Em dez anos, mortes por obesidade triplicam no Paraná

Hospitalizações por conta da doença tiveram uma alta ainda maior, de 588,28%

Rodolfo Kowalski

O número de pessoas que perderam a vida por causa da obesidade e outras formas de hiperalimentação registrou uma verdadeira explosão em um período de dez anos no Paraná. Levantamento feito pelo Bem Paraná com base em informações do Datasus revela que entre 2003 e 2013 o número de pessoas que morreram por causa da obesidade mais do que triplicou, registrando um crescimento de 229,4% no estado. Já as hospitalizações por conta da doença tiveram uma alta ainda maior, de 588,28%.

Em 2013, último dado disponível, 224 pessoas perderam a vida por conta da obesidade. Em 2003, haviam sido 68. Somente em Curitiba, o índice de mortes saltou 138,5%, passando dos 26 casos registrados doze anos atrás para 62 em 2013. No mesmo período, a variação em todo o Brasil foi de 147,22%. Especialistas, porém, garantem que os dados são subnotificados.

O excesso de peso é fator de risco para diveros tipos de doença, como câncer e diabetes. Portanto, o número de vítimas da obesidade certamente é muito maior, mas são vítimas indiretas. Na medicina costumamos falar em comorbidade, que é quando há uma coexistência de doenças, explica o clínico geral Wanderley Higino.

As causas mais comuns de morte relacionada à obesidade, segundo o endocrinologista Fabiano Lago, são as doenças cardiovasculares, como o enfarte e o acidente vascular cerebral. Por si só, a obesidade é um fator de risco cardíaco e aumenta a prevalência de outros fatores de risco, como diabetes tipo 2, hipertensão e lipidemias, que aumentam a quantidade de gordura no sangue. E a obesidade também está relacionada com outras doenças, como problemas ortopédicos, apneia do sono e alguns tipos de câncer, afirma.

Segundo o Ministério da Saúde, o aumento das mortes é um reflexo da epidemia de obesidade registrada hoje no país. Uma pesquisa divulgada pela revista científica Lancet em maio do ano passado apontou o Brasil como o 5º no ranking mundial, com 60 milhões de pessoas acima do peso e 22 milhões de brasileiros considerados obesos. Já a pesquisa Vigitel 2014 mostrou que mais da metade da população adulta de Curitiba (54%) está com excesso de peso, e 19% está com obesidade. Em 2006, o sobrepeso tinha índice de 44,1% e o de obesidade, 12,6%.

Não à toa, o Paraná é hoje o estado com o maior número de hospitalizações por causa da obesidade, ficando à frente até mesmo de São Paulo, que possui uma população quatro vezes maior. Entre 2003 e 2013, o índice de hospitalizações disparou 287,64% no estado, com o número de atendimentos passando de 512 para 3524. Em Curitiba, essa alta foi ainda mais assombrosa: 588,28%, saltando de 259 atendimentos para 1004.

Para Lago, porém, os índices não surpreendem. Como endocrinologista, eu noto no consultório que a prevalência da obesidade vem aumentando. E com isso aumentam também as doenças que andam junto com a obesidade, diz o médico, que aponta as mudanças nos hábitos da população, segundo ele cada vez mais parecidos com o dos Estados Unidos, como a grande vilã da historia.

Estamos comendo em fast foods com mais frequência e em porções cada vez maiores. Para piorar, a insegurança faz com que as pessoas tenham medo de sair de casa para fazer exercício. O crescimento das redes sociais também faz com que a pessoa fique mais tempo parada na frente do computador, assinala. Mas não é somente a mudança de hábitos dos brasileiros que fez aumentar a mortalidade por obesidade. De acordo com Lago, as políticas públicas de prevenção são praticamente inexistentes, enquanto o tratamento ainda tem muito o que melhorar.

Pelo SUS você dificilmente vai conseguir se tratar. Tanto uma consulta clínica com um especialista como um tratamento cirúrgico leva até dois anos para conseguir. Hoje, até por convênio a consulta com um especialista pode demorar meses, finaliza.


Mulheres são maioria nos atendimentos

No Estado, as mulheres são maioria nas hospitalizações e nos óbitos por conta da obesidade. Nos atendimentos, inclusive, elas são a esmagadora maioria. Em 2003, quando foram registradas 68 mortes por obesidade, exatamente metade das vítimas eram mulheres. Dez anos depois, esse índice já havia saltado para 57,59%.

Já quanto aos atendimentos, elas se destacam ainda mais. Em 2013, elas responderam por 88,66% das hospitalizações, um crescimento de 4,68 pontos percentuais na comparação com dez anos antes.

Outro dado interessante é que as hospitalizações de pessoas mais jovens por conta da obesidade tem crescido no Paraná. Em 2003, 50,39% dos pacientes atendidos possuíam entre 15 e 39 anos. Dez anos depois, esse índica chegou a 56,52%. O crescimento da obesidade está acontecendo entre os mais jovens. Eles estão criando todas as condições para se tornarem um adulto obeso, afirma o endocrinologista Fabiano Lago.

 

Óbitos por obesidade

 

ANO

 CURITIBA

 PARANÁ

 BRASIL

2003

26

68

902

2004

33

97

983

2005

39

102

1083

2006

33

110

1304

2007

35

125

1408

2008

38

140

1532

2009

66

188

1736

2010

70

173

1762

2011

77

210

2031

2012

83

208

1996

2013

62

224

2230

TOTAL

562

1645

16967

       

Hospitalizações por obesidade

ANO

CURITIBA

 PARANÁ

 BRASIL

2003

259

512

3817

2004

226

557

3878

2005

213

634

4574

2006

173

628

4646

2007

191

893

5417

2008

372

1116

4984

2009

726

1629

6019

2010

863

2280

7016

2011

926

2679

7841

2012

937

2960

8615

2013

1004

3524

9816

2014

860

3473

10122

2015*

226

998

2778

TOTAL

6976

21883

79523

*Dados até abril de 2015