, era fazer pequenas reformas em roupas que ela já tinha em casa, sem pretensão de empreender. Na medida em que ela foi se desenvolvendo, contudo, começou a produzir suas próprias peças e a mostrá-las para amigas e conhecidas.

“Começaram a vir as encomendas e vi a possibilidade de criar um negócio”, conta a artista, que seis anos depois de começar no ramo da costura já estava deixando a carreira como instrumentadora cirúrgica para, inicialmente, focar os esforços em seu ateliê. Hoje, ela já mudou o foco de seu negócio e trabalha ensinando outras pessoas a costurar, além de possuir uma loja para vender matéria-prima a outros artistas.

“O mercado artesanal deu um boom nos últimos dois anos, muita gente começou a produzir e todo mundo foi crescendo junto. É um mercado que só cresce, não vejo caindo. Representamos um PIB de milhões para a economia, são fabricantes de produtos, tecidos, alunos, pequenos produtores, consumidores finais… É um mercado muito aquecido e hoje o público entende o valor do produto artesanal, que é algo personalizado, tem muito do exclusivo. Há um aquecimento em todas as áreas do artesanato, das indústrias aos clientes finais. É um mercado em ascensão”, comemora Delinski

No Barigui
Cursos e mostra de artesanato

O 10º Quilt & Craft Show trará cursos diversos para o público e também exposições de arte. “Muitas pessoas pensam que não têm afinidade com artes manuais, trabalhos manuais, que aquilo não é para ela. Mas oferecemos muitas oficinas gratuitas durante a nossa programação para a pessoa ter um contato, perceber que não é tão difícil e dá para fazer. Não deixem de visitar porque vale a pena”, convida Emilia Aoki. Os cursos do evento (alguns gratuitos e outros pagos) serão ministrados por renomados profissionais do segmento. As inscrições podem ser feitas pelo site https://quiltshow.com.br/cursos/. Além disso, a 10ª edição da feira também trará duas exposições de arte: “Eu vejo flores em você”, com curadoria de Estela Mota, e “Straight Quilting: transforme-se”, organizada por Bia Abdalla. A primeira mostra o trabalho de 34 artistas que resolveram colorir Curitiba com flores. A segunda conta a história de vidas transformadas através da costura