cachaça
Morretes, 13 de dezembro de 2023 – Cachaças de Morretes no Restaurante Empório do Largo.

O mercado das cachaças está em alta no Paraná. É o que revela o Anuário da Cachaça 2024, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, o qual aponta que o estado foi a terceira unidade federativa que mais ganhou cachaçarias no ano passado. Ao todo, 10 novas produtoras paranaenses do destilado 100% brasileiro foram registradas em 2023, o que fez o total de cachaçarias no Paraná chegar a 37. E em Morretes, município localizado no litoral paranaense e distante a cerca de 70 quilômetros de Curitiba (uma hora e meia de viagem, mais ou menos), estão algumas das melhores produtoras da bebida em todo o país.

Os principais destaques da cidade são as cachaçarias Ouro de Morretes, Porto Morretes e Magia da Serra, que em dezembro do ano passado conquistaram o certificado de Indicação Geográfica (IG). Juntas, elas produzem cerca de 100 mil litros da bebida por ano e empregam mais de 30 pessoas. E também dão sequência a uma tradição já centenária na cidade.

A história da cachaça em Morretes

A história “cachaceira” de Morretes começou a ganhar força no século XVIII, durante o Brasil Império, quando Dom Pedro II determinou a abertura de engenhos centrais em algumas cidades do País. No Paraná, Morretes foi a escolhida pelo potencial na produção de cana-de-açúcar local – anos mais tarde o próprio imperador passou pela cidade litorânea e visitou um ponto de produção, possivelmente até degustando a bebida local.

Com o sucesso da bebida e a presença dos engenhos, logo os alambiques se multiplicaram. No auge da produção local, nos anos 1950, a cidade chegou a ter mais de 60 alambiques. Só que as políticas econômicas nacionais acabaram impactando a produção das décadas seguintes, que foi se concentrando em Minas Gerais e São Paulo.

Nos últimos tempos, porém, a tradição de Morretes com a Cachaça começou a ser resgatada, com uma produção menor em escala, mas focada em qualidade.

“[A cana produzida no Litoral do Paraná] É uma cana que tem uma produção menor por hectare, que também dá menos caldo, mas que tem um teor de açúcar muito alto, o que é ideal para a produção de uma boa cachaça”, comentou em entrevista recente à Agência Estadual de Notícias (AEN) o presidente da Associação dos Produtores de Cachaça de Morretes (Apocam) e proprietário da cachaça Ouro de Morretes, Sadi Poletto. “Assim como aconteceu com a cerveja e com o vinho, que criou-se uma cultura de consumo de bebidas de maior qualidade, estamos trabalhando agora com um público que aprecia uma cachaça premium”, citou ainda ele.

Cachaça orgânica: qualidade e reconhecimento internacional

As principais cachaçarias da cidade, Ouro de Morretes e Porto Morretes, já receberam prêmios em um concurso Mundial de Bruxelas, na Bélgica, e a segunda já foi eleita a melhor cachaça do Brasil. Inclusive, a Porto Morretes exporta a maior parte de sua produção para países como Estados Unidos, Canadá e Suíça.

“Já realizamos também vendas para a França e outros países. É uma bebida muito valorizada no exterior, mas ainda queremos expandir essas vendas para o mercado nacional”, explicou Fulgêncio Torres, proprietário da Porto Morretes, também em entrevista à AEN.

A cana de açúcar utilizada nas cachaças de Morretes é colhida manualmente e não recebe qualquer tipo de herbicida ou produto químico, além de obedecer a padrões de produção que garantem um produto natural e orgânico. A cana não é queimada e é lavada antes de ser moída para o uso. A fermentação da bebida chega a durar cerca de 25 horas e o processo de destilação leva cerca de três horas, o que garante uma cachaça com baixa acidez, além de não receber açúcar. O líquido é armazenado em alambiques de cobre e todo o processo é acompanhado por um profissional especializado, que segue rígidos padrões de produção.

Certificado de Indicação Geográfica

No início de dezembro do ano passado o o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) reconheceu a aguardente de cana e a cachaça de Morretes como mais um produto com Indicação Geográfica (IG) do Paraná. A certificação contempla as três cachaçarias da região que se comprometem a produzir a cachaça em alambiques, abrindo mão do processo industrial em grande escala e seguindo parâmetros rígidos de rastreabilidade do produto. O modelo preserva as características que fizeram da bebida produzida no litoral do Paraná uma referência nacional.

“Existem dois tipos de cachaça: a cachaça industrial e a cachaça de alambique, que é a que nós produzimos aqui em Morretes. Além deste processo mais cuidadoso, nós também temos um terroir único aqui no Litoral, estamos praticamente no nível do mar, na encosta da serra, com um solo especial, então isso também resulta em uma cana especial”, explicou o presidente da Apocam, Sadi Poletto.

Vizinha Antonina também entra na “brincadeira”

Além de Morretes, o município vizinho de Antonina, também no litoral do Paraná, está iniciando uma tradição cachaceira. Prova disso é a Cachaçaria Estação Antonina, que no ano passado produziu cerca de 50 mil garrafas de cachaça de quatro tamanhos diferentes. A aguardente, inclusive, é vendida como lembrança turística do Paraná e não só na sede da empresa, em Antonina, mas também em pontos como as lojas de souvenires do Jardim Botânico, da Ópera de Arame e do Restaurante Madalosso, em Curitiba. É possível experimentar as bebidas aromatizadas com produtos como banana, limão, mel e café.

Hidromel morretense e chopp de framboesa do interior do Paraná

No Centro histórico de Morretes, os visitantes ainda poderão encontrar algumas outras interessantes e inusitadas opções alcoólicas. Por exemplo, saindo do estacionamento próximo da Igreja Matriz e entrando na Rua General Carneiro, uma das mais movimentadas e turísticas vias morretenses, já é possível se deparar com a banca de Ned Corrêa. Ali é possível degustar alguns licores de cachaça (que não são produzidos na própria cidade, entretanto), algumas opções de hidromel de produção própria e chopps do interior do Paraná – com destaque para um curioso e delicioso chopp de framboesa produzido em Arapongas, no norte do Paraná.

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Ned Corrêa e sua banca no Centro de Morretes: chopp de Arapongas e hidromel produzido localmente (Foto: Franklin de Freitas)