A Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba (Foto: Franklin de Freitas)

A Paróquia Sant’Ana de Abranches, em Curitiba, esteve lotada ontem. Não se tratou de um evento religioso, no entanto, mas sim de uma reunião dos Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) dos bairros Abranches e Pilarzinho. O encontro teve pauta única: os transtornos e incômodos que o Parque das Pedreiras (que inclui a Ópera de Arame e a Pedreira Paulo Leminski), um espaço público concedido à DC Set Group, tem causado à vizinhança.

O encontro, que reuniu dezenas de pessoas (entre moradores da região, autoridades públicas e representantes da concessionária), durou cerca de duas horas e teve momentos de tensão, com reclamações diversas por parte de moradores. Do outro lado, a DC Set Group, representada por Hélio Pimentel, prometeu melhorar a organização dos eventos para minimizar os impactos no entorno.

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Um dos principais pontos turísticos e culturais de Curitiba, o Parque da Pedreiras chegou a ficar fechado por um longo período, entre 2008 e 2014, por conta de disputas judiciais envolvendo moradores da região e a Prefeitura, então responsável por administrar o espaço. Em 2012 o local foi concedido ao setor privado, após uma licitação, seguindo-se uma série de reformas e melhorias que possibilitaram a reabertura da Pedreira Paulo Leminski, em 2014, e da Ópera de Arame, em 2015.

A reativação do espaço recolocou a Pedreira Paulo Leminski no roteiro dos grandes eventos (nacionais e internacionais), mas também fez retornar alguns velhos problemas envolvendo o transporte coletivo (por conta de desvios na rota do Interbairros 2), o trânsito congestionado e o bloqueio de ruas na região do Abranches e do Pilarzinho, dificultando o acesso de moradores às suas residências. Além disso, moradores também reclamaram da montagem e desmontagem de estruturas para shows nas madrugadas anteriores e posteriores aos eventos, além da realização de festas e baladas de madrugada na Ópera de Arame.

As reclamações de moradores…

Morador há 40 anos da Rua das Esmeraldas, localizada a cerca de 20 metros do Parque das Pedreiras, Antônio Vianna, aposentado do Banco Central de 67 anos, foi um dos presentes na reunião dos Consegs a se manifestar na reunião. Ao todo, os moradores tiveram cerca de 20 minutos expor suas reclamações, mesmo tempo que Hélio Pimentel teve para falar e apresentar as alegações da concessionária.

Segundo Vianna, questões suscitadas por outros moradores da região, como o trânsito e a sujeira, não chegam a lhe incomodar tanto. “Para mim, o que pega é o barulho. Quando tem shows grandes [na Pedreira Paulo Leminski], três, quatro dias antes já começa o barulho. Quando vão ensaiar, colocam o som ainda mais alto do que no show. E te evento que vão fazer e ficam colocando coisa de rave, aquilo faz até tremer a casa. Não tem como dormir, ver televisão… O melhor que fazemos é sair de casa”, diz ele, citando ainda que, mesmo tendo colocado vidro duplo na casa para impedir a propagação do som externo, ainda assim sofre. “Nos grandes shows, leva semana para montar tudo. É barulho de caminhão, gente gritando, batida de martelo, de serra… Nos grandes shows, principalmente, trabalham até de madrugada’, reclama.

Já o médico Wanderley Hygino Kowalski, de 61 anos e que quase toda a vida morou na região, relata que os eventos na Pedreira Paulo Leminski, outrora o grande problema para a vizinhança, já nem são mais o principal incômodo para ele. “A Pedreira foi feito um acordo sobre horário de funcionamento, número de shows, e isso reduziu bastante os problemas. O problema, para nós que moramos bem próximo [do Parque], tem sido a Ópera de Arame, com eventos durante a madrugada inteira. É impossível dormir e isso acontece quase toda semana, de sexta para sábado e de sábado para domingo”, afirma ele, que mora na Rua Nilo Peçanha, em relato corroborado ainda por Edison Luiz Wansaucheki, morador da João Gava. “Eles fazem raves até três, quatro da manhã, e isso folgado. Quando fazem esses shows [festas na madrugada], é de matar o caboclo.”

Além das reclamações envolvendo a forma como a DC Set Group vem administrando o espaço, no entanto, foram numerosas as reclamações envolvendo questões relacionadas também ao Poder Público, como a fiscalização de ambulantes e do trânsito na região (que fica congestionado, inclusive por conta do estacionamento irregular) em dias de shows, o bloqueio de ruas na proximidade do Parque das Pedreiras (dificultando o acesso de moradores às suas próprias casas), desvios na rota de linhas de ônibus que passam pela região (como o Interbairros 2) e o acúmulo de lixo e sujeira nas ruas após os eventos.

… E as alegações (e promessas) da concessionária

Depois da exposição inicial feita pelos moradores, foi vez de Hélio Pimentel, sócio da DC Set, se manifestar em nome da concessionária. Precursor da cena cultural curitibana, o empresário recordou que foi morador do bairro, tendo vivido na Rua Eugênio Flor quando recém-casado, no final dos anos 1970. Isso demonstraria o carinho que ele tem pela região e o apreço pelos vizinhos do Parque das Pedreiras.

Criador em 1986 da Estação primeira, precursora rádio rock do Paraná, ele recordou ainda a situação em que estava a Pedreira Paulo Leminski e a Ópera de Arame quando houve a concessão do Parque das Pedreiras, em 2012, e a evolução comercial do espaço desde então. “Nós recolocamos Curitiba no roteiro dos grandes eventos, dos shows internacionais”, disse ele, argumentando ainda que o espaço, do ponto de vista da segurança pública, causaria menos transtornos do que eventos como partidas de futebol.

Além disso, Pimentel também garantiu que a DC Set estaria investindo em equipamentos de som de melhor qualidade (também para minimizar problemas com a vizinhança) e prometeu trabalhar com sua própria equipe e também com o Poder Público para reduzir os transtornos aos vizinhos. “Acabar com o problema não vamos conseguir, ainda mais da noite pro dia. Isso tudo requer planejamento, discussões com o Poder Público… E todos os grandes espaços para shows no mundo causam algum transtorno para a vizinhança, isso é inevitável. Mas vamos trabalhar para minimizar os impactos”, prometeu.